A unidade da Caramuru Alimentos, localizada em Rio Verde (GO), recebe 35 mil toneladas de soja por ano, em média. O ideal seria receber um produto uniforme, sem manchas e com o interior claro. Mas nos últimos anos não é o que vem acontecendo. A soja danificada por percevejo vem sendo cada vez mais comum.
– Ninguém queria esse tipo de defeito, mas é um cuidado que a gente tem que ter, porque é uma coisa que parece pouco, mas pode ser muito grande para toda a cadeia do produtor. A gente está percebendo nesses últimos cinco anos que está crescendo esses tipos de grãos danificados por insetos sugadores, insetos da soja – comenta José Ronaldo Quirino, gerente de armazenagem e classificação da empresa.
O problema provocado pelo percevejo não está só no dano visível, na hora da classificação. As toxinas injetadas pelo inseto no grão podem provocar a fermentação da soja durante a armazenagem.
– Se ele tiver algum problema de armazenagem, ele vai passar a fermentar. Aí o desconto passa a ser um para um, ou seja, o peso multiplica por quatro. Então é preciso tomar muito cuidado, tanto o armazenador quanto o produtor que armazena. E a indústria terá mais custo no tratamento da acidez e clareação do óleo. E isso vai onerando todo o custo de produção – alerta Quirino.
O que vêm preocupando alguns pesquisadores é o dano que o produtor não vê. Existem grãos chochos ou não-desenvolvidos que nem chegam a entrar na colheitadeira, por conta do ataque do percevejo.
– É o principal dano do percevejo para o produtor é que ele não deixa o grão ser formado. Esse chochamento na fase inicial de enchimento de grãos R5.1, R5.2 e R5.3, onde estão bem na fase inicial do grão, o percevejo se alimenta desse grãozinho em formação e não deixa que ele se forme. No momento da colheita, essas sojas atacadas serão descartadas junto com a casca da vagem, e o produtor não tem noção de quanto ele perde no momento da colheita – explica a coordenadora do Laboratório de Entomologia Agrícola da Universidade de Rio Verde, Jurema Rattes.
Em Mato Grosso, a Fazenda Guarita, localizada em Rondonópolis, recebeu da indústria um alerta sobre a presença de grãos danificados. A partir disso, passou a dar mais atenção ao inseto.
– Na lavoura se você não vê a olho nu, você precisa cortar o grão para saber o índice de percevejo que tem. Aí você já sabe que vai ter problema se não fizer o controle. A gente nota que não está tão bom quando a indústria faz a classificação do grão. Começam a vir os descontos. Nos programamos para isso não acontecer novamente – afirma Everton Mann Appelt, técnico da Fazenda Guarita.