No Triângulo Mineiro, a colheita do milho inverno está adiantada. Os preços não cobrem o custo de produção, e muitos produtores optaram por não vender a mercadoria. O problema é que os gastos com armazenagem podem aumentar em até 10% o custo final, e trazer prejuízo para o agricultor.
Em uma fazenda na região de Uberaba, a colheita dos 550 hectares de milho está na fase final. A estratégia do produtor é vender até 40% da produção antecipadamente para cobrir os custos. No mesmo período de 2016, o preço mais alto ajudou, e o produtor João Ângelo Guidi Júnior comercializou 70% da safra. Ele nem precisou se preocupar com armazenagem. Atualmente, no entanto, a situação é bem diferente, e o agricultor ainda não negociou nada.
“Nos outros anos já tinha uma comercialização, que na época da colheita, você já cumpria os contratos. E depois que você fechou o contrato, a armazenagem é por conta do comprador. Este ano nós bancamos a armazenagem, que custa em torno de 10% do valor das sacas de milho e 6% e 7% para soja.
Os preços da saca de 60 kg de milho na região do Triângulo Mineiro variam entre R$ 22 e R$ 24. Em abril de 2016, os valores estavam acima dos R$ 45. No caso de João Ângelo Guidi Júnior, o custo de armazenagem vai ser de R$ 2,50 por saca.
“Não temos remuneração com esses preços e estamos com mais despesa de armazenagem. Isso nos preocupa e nós já ligamos a luz de alerta porque a conta no final vai ficar zerada”, conta o agricultor.
E a procura por este tipo de serviço está maior este ano em Minas Gerais. Segundo dados da Companhia de Armazéns e Silos do Estado (Casemg), as 18 unidades da entidade conseguem armazenar 370 mil toneladas de grãos e quase metade da capacidade já está ocupada. Em 2016, o colume representava menos de 1/3 de todo o potencial de estocagem.
Uma das maiores unidades da Casemg consegue armazenar até 45 mil toneladas de grãos. Até agora, 70% do potencial já foi preenchido. A expectativa é que até o final de maio, quase 100% da capacidade esteja ocupada.
O gerente operacional Leandro Oliveira destaca a preocupação do produtor com a queda do preço.
“Com isso, o produtor negocia apenas o necessário. O resto, ele armazena e aguarda um preço melhor. No ano passado nós tivemos um procura significativa, mas este ano está bem maior”, analisa.
Em outro armazém, da Cooperativa dos Empresários Rurais do Triângulo Mineiro, a capacidade para estocar é de 53 mil toneladas de soja e seis mil de milho. O local, no entanto, já está lotado. Para o diretor da entidade, Osvaldo Neto, a armazenagem tem sido um problema para a região nesta safra.
“Com a queda no preço da soja o produtor tomou a decisão de segurar o máximo que ele conseguir para arriscar uma reação no preço da soja. Com isso, os armazéns estão cheio de soja e com dificuldade para receber o milho. Tradicionalmente, a soja teria sido escoada e nós estaríamos recebendo o milho”, aponta.