O plantio da segunda safra de milho 2022/23 em Mato Grosso segue atrasado em relação ao ciclo passado. Na região do Vale do Araguaia, no leste do estado, o risco de perdas nas lavouras semeadas fora da janela ideal fez com que alguns agricultores diminuíssem a área destinada ao grão.
O plantio do milho segunda safra em Mato Grosso chegou a 89,36% dos 7,4 milhões de hectares destinados para o grão no dia 3 de março, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). No ano passado nesta mesma época a semeadura da safra 2021/22 estava em 94,08%.
Produtor em Canarana, Diego Dallasta acompanha de perto a movimentação da plantadeira que corre contra o tempo. A pressa é para semear os últimos talhões dos 3,1 mil hectares destinados ao milho. Como a janela ideal para o cultivo já terminou, a cada dia que passa o plantio fica mais arriscado, segundo ele.
“Da janela ideal nós temos cerca de 30% da área plantada após o dia 20 de fevereiro”, revela Diego.
Corte das chuvas preocupa para o milho
O produtor de Canarana pontua que com o custo elevado de produção a preocupação fica ainda maior com a semeadura fora da janela.
“O mês de fevereiro já foi um mês bem seco. No mês de março, segundo as previsões, nós não teremos invernada. Então, o tempo está deixando-nos bastante apreensivo. Esperamos que possa vir pancadas que atinjam a região como um todo, em volumes expressivos e aquela chuvinha no final de abril para o início de maio que é para botar a cereja no bolo”, diz Diego.
Diego ressalta que o milho utilizado “vêm com uma tecnologia de excelência, de híbridos de alta produtividades, semente em um valor altíssimo, custo de adubação altíssima também, então precisamos de água para fazer grão”.
A preocupação com o corte das chuvas também tira o sono do agricultor Murilo Ramos. Com o trabalho de campo mais adiantado e aproximadamente 50% da produção prevista negociada, ele conseguiu finalizar todo o plantio do cereal nos 2,4 mil hectares programados. Contudo, problemas operacionais atrapalharam o ritmo do cultivo em quase um terço da lavoura.
“A expectativa é saber se vai ter mais chuva do que o normal ou se vai cortar como sempre faz, porque 30% do que foi plantado fora se não chover e não der umas chuvas prolongadas, vai impactar bastante na produtividade total. Aí pode ser a diferença de um ano que pode ficar no azul ou no vermelho”, pontua Murilo.
Presidente do Sindicato Rural de Canarana, Alex Wish, frisa que a janela ideal no município encerrou no dia 20 de fevereiro. O Sindicato estima que entre 5% e 7% dos produtores irão plantar “bem fora da janela”.
“Se cortar a chuva mais cedo, igual ocorreu no ano passado, é certeza que esses milhos plantados fora da janela vão dar problema de novo. O ano passado plantamos dentro de fevereiro, até o dia 28, e infelizmente cortou a chuva”, lembra Alex.
Área de milho deve crescer em Canarana apesar dos problemas
De acordo com Alex Wisch, apesar dos problemas a expectativa é que a área destinada ao milho segunda safra em Canarana cresça de 150 mil hectares para 180 mil hectares.
“Se chover bem e o produtor conseguir manter as suas 90, 100 sacas por hectare, será um bom investimento. Será uma acertada esse aumento e esse investimento a mais no milho este ano. Se vê que o Paraná e Santa Catarina estão com sérios problemas e isso a gente vê que vai faltar milho no mercado”, salienta o presidente do Sindicato Rural de Canarana.
Produtores buscam alternativa de culturas
Em Água Boa, além do clima desfavorável, os produtores enfrentam ainda o problema com a falta de infraestrutura para armazenar a soja, o que compromete ainda mais o cronograma de plantio do milho. Por lá, para evitar riscos com o cultivo do cereal fora da janela ideal, tem agricultor buscando outras opções para substituir o grão na segunda safra.
Produtor em Água Boa, Leonel Elias Peripolli revela estar enfrentando dificuldades para dar ritmo na colheita dos dois mil hectares de soja na propriedade. “Caminhão na fila. Um dia de fila, vai para o silo e não volta mais o caminhão. Esse é um problema sério que nós temos aqui”.
Ainda segundo Leonel, a situação com a infraestrutura atrapalha ainda mais que o clima. “Atrasa tudo o que está programado. As máquinas vão trabalhando e chega aí e não tem onde colocar a soja. Falta caminhão. Nós no caso temos dois caminhões próprios e um de fora que paga frete”.
Se o armazém estiver lotado, comenta, todo o trabalho na propriedade é suspenso. “Todo mundo parado. Tem que parar a colheitadeira, esperar dar conta lá no silo e aí até a janela do milho saiu fora. Nós, por exemplo, não vamos plantar milho por estar fora da janela. Já desistimos do milho. Essa região aqui chove menos, começa mais tarde e termina antes a chuva. Daí fica complicado”.
Os mesmos transtornos vividos por Leonel também fizeram o agricultor José Luiz Polizelli a mudar os planos para a segunda safra de última hora. Polizelli acabou optando em semear apenas 600 hectares de milho e o restante da sua área vai receber milheto.
“O milho compõe a base de rentabilidade do produtor, porque a gente costuma dizer que a soja paga os custos e o milho sobra alguma coisa para a gente. Assim, quando você fraciona a sua intenção de plantio isso pesa muito no teu orçamento e na tua composição de renda. É um plantio encaixado na colheita. Então, se a colheita não anda trava o plantio e a janela não espera”.
A situação da armazenagem em Água Boa, diz o presidente do Sindicato Rural do município, Geraldo Delay, é crítica.
“Considerando que o custo é muito alto para se construir armazém e como nós temos produtores aqui que a maioria são arrendatários, eles têm essa dificuldade de construir armazéns nas terras que não são deles. Então, é um investimento que eles vão postergando o máximo possível e isso vai acarretando cada vez mais problemas em nosso município”.
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