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Monitorar pragas ajuda produtor a fazer aplicação de inseticida na hora certa

Uma correta aplicação de inseticida é fundamental para conseguir a maior cobertura possível em uma só pulverizaçãoA incidência de percevejo na cultura da soja está avançando no Brasil e o produtor precisa estar atento para o combate à praga. Um monitoramento adequado é a receita para o agricultor ficar mais seguro na hora de tomar decisões na lavoura e saber o momento adequado para entrar com a aplicação do inseticida.

Em Tupanciretã, município com a maior produção de soja do Rio Grande do Sul, o engenheiro agrônomo e produtor Roberto Mascarenhas enfrentou sérios problemas com o percevejo na safra 2008. O agricultor, que trabalha com produção de sementes, não podia admitir uma infestação do inseto que provoca tantos danos e prejuízo, embora fosse em uma área isolada da propriedade.

– Nós tivemos até nas bordaduras encostadas de mato. Chegamos a contar até 10 percevejos por pano de batida. Foi realmente preocupante. Nós conseguimos controlar, mas com muitas aplicações. Aí tem o problema de custo de produção, de ambiente, então não tem porque entrar com tantas aplicações quando a gente pode tentar desenvolver uma metodologia para facilitar o controle – afirma Mascarenhas.

O problema virou objeto de estudo. Sob a orientação de um professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Roberto Mascarenhas passou a monitorar a área com rigor, para saber como agir em caso de problemas na safra seguinte.

– Queríamos realmente descobrir qual era a dinâmica daquela população de percevejo, a taxa de aumento das gerações, e como a gente ia se posicionar no início do controle. Descobrimos que o início do controle tem que ser sempre antecipado. Sempre. A pesquisa sempre disse que seria a partir da fase reprodutiva, mas com o trabalho desenvolvido vimos que se deixar a terra em produtivo, a população aumenta de tal forma, porque nenhum produto no mercado hoje existe o controle 100%. Então se tiver uma infestação relativamente alta no reprodutivo, entra como controle. Sobra dois, três. Eles se reproduzem, aumenta a população e aí acontece que a gente diz: que o vô tá enxergando o neto, quando o vô tá enxergando o neto é quase que impossível o controle – diz o produtor.

A dinâmica do percevejo foi sendo compreendida com a ajuda da universidade.

– Porque cada ponto tinha quantia de insetos. Então conforme o tempo ia passando ele ia aumentando, se disseminando. E a gente descobriu da onde vinha, de onde começava. Quais eram os pontos críticos da lavoura, as bordaduras, as beiradas de mato. Com isso, o outro ano a gente já começava o controle bem antes, com o monitoramento nessas áreas de risco que são novas áreas sentinela – comenta.

O trabalho realizado na propriedade, além dos resultados para o controle, acabou gerando uma tabela, que é utilizada até hoje para o acompanhamento da lavoura. O monitoramento é feito semanalmente.

O monitoramento de áreas é feito por talhão, desde a emergência da cultura, com o acompanhamento de estande, pragas secundárias, pragas principais e doenças. A tabela é composta pelo nome comum, nome que o produtor conhece e o nome científico de cada inseto, de cada praga. Ao chegar na lavoura, tem uma coluna semanal e o técnico que estiver a campo vai fazer o levantamento de que pragas encontrou. Depois disso, é feita a digitalização e o arquivamento no escritório.

Atualmente, o inseto está controlado. O professor Jerson Guedes, da UFSM, que ajudou na definição do nível de dano para o tratamento na área de Roberto Mascarenhas, explica que o prejuízo do percevejo para os produtores de semente é ainda mais grave.

– Há uma redução de 280 kg para cada quatro percevejos por m². O número de quatro percevejos por metro quadrado ou 40 mil percevejos por hectare é capaz de reduzir 280 kg segundo os resultados de um experimento de 1990. Para os produtores de semente, esse impacto sobre a qualidade, ou seja, entre o vigor e a germinação das sementes é muito importante. Também os percevejos reduzem o peso de grãos – explica Guedes.

A presença de um percevejo por metro quadrado equivale a 10 mil percevejos por hectare. Existem diferentes estudos, mas o levantamento realizado pelo professor Guedes apontou um prejuízo de mais de uma saca por hectare.

