Em Tapurah (MT), os produtores estão preocupados com o custeio da segunda safra de milho. Com preços baixos, as operações de barter, pagamento através da entrega do grão pós-colheita, têm sido uma alternativa bastante procurada pelos produtores da região.
De acordo com o presidente do sindicato rural do município, Carlos Beló, trabalhar com recurso próprio não tem sido algo fácil para os produtores. Eles procuram as empresas que realizam trocas para conseguir ter mais segurança quanto aos preços do milho no futuro.
“A vantagem é que você fará uma troca a base de 50 a 60 sacas. Aí, colhendo 80, você tem a certeza de que 20 sacas sobrarão para você se manter e segurar sua lavoura limpa. Essa sobra vocē vai tentando comercializar no mercado, onde acha que o preço está melhor”, conta Beló.
O produtor Dirceu Luiz Dezem não quer mais correr riscos com o milho. No ano passado, ele teve um prejuízo de quase R$ 200 mil. Neste ano, decidiu reduzir 100 hectares e negociar os insumos à base de troca. “O problema é a gente esperar para vender quando colhe o produto. Aí o preço é uma insegurança total! No ano passado produzimos bem, estava com preço bom. Quando foi na safra, caiu demais”, diz.
A escolha pelas operações de barter divide opiniões: o agricultor Silvésio de Oliveira negociou apenas 5% da safra futura. Os R$15 por saca ofertados para a hora da colheita não agradaram o agricultor.
“Prefiro deixar em aberto ainda. Claro que é um risco, isso não me agrada, não é bom, mas estamos apostando em uma melhora. A gente sabe que o mercado não vai explodir, mas provavelmente irá melhorar, por conta da diminuição de área e, consequentemente, de produção. Esse milho plantado fora da janela virá com menos investimento de tecnologia. Vai depender do clima, mas é certo que teremos uma safra bem menor em Mato Grosso”, afirma Oliveira.
Segundo Daniela Latorraca, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), nos últimos anos a troca de produção por insumos cresceu bastante porque alguns produtores não estão conseguindo se financiar e também estão encontrando dificuldade de acessar o banco. “Acreditamos que para alguns produtores é até, de alguma maneira, uma falta de opção. Outros acham importante porque já travam o preço em um momento muito difícil tanto para soja quanto para o milho “, explica.
Problemas na safra e nos preços
Falta pouco mais de um mês para o inicio do plantio da segunda safra de milho em Mato Grosso e as projeções não são animadoras: segundo o Imea, as lavouras vão encolher em torno de 10%. Com menos área plantada, a produção deve ser até 20% menor do que a colhida em 2017.
O produtor Dirceu Dezem afirma que não acredita na redução da safra. “Sempre se fala em diminuição. Quando a gente vê, no final, tem uma lavoura quase que do mesmo tamanho do outro ano, então não dá para acreditar nessas coisas”.
A estimativa de queda não impactou o mercado. Os preços seguem baixos e as vendas antecipadas, lentas. O instituto estima que 16% da produção da safra 2017/2018 já foi negociada. No mesmo período do ano passado, 31% da safra já estava vendida.
Latorraca diz que houve uma grande oferta que desequilibrou o mercado e derrubou os preços, mas agora ele acredita que haverá um cenário, mesmo com um estoque mundiais ainda grandes, mais equilibrado no mercado brasileiro. “Até porque a gente tem essa redução da produção de milho e também um aumento, mesmo que regional, da demanda. As usinas de planta de etanol, que estão entrando em operação em todo o estado, devem fazer algum impacto na região onde estão estabelecidas”, diz.