Dos 26 estados brasileiros, Santa Catarina ocupa a vigésima oposição em área, com apenas 1,1% do território nacional. Mas, apesar do tamanho, o estado é um gigante no agronegócio, sendo o 5º maior produtor de alimentos do país.
Santa Catarina se destaca na pecuária leiteira, na produção de mel, arroz, cebola, maçã, fumo e na piscicultura. É o maior produtor de suínos do Brasil e o segundo de aves. No oeste catarinense mantém um moderno sistema de produção, integrando criadores e indústrias de processamento. Um verdadeiro cluster de tecnologia e logística voltado à produção de proteína animal, define o secretário de Agricultura de Santa Catarina, Altair Silva.
“O estado entra com a proteção da sanidade, com a assistência técnica e também com pesquisa. O grande responsável pela geração de empregos é o sistema agro industrial estabelecido aqui”, diz o secretário.
O setor responde pela geração de 700 mil empregos diretos e indiretos no estado e é responsável por 31% do PIB local. Em 2020, o volume de exportação do agro catarinense somou quase R$ 32 bilhões, correspondendo a 70% do total exportado pelo estado e a 6,4% do total embarcado pelo agronegócio brasileiro.
“A gente não está contando nesses 31% [do PIB do estado] os serviços sobre o agro. A cadeia de frigoríficos aqui tem de 50 mil a 60 mil empregados diretos dentro da fábrica e 240 mil pessoas envolvidas na cadeia da proteína animal”, afirma o diretor da Abramilho, Enori Barbieri.
Para continuar a ser referência na produção de proteína animal, Santa Catarina precisa aumentar a oferta de milho, principal insumo para a fabricação de ração. No ano passado, a demanda local pelo cereal foi de 7,3 milhões de toneladas, sendo que 81% disso – quase 6 milhões de toneladas – vai para a alimentação de suínos e aves. Já a produção estadual de milho, incluindo a primeira e a segunda safras, foi de 2,8 milhões de toneladas. Ou seja, um déficit de 4,5 milhões de toneladas, que deve se ampliar em 2021.
“A estimativa de produção inicial [no estado] era de 2.9 milhões nesta safra. Com a estiagem de setembro e outubro e, agora, com a cigarrinha, que está muito forte em Santa Catarina e Paraná, segundo nosso último relatório, o total chega 2,19 milhões. Já caiu 700 mil toneladas”, alarma-se o analista Haroldo Tavares Elias, da Epagri-SC.
Santa Catarina compra milho de outros estados e de outros países, especialmente do Paraguai. Mas o custo alto compromete a produção e tira competitividade. Em um ano, o milho valorizou 61% e o farelo de soja, 113%. Barbieri, da Abramilho, diz que é necessário haver políticas públicas que estimulem o produtor que migrou para a soja a voltar a plantar milho. O incentivo ao seguro rural, a criação de financiamentos e linhas de crédito são opções que permitiram ao pequeno produtor fazer compras antecipadas e também investir em infraestrutura para secar e armazenar o milho.
“Uma colheitadeira colhe 5 mil sacas de milho por dia. Nós não temos estrutura para secar 5 mil sacas de milho por dia. Um silo de uma cooperativa seca 2 mil-3 mil sacas de milho por dia. Com três ou quatro produtores colhendo milho no mesmo dia, já vai haver milho estragado”, diz o diretor da Abramilho.
O ideal seria a criação de programa nacional para a distribuição da safra de milho produzida no Brasil. É fundamental que o país diminua a exportação de produtos primários e agregue valor aos seus preciosos grãos, na visão do secretário de Agricultura catarinense.
“Nós precisamos criar uma política nacional e a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] tem que liderar isso. Os estoques de milho da Conab têm sido muito baixos. Isso faz com que o mercado fique extremamente volátil e não tem uma segurança alimentar para a cadeia produtiva da pecuária brasileira, especialmente de Santa Catarina”, afirma Altair Silva.
“Tem que conceber esse projeto nacional. No porto de Imbituba [no sul catarinense], teve um navio ao mesmo tempo chegando da Argentina e um outro partindo levando milho para o Irã. Um saindo e outro chegando. Então é complicada essa logística”, cobra o analista Haroldo Tavares Elias.
O que Santa Catarina pede é uma política nacional de sustentação da indústria transformadora, para que o “pequeno” estado siga sendo um colosso na produção de alimentos.