A pandemia do novo coronavírus trouxe incertezas em relação à demanda de milho e pressionou negativamente os preços futuros da commodity negociados na Bolsa de Chicago (CBOT). Apesar desse cenário, a disparada do dólar, que encerrou a sessão desta quinta-feira, 7, a R$ 5,84, com ganho de mais de 2%, tem compensado os preços em reais aos produtores brasileiros do cereal.
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A conclusão é de analistas de três das principais consultorias de mercado, que participaram de uma live realizada pelo Projeto Mais Milho, uma iniciativa do Canal Rural, e comandada pelo vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira.
De acordo com levantamento sobre o mercado de milho realizado pelo consultor em gerenciamento de riscos da INTL FCStone, Étore Baroni, até o momento, os produtores já venderam 65% da “safrinha” 2020 antecipadamente. O volume comprometido da próxima segunda safra, de 2021, chega a 20%, segundo dados da consultoria.
“O dólar alto mantém os preços praticados nos portos brasileiros atrativos aos produtores; negócios estão saindo entre R$ 49 e R$ 50 a saca de 60 kg, cenário que acaba sustentando as cotações do cereal também no interior do Brasil. Temos no Paraná valores entre R$ 35 e R$ 36 a saca de milho”, afirma o consultor da INTL FCStone.
Já o analista de milho da Safras & Mercado, Paulo Molinari, afirmou que o dólar é a grande variável que está sustentando o agronegócio brasileiro. “E esse cenário de preços altos para o milho pode ser visto ainda no primeiro semestre de 2021, caso as exportações brasileiras de milho superem 30 milhões de toneladas neste ano. Claro que teremos ainda que acompanhar a próxima safra de milho nos Estados Unidos e o comportamento do câmbio também no próximo ano”, destaca o especialista.
Outro fator que também está no radar dos participantes do mercado é o comportamento do clima e os reflexos da estiagem já na safrinha 2019/2020. Os números oficiais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam uma safrinha de milho de 75,43 milhões de toneladas nesta temporada, acima do volume colhido no ciclo anterior, de 73,17 milhões de toneladas do grão.
“Talvez com o aumento de área que tivemos nessa temporada, especialmente em Mato Grosso, e o investimento em tecnologia por parte do produtor rural nos aproximemos desse número da Conab. Mas o clima não foi perfeito neste ano como em anos anteriores”, disse Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting.
O analista da Safras & Mercado ainda completa que a safrinha de Mato Groso, Goiás, Minas Gerais e da região da Mogiana, em São Paulo, ainda apresenta boas condições, com produtividade dentro da normalidade. “Mas a seca na polinização do milho é fatal. Daqui a 30 dias vamos acompanhar as espigas falhadas em Mato Grosso do Sul, Paraná, oeste de São Paulo e norte do Paraguai”, reforça Molinari.
No caso do milho, outro fator que ainda é observado pelo mercado é o etanol feito a partir do grão. O mercado de combustíveis é um dos mais afetados pela pandemia da Covid-19, devido ao isolamento social para conter a doença, e pela forte desvalorização registrada nos preços do petróleo.
No Brasil, o volume de milho destinado à produção de etanol fica entre 7 a 8 milhões de toneladas, conforme informou o consultor da FCStone. “Então, mesmo que tivermos uma redução nessa demanda, esse volume pode ser facilmente absorvido pelo mercado de exportação e interno”, completa Baroni.
Brandalizze reforça que os contratos feitos pelas indústrias de etanol para o milho poderão ser renegociados. “Esse milho que foi comprado a R$ 26 ou R$ 27 a saca poderá ser facilmente vendido na exportação por R$ 34 a saca. O cereal será destinado ao setor de ração no Brasil ou para exportação”, acredita o consultor da Brandalizze Consulting.
Projeto Mais Milho
Em sua quarta temporada, o Projeto Mais Milho é uma realização do Canal Rural, juntamente com Abramilho, Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat) e Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT).
O projeto é patrocinado pela Indutar, que há mais de 20 anos contribui para o aumento da produtividade, no mercado nacional e internacional; Ihara, que ajuda os produtores brasileiros a proteger suas lavouras contra pragas, doenças e plantas daninhas; Amarok, parceira dos produtores rurais dentro e fora das porteiras; e ainda conta com o apoio da Dekalb, destaque no segmento de sementes de milho e sorgo.