Em Mato Grosso, ainda tem muito produtor finalizando o plantio do milho segunda safra, mesmo fora da janela, que terminou no fim de fevereiro. Além do atraso e da expectativa de produtividade mais baixa, as negociações antecipadas estão bem lentas. Menos investimento, expectativa de produtividade menor e muita cautela nos compromissos futuros. Esses são os principais reflexos do atraso da janela de plantio.
O período ideal para plantar milho em Mato Grosso terminou em fevereiro, mas, na região nordeste do estado, tem muito produtor que continua apostando na cultura, mesmo sabendo que a produtividade deve ser menor que a do último ciclo.
“O que se diz aqui é que tem muita gente plantando até dia ‘35 ou 40 de fevereiro’. A situação ficou complicada: o produtor está plantando em função de já ter comprado a semente, está plantando sem tecnologia e a expectativa de produtividade vai ser bem menor”, diz Arlindo Cancian, presidente do Sindicato Rural de Canarana.
Como costuma planejar o plantio do milho com antecedência, o produtor Pedro Sabino da Cunha insistiu na semeadura mesmo fora da janela, para não perder o que investiu.
“Antes de plantar a soja, a gente já compra e planeja a safra, então não imaginava que a soja iria atrasar tanto. O milho ficou fora da janela, mas eu já tinha comprado a semente. Então eu coloco o milho nem que seja para cobertura de solo. Com certeza vai ter uma redução de produção”, diz Cunha.
Já esperando um volume menor nesta temporada o produtor está cauteloso nas vendas do grão. Isso porque há dois anos ele negociou boa parte do milho com antecedência e ficou no prejuízo.
“Estou esperando 60 sacos de média. A metade do ano passado. Quando está assim, não dá coragem para vender, porque você corre o risco de vender, não produzir e ainda o preço subir e você ter que pagar um wash out [diferença na hora de quitar o contrato] muito grande, como já aconteceu aqui em outros anos. As chuvas devem diminuir muito em abril. Desse jeito, vai ter pouco milho. Vou aguardar chover em maio. Se chover, arrisco vender uma pequena parte da produção”, afirma o produtor.
E mesmo quem conseguiu plantar na janela não anda muito animado. A lavoura está com um bom desenvolvimento, mas a venda do milho vai ficar para depois da colheita.
“Até agora zero. Não foi vendido nem um grão de milho. Acontece o seguinte aqui: como se trata de uma cultura de risco, a gente espera primeiro o pendoamento para depois ir até o mercado. vai que não colhe depois tem todos os contratos a serem cumpridos. Como a gente trabalha com estocagem dentro da própria empresa, se ficar para o final do ano não é problema e o mercado é mais atrativo”, afirma o produtor rural Dalírio Gross.
Para o presidente do Sindicato Rural de Canarana, o desestímulo do produtor nas negociações do milho é consequência da quebra de safra registrada há dois anos, quando o município chegou a decretar estado de emergência por causa da estiagem. “Teve muitos casos de ‘wash out’. Então muitos produtores preferiram não vender. Para quem vendeu, o problema vai ser exatamente esse atraso. Pode ser que não tenhamos aquela produtividade esperada”, diz o presidente do Sindicato Rural de Canarana.
“O Imea [Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária] já havia captado esse movimento, tanto é que nós estamos reduzindo a produtividade em 10% em relação ao ano passado. A estimativa é sair de 107 sacas por hectare para 96. Fato é que nós reduzimos a área também por conta do algodão. Então hoje estamos com um cenário de 4.5 milhões de hectares, 96 sacos, 27 milhões de toneladas a serem produzidas, 4 milhões a menos que ano passado”, diz Daniel Latorraca, superintendente do Imea.