A perspectiva é de que neste ano o milho segunda safra, ou safrinha, ocupe uma área maior no Centro-Oeste, principal região produtora. Como o plantio de soja ocorreu no período correto, a lavoura de milho, semeada logo após a colheita da oleaginosa, deve cumprir o calendário ideal também.
A grande incógnita é o clima, já que a região tem registrado períodos prolongados de estiagem e o ano será de El Niño, que no Centro-Oeste se caracteriza por mais chuvas. Além disso, para o avanço da área, os preços do milho ao longo do primeiro trimestre também devem ser determinantes.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em estimativa divulgada em dezembro, projetou um volume de 63,73 milhões de toneladas na segunda safra de milho, sendo 44,23 milhões no Centro-Oeste, o que, se confirmado, representará crescimento de 18% na produção brasileira e de 13% na região central do Brasil ante a safra 2017/18.
A estatal não avaliou ainda a expectativa sobre incremento de área na safrinha brasileira, mas, considerando a lavoura semeada em 2017/18 e o potencial de rendimento, aponta que no Centro-Oeste o maior incremento de produção deve ser observado em Mato Grosso do Sul, com 8,778 milhões de toneladas (+38,5%), seguido de Goiás, com 7,693 milhões de t (+20%). Mato Grosso, que lidera a produção do cereal de segunda safra, deve colher 27,497 milhões de toneladas (+4,9%).
Um indicativo de que produtores investirão na safrinha de milho são as compras antecipadas de fertilizantes. Embora este insumo esteja mais caro em relação à temporada anterior, as aquisições realizadas em novembro superaram em volume as de novembro de 2017. “Isso está acontecendo, em parte, porque os agricultores estão mais capitalizados devido à boa venda da safra de soja e, portanto, podem gastar mais e antes”, disse o analista de mercado da FCStone Fábio Rezende.
O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) estima um incremento da área de safrinha no estado de 1,05%, para 4,66 milhões de hectares, e de 3,43% na produção, a 28,53 milhões de toneladas.
Em Goiás, onde a safrinha foi menor em 2018 em razão de problemas climáticos, há condições para uma boa recuperação, segundo o presidente da Associação de Produtores de Soja e Milho do Estado de Goiás (Aprosoja-GO), Adriano Barzotto. “Se for feito (o plantio) no tempo correto, será excelente.” A entidade trabalha com uma perspectiva de plantio muito próxima da Conab.
Já em Mato Grosso do Sul, a lavoura deve avançar 1,5% a 2% ante 2017/18, para 1,8 milhão de hectares, segundo estimativas internas da Aprosoja-MS. O diretor executivo da associação, Frederico Azevedo, espera que a colheita ultrapasse 10 milhões de toneladas, o que pode ser a maior safra da história.
Preços
A expectativa de maior produção em 2018/19 pode ser fator de pressão sobre os preços. Por isso, em Mato Grosso, há quem sugira que não se expanda muito a área plantada. “Nós recomendamos que os produtores não plantem toda a área disponível. Pedimos que se repita a área do ano anterior, aproximadamente 4,5 milhões de hectares. O ideal, na verdade, seria que houvesse uma redução, para se manter o preço”, disse Antônio Galvan, presidente da Associação de Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT). Há dúvidas, no entanto, se esse tipo de estratégia pode funcionar. O presidente da Aprosoja-GO, Adriano Barzotto, afirma: “Todo ano que o milho cai abaixo do preço histórico se fala disso (de reduzir plantio), mas é uma questão da gestão interna da propriedade e cada produtor sabe como deve agir nessa hora”.
Fatores como o preço do petróleo – que afeta a competitividade do etanol, produzido também com milho -, a produção de carne bovina e a disputa comercial entre Estados Unidos e China vão influenciar a cotação do cereal. A agência de classificação de risco Moody’s apontou no último dia 11 de dezembro que a perspectiva para os ratings das empresas do setor de proteína animal na América Latina em 2019 é positiva, o que ajuda a cotação do milho, já que a demanda pelo produto para uso como ração animal tende a crescer.
Além disso, segundo João Macedo, analista de grãos da FCStone, há demanda suficiente no Brasil para absorver toda a safrinha. “A safra de verão não chega nem perto de cobrir a nossa demanda interna”, afirmou ele. “Além disso, o produtor está vendo que o cenário de milho é favorável, já que houve quebra no ano passado, há uma escassez do produto no País e os preços estão elevados.”