– Embora não haja uma distribuição uniforme dos percevejos por unidade de área, mas uma média é possível fazer. Óbvio que existem locais onde há cinco percevejos, onde há dois percevejos, mas a média é de quatro percevejos, segundo esse resultado produz essa redução de 280 kg. Com o resultado adicional do mesmo experimento mostra que quando havia um percevejo por metro quadrado, houve uma redução de 70 kg de soja por hectare. Portanto, um por metro quadrado, 10 mil percevejos por hectare e mais uma redução de 70 kg de soja por hectare – acrescenta o docente da UFSM.

Levando em consideração o prejuízo levantado pelo professor, é preciso realizar uma conta para chegar ao nível de dano econômico – ou seja, a partir de quantos insetos vale a pena o produtor iniciar o controle químico.

– O nível de dano econômico é um valor que relaciona o custo do controle e o dano do percevejo. Então é um dano relacionado a uma população do percevejo, um número obtido através de uma equação que deve guiar o momento a partir do qual o produtor deve controlar, ou seja, a partir de que população passa a perder dinheiro e essa população se não tiver na área de soja. Este valor não pode ser fixo, esse valor tem que variar. A equação de nível de dano econômico relaciona o custo do tratamento, custo do controle. Ou seja, a soma do serviço mais o inseticida, o valor de quanto ele produz de soja e o valor da soja – diz Jerson Guedes.

A conta muda de ano para ano, pois o preço dos insumos varia, bem como o valor pago pela soja e até mesmo a produtividade de cada área.

– A relação nunca é fixa, porque ao longo do tempo esse custo do controle pode alterar e também especialmente a produção de soja se alterou nos últimos anos. Hoje se produz muito mais soja e hoje a soja vale muito mais do que valia nos anos de 1990, quando se estabeleceu aqueles números fixos de quatro e dois percevejos por metro quadrado. O detalhe dessa equação mostra que se nós atualizarmos esses valores nós podemos até estipular que o custo do tratamento pode ser o mesmo, pode ser maior, pode ser menor, mas o denominador da equação mostra um crescimento da produtividade só com a soja nos últimos tempos – afirma Jerson.

Veja a comparação entre dois cenários distintos – dos anos 1990 e dos anos atuais:

– Podemos construir cenários comparando os anos de 1990 com a atualidade. Vamos mostrar a produtividade média de 30 sacos de soja, equivalendo em torno de R$ 20 atualizados e somando então uma rentabilidade de R$ 600 por hectare. Esse é o divisor da equação dos anos de 1990, e mostrando para que essa realidade o nível de dano econômico dos percevejos para os anos 1990 devia estar próximo a 2,6 percevejo. Nem na época seria quatro percevejos por metro quadrado. Esse cenário atualizado mostra que para um custo de controle também de R$ 30 e uma produtividade de 50 sacos de soja por hectare e o valor de um saco de soja em torno de R$ 65 produz um denominador da equação muito maior do que aquele e um custo do controle idêntico. Isso daria um novo início de dano econômico para percevejo em torno de 0,37, ou seja, menos de meio percevejo por metro quadrado ou menos de cinco mil percevejos por hectare produziriam uma redução da produção de soja capaz de pagar o controle. Isso muda o cenário do percevejo completamente. Os dias de hoje não são comparáveis aos anos de 1990 com relação ao valor da soja, embora o dano produzido 1 kg passa a ser o mesmo – explica Guedes.

– Considerando o valor dos anos 2010 muito baixo o nível do dano econômico para percevejo, menos de meio percevejo, nós podemos adicionar algumas variações a esse cálculo, ou seja, estabelecer que a soja valha menos ou mais que R$ 65 e também estabelecer o valor variável do controle. Por exemplo, considerar que o produtor vai fazer duas aplicações somando R$ 50 a essas duas aplicações. Mesmo nesse cenário de duas aplicações, que somadas valem R$ 50, e uma soja R$ 65, assim mesmo o nível de danos dos percentuais dos percevejos seria em torno de 0,62 percevejos, ou seja, um pouco menos de um percevejo já pagaria o controle.

O monitoramento é tarefa importante para o controle do percevejo. Este é, segundo o professor, um dos pontos que podem fazer a diferença para o sucesso da lavoura.

– O acompanhamento da população dos percevejos deve ser um dos pilares do manejo de percevejo, ou seja, nós tivemos que conhecer a população de percevejos ao longo do tempo. Não só na cultura principal, que é a cultura de soja, mas também saber como essa população se comporta na entressafra nos cultivos de inverno, verão, primavera e também no espaço físico em torno das lavouras. Nós precisamos monitorar essas populações e a pessoa responsável pelo acompanhamento populacional é o monitor de pragas – diz Guedes.

