A diferença é incrível, principalmente em relação ao temperamento dos animais, que na última passagem pelo brete vão tranquilos, reconhecendo o ambiente, pronto para serem manejados. E tudo foi feito sem gritos, sem violência, apenas com o uso de bandeirinhas.
Essa é apenas uma das práticas do chamado manejo racional, que há seis anos vem sendo utilizado nas cinco fazendas de Miguel Illescas, na região de Porangatu, extremo norte de Goiás. Primeiro, foram implantadas cercas elétricas em todas aas fazendas, com sistema rotacionado de pastagens. Depois, toda a equipe de pecuária – um total de 18 funcionários – foi treinada.
– Antes, era na base do grito e do cacete. Hoje, a gente aprendeu que é diferente. O manejo racional mudou muito a nossa mente para trabalhar com o gado – afirma Márcio Ferreira Coelho, capataz da fazenda.
Além do treinamento dos funcionários, a estrutura da propriedade também vem sendo adaptada para o manejo racional. Um curral que acaba de ficar pronto teve um investimento de R$ 90 mil.
– Para desmontar um curral e começar ele do zero, é muito caro. Então, tentamos adaptar para o manejo racional. Usamos as bandeirinhas. Ninguém grita, ninguém xinga, ninguém bate – diz o capataz.
A porteira giratória também evita o contato da peonada com o gado. E os resultados vão além da mansidão dos animais. Esse tipo de manejo evita acidentes e hematomas, e, consequentemente, o rendimento de carcaça é maior.
– O gado fica muito mais manso. Apesar de gostarmos muito de mexer com o boi, dá muito mais prazer mexer com ele no curral – afirma o pecuarista Nathan Palhares.
Outro bom exemplo encontrado no sudoeste goiano, em Rio Verde. O confinamento visitado pela equipe, que termina até 30 mil animais por ano, adota o manejo racional desde 2006. O curral antiestresse, de modelo australiano, tem brete de contenção que imobiliza os animais na hora da marcação e aplicação de vacinas, corredores de concreto e proteção de grade no alto, para evitar pulos. Além disso, um sistema de irrigação na área de cochos evita o estresse térmico da boiada. Todos os funcionários também recebem treinamento de um técnico. E os benefícios são vistos na prática.
– Não há hematoma no embargue, nem estresse na chegada. Você consegue fazer muitos animais em tempo mais curto, sem estar com pressa – afirma o proprietário do confinamento, Carlos Kind.
Iniciativas simples fazem a diferença quando o assunto é bem-estar animal. Na Fazenda Indaiá, em Paraíso das Águas (MS), foram implantados há um ano módulos de sombreamento em meio à área de pastagem. São ao todo 12 módulos, de um hectare cada, com plantação de eucalipto nas extremidades, para fornecer sombra ao gado e melhorar a produtividade do rebanho.
– Os eucaliptos estão com 12 meses. Não estão preparados ainda para receber a movimentação dos animais. A partir do 24º mês, vamos abrir essas áreas e os animais vão ter acesso à sombra – afirma o gerente da fazenda, Clóvis Garcia Júnior.
O aroma de eucalipto no ar também chamou a atenção durante a visita ao confinamento da Fazenda Missões, em Campo Novo do Parecis, médio-norte de Mato Grosso. A ideia de montar um confinamento sombreado surgiu há cinco anos, para melhorar os resultados da engorda.
– Sempre tivemos essa preocupação de o animal estar totalmente exposto ao sol. Lembramos do eucalipto, que tem um crescimento rápido, um investimento que não é tão alto e dá sombra e conforto aos animais. E essas árvores também estão aí, sequestrando carbono, cumprindo a parte ambiental – afirma o agropecuarista Dalmar Rolim.