Na fazenda Nossa Senhora Aparecida, em Lucas do Rio Verde (MT), a área plantada é de 350 hectares. Primeiro soja, depois milho. Tem sido assim há três décadas. Mas este ano o proprietário Reinaldo Melchior conta que, pela primeira vez, pensou que não iria colher a segunda safra, por causa da cigarrinha do milho.
“Quando ela chega, chega com tudo e você começa a passar veneno um dia sim e no outro, não. Mesmo a gente tendo feito tudo o que precisa em termos de controle químico, hoje sem dúvida nenhuma eu perdi 30 sacas de milho por hectare”, comenta o produtor.
‘Ponte verde’ para a cigarrinha
Há alguns quilômetros dali, na Fazenda Brilhante, a colheita do milho está terminando. Parte dos grãos é armazenada em silos de lona. Aqui, a cigarrinha também foi motivo de apreensão este ano. O produtor Saulo De Marco acredita que o aumento do plantio de milho na primeira safra tem criado uma “ponte verde” favorável à praga.
Ele conta que foram necessárias quatro aplicações com agentes biológicos e mais seis químicas para conter a infestação.
Vazio sanitário seria solução para controle da praga?
Apesar de Marco ter colhido bem, ficou a preocupação: primeiro com o custo da produção, que aumentou, e segundo, com o próprio futuro da lavoura de segunda safra em Mato Grosso. O agricultor questiona se a adoção de um vazio sanitário da cultura, evitando o plantio do milho na primeira safra, não seria uma boa estratégia para minimizar a presença do inseto nas lavouras.
Quem responde à pergunta é o especialista na cultura do milho Paulo Roberto Garollo, engenheiro agrônomo que há vários anos vem observando o comportamento da cigarrinha do milho.
“Se for decretado um vazio sanitário, não tem exceção de horta, fundo de quintal, milho pipoca, milho doce… Tudo é milho e talvez esse seja um dos principais pontos para raciocinar: será que essa é realmente a melhor solução? Eu diria que não”, avalia.
Milho tiguera
Na avaliação do especialista, o foco de ação deveria ser outro: atacar o chamado milho tiguera, aquele que brota “voluntariamente” no campo.
“A principal ponte verde indiscutível chama-se milho voluntário. É o milho que nasce pós-colheita, todas essas plantas que não recebem nem um tipo de correção. Essa é a ponte verde mais prejudicial e efetiva para todo esse processo. E elaborar uma campanha em Mato Grosso para a redução e eliminação de milho tiguera seria fundamental para combater a cigarrinha”, diz Garollo.