O annoni não se importa com os tipos de solo e nem mesmo com o frio intenso do Rio Grande do Sul. Em pleno inverno gaúcho, os brotos estavam cheios de vigor. O capim que foi trazido da África na década de 1950 como uma alternativa forrageira se mostrou uma praga indomável.
– Ele se adapta a qualquer tipo de solo. Ele tem um pouco mais de dificuldade onde é mais úmido, com drenagem mais deficiente, tanto é que ele vegeta até no asfalto, na beira de estrada, com bastante pisoteio. Por ser uma espécie que evolui no solo com baixa fertilidade, o annoni encontra ambiente favorável em todo tipo de solo – explica o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul Naylor Peres.
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No asfalto, as mudas vão se multiplicando como se estivessem em terra fora. O produtor rural do município de Dom Pedrito José Armando Nogueira sabe muito bem a força que tem o capim annoni.
– Se puser fogo, rebrota. Se cortar, vem com mais força. Se cair uma semente no cimento do galpão, ela nasce – resume Nogueira.
De aparência inofensiva, de folha bem fininha, mas com uma raiz muito forte. Segundo Naylor Peres, essas raízes profundas conseguem extrair mais água e nutrientes do solo, o que afeta as outras plantas que estão em volta. As sementes do annoni ficam por até 15 dias no trato digestivo dos animais e são transportadas também pelos cascos e pelos bovinos. Não existe um levantamento oficial sobre o tamanho do prejuízo causado, mas estima-se que cerca de 500 mil hectares de pastos no Estado já foram atingidos, em maior ou menos proporção.
– As pesquisas realizadas até agora mostram que a partir de 35% a 40% ele já traz prejuízo para o animal. O animal acaba enfrentando mais dificuldade e perde tempo em procurar outras espécies, e ele abandona o pastejo seletivo e acaba consumindo o annoni – comenta Peres.
Em alguns meses do ano, dependendo da idade da planta ou a falta de opção, o gado come o capim annoni. Além dele não ter um valor nutritivo interessante, por ser muito fibroso, ele machuca a boca dos animais, o que atrapalha a ingestão de outros alimentos.
-Partes das folhas, que são bem finas, acabam ficando entre os dentes e traz gengivite e, muitas vezes, com a perda da dentição, o animal vai perdendo a capacidade reprodutiva, no caso das vacas. Isso traz prejuízo pelo baixo desempenho dos animais – alerta.
Naylor Peres faz parte de um grupo que se dedica às pesquisas sobre o controle e a prevenção do annoni. E foi dessas pesquisas que surgiu um aplicador seletivo de herbicida. Dentro da fazenda experimental da Embrapa já é possível ver a diferença entre os piquetes tratados e os que não sofreram nenhuma interferência. Outra opção é aliar o uso da máquina com o cultivo de pastagens de boa qualidade para que o annoni perca força.
– Com o passar do tempo, vão ocupando esses espaços e, gradativamente, a gente vai poder deixar de culturas essas espécies anuais e sempre com metas de adubação que permita ter um bom crescimento das espécies. Também não dá para pensar só em controlar o annoni sem dar condições para outras espécies se desenvolverem adequadamente – afirma o especialista.
O produtor rural João Augusto Rubim conseguiu vencer o capim invasor. Há 15 anos, quando comprou uma propriedade em Bagé, tudo era tomado pelo annoni. Com a integração lavoura-pecuária conseguiu limpar todas as áreas da fazenda.
– A produção de carne em cima do annoni é muito inferior, dá 80 a 90 kg por hectare. Com pastagem cultivada, dá 600 a 700 kg, então é decisão de eliminar e colocar pastagem de qualidade – explica Rubim.
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