Milho

Produtor tem que eliminar o milho guaxo para vencer a cigarrinha

Essas plantas que nascem de forma voluntária hospedam pragas e doenças, funcionando como uma "ponte verde" entre uma safra e outra

cigarrinha do milho
Cigarrinha do milho vem tirando o sono dos produtores nesta safra. Foto: Sistema Faep

Sabe aquele milho tiguera, que nasceu sozinho no campo e aparentemente não faz mal a ninguém? O milho guaxo, ou voluntário, que decidiu se desenvolver ali mesmo, à revelia da vontade do agricultor? Pois bem, ele pode estar guardando pragas e doenças prontas para atacar o milharal assim que a próxima safra começar.

Uma das principais estratégias da cigarrinha do milho para se perpetuar nas lavouras é permanecer em campo nessas plantas solitárias, onde sobrevivem e se multiplicam até encontrarem a próxima safra nas redondezas. Essas plantas funcionam como uma “ponte verde” pela qual o inseto atravessa de uma safra para outra.

Segundo a entomologista e pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, Simone Mendes, na última década, com a introdução de cultivares resistentes à herbicidas, a eliminação do milho voluntário ficou mais difícil no campo. “Com isso criou-se essa ponte verde do inseto, que ficou difícil de controlar”, observa. A falta de controle eficiente destas plantas é um dos grandes responsáveis pelo aumento das infestações dessa praga.

Além de um “hotel” de cigarrinhas, estas plantas voluntárias também se tornam hospedeiras dos patógenos que promovem doenças, em especial molicutes causadores dos enfezamentos vermelho e pálido. “Eles colonizam o floema da planta e, ao fazer isso, entopem o fluxo de seiva. Com isso o crescimento fica difícil, ela fica ‘enfezada’, isto é, não cresce e não enche a espiga”, diz Simone.

Dessa forma, a erradicação das plantas voluntárias consiste em uma das estratégias mais acertadas para o enfrentamento da cigarrinha do milho.

Problemas com a cigarrinha do milho

Na visão do produtor e presidente do Sindicato Rural de São João, na região Sudoeste, Arceny Bocalon, a chegada da cigarrinha nas lavouras veio acompanhada de perdas significativas. “Por aqui, o pessoal teve prejuízo. Há uns dois, três anos fechamos 210 sacas por hectare. Esse ano passou um pouco das 82 sacas por hectare. Isso por causa da cigarrinha, pois o milho não se desenvolve. Dá até raiva de entrar na lavoura”, avalia.

Na lida desde criança, Bocalon conta que nunca viu uma infestação como essa. “Começou a atingir a região há uns três anos, veio vindo aos poucos, os produtores não tomaram cuidado e agora a cigarrinha tomou conta”, lamenta.

O receio no momento é que a safrinha, que representa uma área muito maior dedicada ao cereal no Paraná, vá a campo em um ambiente repleto de cigarrinhas.

“O problema é que essa população se multiplica ao longo dessa primeira safra. Entre fevereiro e março ocorre o pico populacional da cigarrinha. Então, esse milho que está entrando agora, que é mais suscetível, vai encontrar um campo cheio de cigarrinha”, alerta o pesquisador da área de fitopatologia da Embrapa Milho e Sorgo, Luciano Viana Cota.