Para tentar cobrir os elevados custos de produção da próxima safra de milho, produtores de Mato Grosso mantêm atenção ao mercado de olho nas oportunidades de negociar a produção futura. O ritmo das vendas antecipadas supera a média dos últimos cinco anos, mas a influência do El Niño e o desfecho da guerra comercial entre EUA e China preocupam.
Nesta época do ano, a soja é a protagonista dos cenários em Mato Grosso. Mas o milho segunda safra, que ainda nem foi plantado, também prende a atenção dos agricultores.
“Este é o momento em que temos de ficar atentos ao mercado, que deve ficar volátil porque as notícias são diversas. É clima, instalação da lavoura, início de plantio, questão de dólar, questão de acordos comerciais internacionais… É um conjunto muito grande de problemas e soluções que têm de ser analisadas”, afirma o agricultor Emerson Zancanaro.
O foco dele no mercado é constante. E o celular, ferramenta fundamental na busca das oportunidades de vendas, tem sido um grande aliado. O produtor já negociou cerca de 60% do milho que espera colher na segunda safra, o suficiente para cobrir os custos de produção.
“Travados os custos, agora tento ver como vai ser o restante da colheita. Porque não vendemos mais? Porque tem o fator climático, que nos deixa mais preocupados, mas de toda forma os negócios já saíram muito bons. A real preocupação que nós temos agora é saber lá na frente como vai estar. Tem alguns agricultores que deixaram para comprar os fertilizantes e defensivos tarde demais e agora estão com problemas de liquidez”, afirma Zancanaro.
Outro produtor que não quis arriscar é Eclásio Garruti Júnior. Ele já negociou 80% da produção que planeja plantar nos 2.000 hectares que hoje estão ocupados com a soja. O custo elevado e a perspectiva do excesso de oferta do cereal foram os motivos da decisão.
“Sofremos no passado com esses milho a R$ 13, a R$ 15 e leilão demorando um ano para receber aqueles prêmios. Então a gente optou por não correr esse risco e vendemos muito, acabou acertando um pouco por ter vendido cedo”, diz.
De acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), os produtores do estado já venderam 36,3% do milho que deve ser colhido na segunda safra. Esse volume é superior ao que estava negociado nesta mesma época do ano passado, quando as vendas chegavam a 25,6% da produção prevista.
“Eu acho de extrema importância fazer milho futuro para cobrir custo. O hidrogenado da adubação de cobertura do milho hoje está em torno de R$ 1.600, cerca de US$ 370, US$ 400 dólares a tonelada. No ano passado, compramos adubo a US$ 280”, diz o agricultor José Nardes.
Na opinião dele, a estratégia é uma alternativa para o produtor que está acostumado a plantar milho, mas ele alerta: “É preciso ter muito cuidado com os custos e colher acima de 100 sacos para ter um retorno razoável”.