Em Ilhéus e arredores, os pés de cacau nascem dentro da Mata Atlântica – um pedacinho dos 7% que restam do bioma mais ameaçado do Brasil (de acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, do Instituto Socioambiental, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e da Sociedade Nordestina de Ecologia). Esse modelo de cultivo tradicional é chamado de Cabruca.
“O sistema cabruca é um legado cultural dos pioneiros do cacau, que começaram a implantar a cacauicultura na região, eliminando cipós e madeiras finas da mata e implantando o cacau nas clareiras que eles abriam. É uma conservação produtiva”, conta Adonias Castro, chefe do Centro de Pesquisa da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).
Segundo o pesquisador, o sistema tradicional é de alta sustentabilidade “porque preserva tanto a fauna, quanto a flora, mantém a conectividade gênica, contribui para o sequestro de carbono e de forma decisiva para a preservação das bacias hidrográficas”.
Hoje, o sul da Bahia tem cerca de 500 cacaueiros, em 300 mil hectares, 70% deles são pequenos e médios produtores que plantam até 20 hectares. A Cabruca prevalece na Bahia, mas também existe a produção de cacau consorciada com outras culturas, como as seringueiras, as palmeiras, as bananeiras e o cupuaçu. Nestes casos, o manejo é intensivo e há necessidade de irrigação.
Há pouco menos de dez anos, produtores de cacau da região têm dedicado parte de suas plantações para a colheita e tratamento de um fruto selecionado, muito diferente do que é vendido como commodity. Esse cacau especial corresponde, em média, a apenas 5% ou 6% do volume total da colheita.
O maior produtor de cacau do país, Angêlo Calmon Jr., no entanto, colhe 100 mil arrobas por ano, o equivalente a 1,5 mil toneladas, e destina quase 20% para a produção ao chamado chocolate de origem, feito por uma só equipe que acompanha todo o processo, desde a colheita do fruto até a embalagem final.
“O cacau commodity normal, na bolsa de Nova York, hoje está em torno de US$ 3,2 mil a tonelada. A amêndoa selecionada, com boa fermentação, boa maturação, você consegue vender em torno de US$ 8 mil a US$ 9 mil a tonelada. São três vezes o preço da commodity normal no mercado”, esclarece Ângelo Calmon Jr., o maior do país.
“Agora, não é fácil fazer isso. Há uma seleção, você tem que tirar o fruto perfeito. Isso não é uma produção que você consegue fazer em larga escala, porque isso depende do material humano. Precisa de uma pessoa que ame a produção”, define.
E precisa mesmo.