O superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca Ferreira, vê pouco espaço para altas expressivas do custo do transporte de grãos em Mato Grosso, no mês de março. Este mês é o que normalmente representa o pico dos fretes no estado. Segundo ele, o forte avanço da colheita em fevereiro e a estabilidade da oferta de caminhões tendem a evitar o avanço dos preços, especialmente se as condições climáticas permitirem um bom fluxo de retirada dos grãos e de embarques nos portos este mês.
Segundo Ferreira, o custo do transporte de grãos em Mato Grosso abriu o ano em um patamar elevado. “Isso foi consequência de um atraso do escoamento de soja no ano passado, que, por consequência, afetou o milho de segunda safra, cujo embarque se estendeu até janeiro, em altos volumes, para Santos (SP)”, destaca o superintendente.
Ao longo do primeiro mês de 2016, o preço do frete começou a recuar, porque a diminuição do volume embarcado de milho e o atraso inicial da colheita de soja fizeram com que a demanda por frete esfriasse. Além disso, começaram a chegar caminhões de todo o Brasil a Mato Grosso, aumentando a oferta de transporte, como preparação para o período de colheita da safra 2015/2016 de soja.
Em fevereiro, a aceleração da colheita da oleaginosa acirrou a concorrência entre os chamados fretes curtos e longos, ou seja, entre o frete fazenda-armazém e o frete armazém-porto, o que fez com que o valor do transporte voltasse a subir. Porém, o custo é em geral menor em comparação com o observado no começo do ano. Para o trecho de Sorriso (MT) a Santos (SP), o frete de 1 tonelada de grãos no primeiro levantamento do ano, de 7 de janeiro, era de R$ 322,50. No levantamento mais recente, de 3 de março, o transporte para este mesmo trecho custava R$ 305/t. O valor representa aumento de 5,17% na comparação com 4 de fevereiro, quando estava em R$ 290/t, mas está apenas 1,67% acima de igual período do ano passado (R$ 300/t). “A gente não vê espaços para grandes altas”, assinala Ferreira. “Pode ter um aumento, como já vem ocorrendo nas últimas semanas, porém, não conseguimos enxergar ainda fundamentos para que os fretes disparem.”
Apesar de o frete ter mudado de patamar em relação ao ano passado por causa da cobrança de pedágio na BR-163 e do reajuste nos preços do diesel, a expectativa não é de fortes aumentos de agora em diante por causa da disponibilidade de veículos no estado e da aceleração da colheita em fevereiro, que reduz a procura pelo frete entre a fazenda e o armazém daqui para a frente. “O principal fato é que ainda há uma oferta de caminhões estável no estado, apesar da saída de alguns caminhoneiros para outras regiões do país que começam a colher. E temos um volume bem expressivo já colhido, o que diminuiu um pouco a pressão no interior”, diz o superintendente do Imea. Segundo o mais recente boletim do instituto, 65,9% da área plantada já havia sido colhida até 3 de março.
“Se em março a gente não tiver nada diferente, como muita chuva atrapalhando a colheita ou algum problema de embarque nos portos, devemos ter um ano mais estável.” Sem greves de caminhoneiros no horizonte por enquanto, caso a safra de soja consiga ser escoada até junho e julho, a perspectiva é de que o escoamento do milho seja feito com mais tranquilidade. Além disso, a queda do frete em dólar por causa do câmbio “sem dúvida cria um teto” para o frete, diz Ferreira. Contudo, no caso de impasses na colheita ou nos embarques, isso não seria suficiente para segurar uma alta, conforme o superintendente.
Arco Norte
Quanto ao escoamento via Arco Norte, ele ressalta que a expectativa é de aumento do volume exportado por esses portos, mas pondera que os fretes para a região têm seguido a tendência dos para o Sul e Sudeste. Considerando a soja em grão, no ano passado, os portos de Santarém e Barcarena (Vila do Conde), no Pará, representaram 15% das exportações de Mato Grosso, e a expectativa é de que essa parcela cresça.
Para acompanhar essa movimentação, o Imea inaugurou neste ano o monitoramento do frete de Sorriso (MT) a Miritituba (PA). Essa alternativa de exportação, contudo, é intermodal, já que o trecho de Miritituba até o porto de Vila do Conde é feito por hidrovia. Em 3 de março, o custo do transporte de uma tonelada de grãos de Sorriso a Miritituba era de R$ 200. Um mês antes, o frete estava em R$ 185/t. Já em 28 de janeiro, quando o Imea começou a monitorar o trecho, o valor desembolsado para transportar grãos era de R$ 188/t.