Existe uma campanha para que o agricultor mato-grossense não plante milho em 2020, caso o governo estadual não desista da cobrança do Fundo de Transporte e Habitação (Fethab). A iniciativa é encabeçada pelo presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Antônio Galvan.
A partir de fevereiro, para cada tonelada de milho vendida para fora do estado, o agricultor terá que pagar cerca de R$ 8,33. O imposto está tirando o sono de produtores, que veem as margens de lucro apertarem cada vez mais. “O custo de produção do milho por hectare é de 90 sacas. Hoje, quando se colhe bem, conseguimos entre 100 e 120 sacas por hectare. Mas, muitas vezes, não dá essa média na área inteira. Uma parte da lavoura te dá lucro e outra pode chegar a dar prejuízo”, conta o produtor Giovani Fritz, de Jaciara (MT).
Fritz reclama que o governo nunca atua a favor do agricultor e, agora, taxa o milho segunda safra, considerada cultura de risco. “Pelo menos 50% das áreas terão que ser abandonadas, porque você planta nas melhores”, diz. Ele diminuiu a área plantada em 15% — nesta temporada, o cereal ocupará 3.000 mil hectares.
Revoltado, o presidente do Sindicato Rural de Jaciara, Rogerio Berwanger, diz que o governo está colocando todo o peso sobre um único setor. “Querem sacrificar um setor porque é mais fácil, porque tem menos mobilização”, afirma. De acordo com o dirigente, o sindicato não vê o Fethab com bons olhos nem no curto e nem no longo prazo.
Berwanger recomenda que o produtor repense o que vai plantar. “De repente, deixar umas áreas em pousio, fazer uma reestruturação de solo. Pensar de novo para não aumentar muito a área e ficar sem remuneração”, sugere.
Galvan provoca: “Para que plantar milho? Se deixarmos o solo preparado para a soja, fizermos a quinta palhada, uma rotação de cultura melhor, vamos produzir mais soja no outro ano. Quero saber para que o produtor precisa plantar milho?”, indaga.
Efeito em cadeia
A possibilidade de redução drástica da área de milho em Mato Grosso deixa em alerta quem depende do grão no mercado interno, como a cadeia da suinocultura.
De acordo com o diretor executivo da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrimat), Custódio Rodrigues, os reflexos da nova taxação sobre o cereal traz consequências preocupantes para o setor, que demanda aproximadamente um milhão de sacas ou 70 mil toneladas por ano.
“Os custos de produção gira em torno de R$ 2,90 a R$ 3,05, e estamos vendendo suíno a R$ 2,90 a R$ 3, praticamente empatando. Em um passado muito próximo, vendíamos suíno a R$ 2,60 ou R$ 2,55, muito aquém do gasto”, explica Rodrigues.
O diretor da Acrimat explica que o setor está longe dos centros para levar a carne e também das produções de milho fora do estado. “Se tivermos que buscar milho na Argentina, no Paraguai ou nos próprios estados do Sul, o frete não compensa. A chance de suinocultores deixarem a atividade é bastante grande”, afirma.
Sobre a cobrança do Fethab no milho, Rodrigues diz que é um erro do governo. “Foi um tiro no pé. Isso vai ter um impacto grande não só na suinocultura, como também na avicultura, bovinocultura e outras atividades que geram industrialização de produtos, o que vai impactar a própria população”, alerta.