Diante de um mercado consumidor cada vez mais exigente, a cadeia produtiva do boi gordo precisa se unir para garantir que a carne chegue às gôndolas dos supermercados e aos restaurantes com mais qualidade. A conclusão é dos participantes do “Seminário Angus: O boi que o mercado quer”, painel organizado pela Associação Brasileira de Angus e pelo Canal Rural, ocorrido durante a Expointer 2015, em Esteio, Rio Grande do Sul.
Representando a primeira parte da cadeia, a dos criadores, o diretor da Agropecuária Pulqueria, de São Sepé, Rio Grande do Sul, Fernando Costabeber afirmou que o principal problema da área é a questão da alimentação e o baixo número de animais jovens enviados para o abate.
– O grande problema da terminação é alimentação. Precisamos de animais jovens. E pelo fato de terem mais energia, eles exigem alimentação a mais para criar gordura – disse.
Ele citou que o estado gaúcho possui baixo nível de confinamento devido ao custo do milho, ao contrário do Brasil central, onde o produto é mais barato e, por consequência, utiliza mais esta técnica e permite que os animais sejam mais pesados. Para Costabeber, o investimento em pastagem é uma forma de melhorar a terminação dos bois no Rio Grande do Sul, elevando o peso da carne.
A questão da idade dos animais enviados às indústrias também foi abordada pelo diretor de Originação da JBS, Eduardo Pedroso, que disse que houve um aumento no volume de carne produzida, mas a qualidade recuou.
– Houve um aumento no abate de bois inteiros, 49% no caso de machos inteiros, demonstrando que a pecuária brasileira não é de ciclo curto: 75% deles estão acima de três anos de idade. Isso afeta a qualidade das carcaças abatidas. A maior parte possui qualidade tolerável, mas houve um aumento na quantidade de carne com qualidade baixa – afirmou.
Segundo ele, os produtores precisam equacionar volume e qualidade, pelo fato de o mercado consumidor estar mais exigente. Por isso, afirmou, os pecuaristas precisam mudar a percepção da atividade, passando de “produtores de boi para produtores de carne”.
– O principal desafio [da carne] é a consistência. Não é difícil abrir mercado para carne de qualidade, o grande problema é logístico, manter o padrão, o volume e a entrega – disse.
Mercados internacionais
A melhora da qualidade é de extrema importância quando se considera a intenção do Brasil de aumentar as exportações de carne bovina. De acordo com o diretor de Originação da Marfrig, José Pedro Crespo, a perspectiva de os Estados Unidos autorizarem a importação de carne brasileira torna a questão da qualidade primordial.
– Vamos passar a vender para um cliente mais sofisticado, o que permitirá a abertura dos mercados do Nafta [bloco comercial formado por Estados Unidos, Canadá e México] – disse.
Para ele, a expectativa é de que o mercado externo traga sustentação para a cadeia de carne brasileira e isto exige esforços para que a cadeia esteja habilitada para vender ao exterior.