A equipe do projeto Rota da Pecuária visitou algumas fazendas certificadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e foi conferir se vale a pena manter um rebanho rastreado atualmente.
A visita da Rota da Pecuária à Estância VIC, em Hidrolândia (GO) coincidiu com o dia em que 234 cabeças recém chegadas à propriedade recebiam o brinco do Sisbov. O rebanho, de aproximadamente 1,1 mil cabeças, é rastreado desde 2009. Mas, à medida que novos animais chegam, é preciso que eles também passem a ser controlados.
Para que uma fazenda seja credenciada pelo Mapa e integre a lista para exportação, a principal exigência é o rastreamento de 100% dos animais. A identificação é feita de acordo com idade, raça, sexo e peso. Cada cabeça recebe um número de identificação, específico de cada propriedade.
Segundo as regras da União Europeia, depois de identificados e de receberem o brinco, os animais precisam passar pelo menos 90 dias na propriedade antes do abate para que a carne seja exportada. Como ao confinamento de Hidrolândia também chegam animais de outras propriedades já certificadas, o período de noventena acaba reduzido para 40 dias.
– A alegação é a questão da febre aftosa. Se o animal tiver algum problema sanitário, ele já manifesta na propriedade, durante o período de 90 dias – afirma o consultor em rastreabilidade Evandro de Carvalho Lopes.
Lopes presta consultoria para produtores em Goiás, Estado que concentra o segundo maior número de fazendas certificadas pelo Sisbov no Brasil, 418, atrás de Mato Grosso, onde 429.
Qualquer acontecimento no rebanho – como óbitos, nascimentos e a entrada de novos animais – deve ser informado ao Mapa. E as vistorias são freqüentes.
– Para receber o título de estabelecimento rural aprovado no Sisbov, a propriedade precisa ser auditada pelo ministério e pela certificadora – afirma Lopes.
O pecuarista César Leite Santanna pretende manter a rastreabilidade na fazenda e inclusive adotar o chip eletrônico. Mesmo com uma remuneração bem abaixo do esperado.
– Os números são bons para a qualidade, para as implementações da fazenda. Mas, nos últimos dois anos, o preço que se paga por arroba de animal rastreado varia de R$ 2 a R$ 3. Mas já chegaram a pagar R$ 10 – afirma Santanna. Na Fazenda Água Limpa, em Britânia, no Vale do Araguaia, o rebanho é rastreado há cinco anos. O proprietário Antonio Celso Lopes explica que nem sempre a Europa é o principal destino da carne produzida pelas fazendas credenciadas.
– Com a crise, a exportação para a Europa está muito restrita. As fazendas exportam muito para o que chamam de lista geral, que inclui a Ásia – diz Lopes.
O baixo retorno financeiro e os altos custos desestimularam muitos pecuaristas nos últimos anos. De 2010 para cá, a lista de propriedades credenciadas no Sisbov, segundo o próprio Mapa, reduziu em 23%, caindo de 2218 para 1713 estabelecimentos rurais.
O controle é uma das grandes vantagens do sistema. Ele permite que se conheça toda a trajetória de um animal, desde o nascimento até o abate.
– O consumidor final, na gôndola do supermercado, quando lê o código de barras, ele sabe a origem. A carne, apesar de ser uma commodity, tem marca. A nossa expectativa é de que, com o crescimento do consumo e do poder aquisitivo, isso vai ser cada vez mais valorizado – afirma Lopes.