“A crise no etanol de milho nos Estados Unidos pode afetar a cadeia de soja no Brasil”, afirmou o ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi, nesta quinta-feira, 21, durante a live promovida pelo Projeto Mais Milho e comandada pelo vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira.
Além da retração da demanda, devido ao isolamento social para conter a Covid-19, o setor de biocombustíveis ainda enfrenta uma pressão adicional com os reflexos da volatilidade nos preços do petróleo e seus derivados.
“Fico preocupado com a crise no etanol nos Estados Unidos, pois com a queda nos preços do milho, o agricultor norte-americano pode olhar a safra 2020/2021 e ver que o cereal não terá rentabilidade e pode investir mais na soja. Consequentemente, uma oferta maior pode derrubar o preço da oleaginosa. Tudo está muito interligado”, destacou Maggi.
Em maio, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) já havia reduzido a projeção do volume de milho destinado à produção de etanol de 128,28 milhões para 125,74 milhões de toneladas, na safra 2019/2020. Na temporada 2018/2019, em torno de 136,61 milhões de toneladas de milho foram destinadas à produção de etanol no país, conforme dados do órgão.
Já no Brasil, apesar da pandemia da Covid-19, a perspectiva é positiva para a produção de etanol de milho na safra 2020/2021, com aumento de 61,1% em relação ao ciclo anterior e produção de 2,7 bilhões de litros, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Atualmente, o Centro-Oeste é responsável por 95% da oferta nacional. Além de Mato Grosso e Goiás, os estados de São Paulo, Paraná e Rondônia também se destacam na produção de etanol de milho, ainda segundo a entidade.
“A crise é mundial. Nós, como todos os setores, temos problemas com diminuição de demanda pelo isolamento social e crise do petróleo, mas sabemos que isso é passageiro. O setor está fazendo o dever de casa e está crescendo a passos largos. As usinas exclusivas de etanol de milho mantêm a sua produção”, afirmou o presidente da União de Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco, também durante a live.
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Na transmissão, o presidente da consultoria Datagro, Plinio Nastari, ainda reforçou que o setor vive uma situação dramática diante do choque da queda dos preços e do consumo. “O preço ao produtor de etanol, na primeira semana de março, base Paulínia (SP), caiu de R$ 2,16 por litro para R$ 1,28 por litro”, destacou . Já o consumo de combustíveis no Brasil caiu 5,3% em março, na comparação com igual período do ano passado, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Em meio a esse cenário, os produtores de etanol esperavam uma decisão favorável do governo federal sobre a proposta de aumento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) cobrada sobre a gasolina, porém, essa medida não foi confirmada. “O aumento da Cide não deve ser encarada como medida de socorro ao setor de etanol, ela poderia desempenhar um papel regulador de mercado”, argumenta Nastari.
Além disso, o presidente da consultoria ainda reforçou a importância da agregação de valor ao milho, quando o grão é convertido em etanol, em DDG (resíduo da produção do etanol de milho seco) e óleo. “Você praticamente triplica o valor do cereal e, com o preço mais interessante, estimulamos a produção do milho, que pode chegar a 160 milhões de toneladas no Brasil”, completa.