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Possibilidade de mudança na política agrícola dos Estados Unidos deixa produtores apreensivos

Maior receio dos produtores norte-americanos é sobre o futuro do seguro agrícolaDurante muitos anos, a agricultura eficiente que garante tranquilidade ao homem do campo tem sido uma das maiores vantagens dos agricultores norte-americanos em relação aos produtores de outros países. Programas como os que garantem subsídios a quem produz, por exemplo, sempre geraram polêmica e muita discussão dentro e fora dos Estados Unidos. Agora, estes benefícios devem sofrer mudanças e alguns serão cortados.

Uma máquina atravessa o campo colhendo a produção. Como em qualquer lugar do mundo, no Meio-Oeste dos Estados Unidos também é assim. Com o sol firme é hora de correr para a lavoura e conferir o resultado da safra. O produtor Daniel Schltzbaum plantou 280 hectares de milho e outros 280 de soja no Estado de Kansas. É ele mesmo quem opera a colheitadeira.

Este ano, o rendimento da plantação de milho caiu pela metade, por causa da seca. O da soja, que ainda não está sendo colhida, deve ser 30% menor. Mas a quebra, não tirou o sorriso do rosto do agricultor. Segundo Daniel Schltzbaum, a seca impulsionou os preços. Ele vendeu a maioria do milho a US$ 18 a saca, o maior valor que já conseguiu até hoje.

– Se o país tivesse colhendo uma safra boa, os preços seriam a metade disso – diz.

As excelentes cotações não são o único motivo de tranquilidade. Como o produtor tem seguro agrícola, também vai receber por parte da produção perdida. E esta garantia é mais uma entre tantas vantagens que os agricultores americanos sempre encontraram na política agrícola do país. A lei, criada na década de 30, direciona os gastos do governo com a agricultura. Geralmente é renovada a cada quatro anos. O último pacote, aprovado em 2008, previa um gasto de US$ 307 bilhões com o setor. Este ano, o prazo da lei expira e a renovação está sendo discutida.

A definição sobre a nova Farm Bill, a política agrícola americana, é aguardada com apreensão pelos agricultores dos Estados Unidos. O maior receio é quanto ao futuro do seguro agrícola, que é considerado o ponto mais importante deste assunto. E esta preocupação tem motivo: o governo já anunciou que irá cortar alguns subsídios concedidos aos produtores e o setor teme que esses cortes possam atingir de alguma forma o atual modelo do seguro agrícola.

Os cortes acertam em cheio uma das medidas mais conhecidas e contestadas, o pagamento de subsídios diretos aos produtores. O governo pagava a cada agricultor até US$ 40 mil por ano para produzir. A única condição era comprovar que realmente plantava algum produto. Na nova lei o programa vai ser extinto.

Para a economista Anamaria Gaudêncio, o que não pode ser cortado é o seguro rural.

– Acho que a política agrícola americana é muito forte. Os produtores conseguiram estabelecer com o governo uma estrutura que garante a eles alguma tranquilidade. A gente vê agora, na discussão sobre a nova Farm Bill, que vão retirar os subsídios, que são uma das grandes preocupações. Todos os países sempre criticavam muito os EUA por causa dos subsídios, principalmente os pagamentos diretos, mas agora eles querem continuar a parte do seguro rural, que eles consideram o ponto mais importante da política agrícola americana – diz

O receio de que ocorram mudanças na forma do seguro rural é tratado com prioridade pelas lideranças do setor. A associação que representa os produtores de soja dos Estados Unidos tenta apoio político para garantir a permanência do modelo atual. A entidade quer mostrar ao governo a importância do seguro como melhor ferramenta para minimizar os riscos e garantir a rentabilidade no campo.

Para o gerente executivo American Soybean Association, Stephen Censky, se os produtores não tivessem o seguro em um ano de quebra como este os impactos seriam enormes. Censky  diz que no atual modelo o governo garante um custo mais baixo aos produtores que contratam o seguro, e ainda paga uma parte do prêmio concedido .

– Se não fosse assim, muita gente iria sair da atividade – diz.

E é com este argumento que o setor quer convencer o governo a manter o programa de seguro rural. Mas, por enquanto, as negociações não estão fáceis.

Segundo Stephen Censky, a batalha é grande e a maior dificuldade é a distância entre os políticos de Washington e a realidade do campo.

– As pessoas são cada vez mais urbanas e isso representa uma barreira.

O prazo para definição da nova Farm Bill terminaria no próximo dia 30 de setembro, mas foi prorrogado. Como os americanos vivem um ano de eleições presidenciais, as discussões podem avançar até o início de 2013. Até lá, o clima de apreensão deve permanecer no campo, cedendo espaço apenas à tranquilidade estampada no rosto de quem conseguiu superar um ano de quebra, com os benefícios garantidos pela lei atual.

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>> Canal Rural exibe série de reportagens sobre a seca nos Estados Unidos

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