Amparada pelos filhos, Conceição Calassio se dirige lentamente até a varanda da casa para nos receber. A pequena caminhada exige esforço, mas ela faz questão de participar da conversa, mesmo adoentada e com dificuldades para ouvir.
Com 80 anos de vida, dona Conceição tem mais uma batalha pela frente. Depois de 41 anos poderá ter que deixar o local onde criou 12 filhos e vários netos. A propriedade rural de 12 hectares foi identificada como terra indígena.
Arvelino, o filho mais velho, mostra a lavoura de cinco hectares de soja que é arte da renda da família, que também cria 15 cabeças de gado leiteiro, além de suínos e frangos para consumo próprio. Há exatamente um ano, o sossego se foi.
Além da família Calassio, outras 50 na comunidade de Arasselva, interior do município de Itaporã, em Mato Grosso do Sul, estão dentro dos 2,3 mil hectares identificados como terra indígena. Apesar da Funai não ter divulgado uma lista com o nome dos atingidos, uma associação foi criada para defender os interesses dos agricultores. Eles conseguiram uma liminar na Justiça suspendendo a fase de defesa administrativa e lutam agora para anular a ação.
No município de Caarapó, a pouco mais de 100 quilômetos de Itaporã, na aldeia indígena teikuE, moram aproximadamente 6 mil índios das etnias Guarani e Kayowa. Na sede da aldeia tem posto de saúde, campo de futebol, e uma escola estadual está sendo construída para os quase 1,5 mil alunos do ensino fundamental e médio. O cacique diz que a maioria trabalha fora, em plantações de cana na região. É disso que vem a maior parte da renda das famílias.
A agricultura de subsistência também é utilizada na aldeia. Cada família explora entre dois e três hectares. Andando pela reserva encontramos várias plantações. Norivaldo Marques mostra a lavoura de mandioca, milho, abóbora, melancia e feijão. Tudo na mesma área. É assim, segundo ele, que o índio sempre usou a terra.
O total da reserva é de 3,6 mil hectares, e agora os índios querem aumentar o tamanho da área. Reivindicam mais 10 mil hectares, ampliação que vai atingir propriedades rurais da região. Os primeiros contatos com os governos federal e estadual já foram feitos, segundo Otoniel Ricardo, índio Kayowa e vereador em Caarapó.