O projeto de suspender a vacinação contra a febre aftosa no país até 2020 divide opiniões na pecuária. Se, por um lado, a proposta deve facilitar o manejo sanitário nas fazendas – e há até quem defenda a medida como forma de aumentar mercado para a carne bovina –, por outro lado, a suspensão da vacina pode facilitar o aparecimento de novos casos da doença, prejudicando as exportações brasileiras.
O pecuarista Danilo de Mello trabalha com a criação de bezerros no norte de Mato Grosso. Neste ano, ele vai vacinar quatro mil animais nas duas etapas de vacinação contra a febre aftosa, a um custo de R$ 7 mil, incluindo mão de obra e medicamentos. Gasto que pode ser reduzido com alterações no calendário, como sugere o pecuarista.
“Em novembro, a vacinação prejudica muito os bezerros. Poderíamos eliminar uma etapa da vacinação, pois em nossa região nunca tivemos foco”, propõe.
No ano passado, mais de 29 milhões de cabeças foram imunizadas em Mato Grosso, o que representa 99,5% do rebanho bovino do estado. Já são duas décadas sem o registro da doença. Mesmo assim, o superintendente técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Francisco Manzi, vê a vacinação como medida preventiva e que deve ser respeitada.
Ele afirma que a região não tem o vírus da doença em circulação, por outro lado, há áreas onde o risco é desconhecido. “Somente quando tivermos a real possibilidade de suspender a vacinação, juntamente com o Ministério da Agricultura e os órgãos de defesa, é que iremos tomar essa atitude”, diz Manzi.
No Brasil, o último caso da doença foi registrado em 2006, nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul. Atualmente, 23 das 27 unidades da federação são consideradas livres da febre aftosa com vacinação. Santa Catarina é o único estado que já superou a doença e não imuniza mais o rebanho.
Segundo o presidente do Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa, Sebastião Guedes, a retirada aos poucos da vacina não prejudica o controle sanitário e ainda pode ajudar a pecuária brasileira a conquistar novos mercados.
“Quando você suspende a vacina, disputa mercados mais atraente e mostra ao mundo que possui controle sanitário eficiente. Ocorre uma melhoria da imagem e outros países passam a confiar mais em nós e remuneram melhor a nossa carne”, diz Guedes.