O preço do café arábica caiu 10% em um ano, e a previsão para esta temporada é de um valor ainda menor. A queda na produção, que poderia aumentar o valor do produto, não terá impacto por causa da queda no consumo da bebida e isso já preocupa os produtores.
O cafeicultor Rogério Pulini Marchi, de Serra Negra (SP), está atento ao movimento do mercado e procura uma alternativa para sair do prejuízo. “O preço da saca está caindo e estamos trabalhando no vermelho. No ano passado eu vendi por mais de R$ 500 e a última eu vendi por R$ 475, sendo que agora está menor ainda o valor. Está difícil de trabalhar porque o café é de montanha e fica caro para colher”, disse.
Nos últimos seis meses, a cotação da saca do arábica passou de R$ 515 para R$ 450. Em 12 meses, o recuo no preço já atinge 10%. Diante deste cenário, Marchi, que já colheu o grão, optou por esperar uma melhora no preço para começar a negociar a safra. “Pretendo vender a partir de setembro, esperando que o preço chegue a pelo menos R$ 500”, disse.
A estratégia, no entanto, não é considerada a ideal para o analista de café Tiago Ferreira, que acredita em preços menores neste ano. “O produtor deve construir a estratégia de venda sempre baseado no custo de produção. Tendo este custo de produção estabelecido, ele deve colocar o objetivo e, se este objetivo estiver factível, executá-lo. O que eu acredito é que mesmo tendo uma safra menor este ano, numa condição perfeita de clima, numa condição perfeita de produção, dificilmente nós teremos preços tão bons como nós tivemos no ano de 2016.”
Para este ano, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima uma safra de 35 milhões de sacas para o café arábica, 18% menos que em 2016. O motivo é que esta temporada é de bienalidade negativa, que é quando a florada vem menor e resulta na queda da produção.
“O café está miúdo, influenciando na produção que precisa de mais grãos para fazer um saco de café. Quando você faz uma avaliação de safra, você faz nas frutas que estão no pé, onde não consegue fazer uma avaliação do grão que está dentro dela. Só depois de colhido e beneficiado que você vai ter uma certeza”, disse o presidente da Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), Carlos Alberto Paulino da Costa.
Para Tiago Ferreira, a chave para resolver este problema está no consumo do café em países importantes, que vem caindo a cada ano. “Este ponto é bastante importante, porque se não temos mais consumo, nós não temos capacidade de absorver a produção que a cada ano é maior. Nós estamos investindo em tecnologia, colhendo esta tecnologia em termos de produtividade, mas ainda sem gerar novos consumidores”, falou.