A técnica mais usual para esse monitoramento é a batida de pano.

– Hoje, na cultura da soja, nós utilizamos o monitoramento através da técnica “pano de batida”. Esse pano tem 1 metro de comprimento por 1 metro de largura. O amostrador entra na lavoura de soja, com cuidado, ele deve abrir o “pano de batida” na entrelinha da soja onde, com cuidado, ele irá abrir esse pano e fazer a batida somente em uma fileira da cultura da soja. Após essa batida ele deve contar o número de percevejos e continuar a amostragem – explica o responsável pelos laboratórios de pesquisa da Syngenta Brasil, Norton Rodrigues Chagas Filho.

Na propriedade de Mascarenhas, os responsáveis seguem à risca as orientações para monitoramento. A anotação é feita na própria tabela que eles desenvolveram.

– Semanalmente é passado por todos os talhões e a gente faz o acompanhamento voltado ao percevejo, e com esse acompanhamento a gente tem um acompanhamento da área, acompanhamento de cada talhão, e também conforme a evolução de populações, regressão na população. E, principalmente, o que a gente foca mesmo, que é a eficiência do nosso manejo em cada talhão – ressalta.

As áreas para o monitoramento, ou seja, da batida de pano, precisam ser bem definidas, para que seja um retrato mais fiel à característica média do talhão.

– Tem uma quantidade de pontos a serem amostrados de acordo com a maioria das áreas. Estima-se que entre 15 e 17 pontos de áreas em torno de 100 hectares são suficientes para estimar o número de percevejos em uma área.

Após as contas na ponta do lápis e o monitoramento da plantação, vem o passo seguinte: o controle. O sucesso na aplicação de inseticidas depende da definição do momento e da correta pulverização.

_ O controle de percevejos deve ser feitos por pulverizadores na parte áerea das plantas. Hoje, o mercado dispõe de algumas alternativas para o controle de percevejos. Existem os piretroides para o controle de percevejos e os neonicotinoides. Então esses dois últimos grupos são os produtos mais importantes para o controle de percevejo. A maior parte da soja no Brasil é baseada no controle em produtos que misturam os neonicotinoides e piretroides. Dois grupos distintos de inseticidas que dão a esses produtos características muito importante, que são controle da população no momento da aplicação e uma ação mais lenta, que dá um residual de uns dias para o controle dessas populações. As misturas piretroides e os neonicotinoides são o padrão de controle dos percevejos – reforça o professor Guedes.

– São poucas alternativas. Existe a possibilidade de lançamento de produtos para percevejo, mas que estão muitos distantes no tempo. Então, não vai haver grandes novidades para o controle percevejos, o que nos indica que a gente deve melhorar o manejo do percevejo.

Uma correta aplicação de inseticida é fundamental para conseguir a maior cobertura possível em uma só pulverização. Portanto, observar temperatura, umidade do ar e ventos colabora para uma maior eficiência. E, é claro, observar a condição da máquina que irá aplicar o produto na plantação.

– O grande cuidado hoje da pulverização é em relação a verificar se todos os bicos estão funcionando adequadamente, se a pressão do pulverizador está adequada com o volume de aplicação e, além disso, o agricultor deve ficar atento às condições edafoclimáticas da região, ou seja, do dia, aplicar somente quando tiver a velocidade do vento entre 5 a 10 km/h, umidade relativa do ar acima de 55% e evitar períodos mais quentes do dia. Temperatura acima de 30 graus irá prejudicar a pulverização no controle do percevejo – explica o representante da Syngenta Brasil.

O trabalho desenvolvido na propriedade de Mascarenhas depois de um ataque severo de percevejos, em 2008, vem servindo de apoio para diversos produtores, que usaram as informações levantadas durante o episódio para controlar a população de insetos nas suas lavouras.

– A gente acredita que sim, e a gente torce que sim, porque inclusive depois de algum tempo o professor conseguiu que esse trabalho fosse publicado em uma revista que não fosse somente científica, uma revista que chega aos agricultores, uma revista do plantio direto. Então, foi divulgado esse trabalho da dinâmica de população e eu espero que aquele agricultor que é curioso, e que busca sempre melhorar em todos os aspectos, que busque a informação e que esse trabalho tenha sido aliado para o produtor, vamos dizer assim – diz o proprietário.

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