Agricultura

Milho: produtores estão apreensivos com a perda da janela ideal

Plantando fora desse período determinado pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), o produtor perde o direito de acesso a instrumentos de política agrícola

Os eventos climáticos que causaram atraso no desenvolvimento e na colheita da soja, comprometem agora o plantio do milho. No Paraná, os produtores que planejaram a segunda safra do cereal, estão apreensivos com a perda da janela ideal e com o prazo do zoneamento de risco climático do milho chegando ao fim, para uma das mais importantes safras do estado.

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Plantando fora desse período determinado pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), o produtor perde o direito de acesso a instrumentos de política agrícola que fazem parte da gestão de riscos. Para 32 municípios do Paraná, a janela de plantio encerrou dia 10 de março. Outros 43 seguem até 20 de março. Para 142 cidades a data limite é até o dia 31 de março. Anteriormente, para 182 municípios paranaenses, esse prazo terminou em 28 de fevereiro — caso da regional de Campo Mourão, no centro-oeste do estado.

“Se plantar por conta, sem o seguro e correr o risco de dar um contratempo e vir a geada, a perda é praticamente do produtor. Não tem de onde tirar. A gente coloca a máquina lá na lavoura, o trator acaba atolando a plantadeira, não consegue rodar os discos, trava tudo. Aqui, todos os produtores vão ter que correr esse risco porque não tem mais o que fazer”, diz o produtor Antônio Ramalho, de Campo Mourão.

“O produtor já fez o pedido, fez a compra, fez o financiamento já com a instituição financeira, já definiu que vai plantar entre tal período e agora nos deparamos com essa situação do clima. Foge da alçada do produtor rural nesse momento de estar mudando de cultura. Não é uma tarefa tão simples de você estar definindo ou mudando agora de alternativa, nós não temos essa possibilidade”, lamenta outro produtor do interior do Paraná: Edio Chapla, de Cândido Rondon.

Pedido para ampliação da janela para produção

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Foto: Embrapa Rondônia

A Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), em conjunto com a Secretaria da Agricultura do Paraná, emitiu um pedido de ampliação de 10 dias para o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que, por meio de reuniões técnicas, entendeu que não seria possível prorrogar o prazo. A decisão também foi baseada na portaria 412 de 2020 do Mapa, que impede a alteração após publicação, exceto quando houver fato inédito ou erro de metodologia.

“Apesar de que no nosso pleito, ela foi solicitada em caráter excepcional. Entretanto, foi encaminhado algumas outras vertentes para solicitar auxílio a esses produtores que estão tendo essa dificuldade de plantar infelizmente fora do zoneamento agrícola pudessem ser atendidos por crédito rural e, também automaticamente quando de alguma sinistralidade, fossem atendidos pelo Proagro. Se caso existir alguma frustração de safra, é muito importante que o governo federal também consiga negociar com esses produtores com as mesmas taxas de mercado praticadas pelo Plano Safra. Estamos ansiosos aguardando essa resposta por parte do governo federal”, afirma Salatiel Turra, analista de desenvolvimento técnico do Sistema Ocepar.

No ciclo 2021/22, o Paraná produziu 13,294 milhões de toneladas na segunda safra do milho, com área total superior a 2,7 milhões de hectares. A projeção para este ano é de mais de 15,4 milhões de toneladas, com a área totalizando 2,6 milhões de hectares. Para o Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), o cenário é crítico.

“Mais urgente é a questão dos próprios produtores, que estão com esses insumos já comprados e que já assumiram essa dívida digamos. Já ompraram isso e talvez decidam não plantar. E também há a questão de abastecimento. Se o produtor do Paraná de algumas regiões resolver não plantar vai provocar uma diminuição da safra do estado, uma diminuição de milho. Aí, vai acabar encarecendo o custo de produção das proteínas. O que vai acontecer? Vai ter que importar milho de outras regiões e de outros estados”, afirma Marcelo Garrido, chefe do Deral.

Na visão de Marcos Brambilla, presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Estado do Paraná (Fetaep), são necessários ajustes importantes para os próximos ciclos. “Entendo até que é necessário fora desse período de plantio seja revisto algum zoneamento no estado porque, em questão de poucos metros, nós temos municípios com 10 dias a mais de prazo para poder tanto fazer a colheita quanto o plantio. Acho que é bom rever isso com todos os dados técnicos.”

Incertezas também para os produtores de Mato Grosso

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Foto: Tony Oliveira/CNA

Incerteza. Esta é a palavra que define a segunda safra na propriedade do Rafael José Wilbert, em Canarana, nordeste de Mato Grosso. O agricultor se programou para plantar 500 hectares de milho, mas o atraso da colheita da soja comprometeu os planos e aumentou a preocupação. “Foge do planejamento. Você tem que começar a fazer conta, tem que calcular tudo de novo, ver o que que é mais viável, o que compensa e o que não compensa. É difícil trabalhar nessas alturas do campeonato e tem que mudar as coisas assim”, lamenta o produtor.

Diante do risco de semear a lavoura fora da janela ideal, que terminou em fevereiro na região de Canarana, o agricultor decidiu cortar pela metade a área destinada ao milho. “Temos várias opções de safrinha. Mas rentável e que deixa uma palhada na lavoura igual ao milho, não temos hoje. O milho seria o carro-chefe da safrinha nossa aqui”, prossegue Rafael.

Assim como na fazenda do Rafael, o milho é a principal aposta na segunda safra para a maior parte dos agricultores em Mato Grosso. E a cada ano, a importância da cultura na composição financeira das propriedades fica maior. É o que comenta o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore.

“E o milho entra dentro da cadeia produtiva como um ajudante no pagamento dos custos: mão de obra, máquinas, a evolução do parque de máquinas precisa do milho produzindo para que uma máquina se torne viável, para que a estrutura, para que o armazém se tornem viáveis”, comenta Cadore. “Por isso a importância da segunda safra. “Então esse investimento ele vem aumentando à medida que o produtor vai conseguindo colocar dentro da janela. O produtor esperava, pela época de plantio da soja, que ele plantasse dentro da janela, nosso plantio vinha adiantado.”

Apreensão para os produtores de milho de MT

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Foto: Agência Marca Studio Criativo

Por isso, o plantio fora do período ideal gera tanta apreensão no campo. Dos mais de 7,420 milhões de hectares que devem ser ocupados pelos milharais nesta temporada, quase 30% não foram cultivados na época recomendada, o que pode impactar no desempenho geral da safra

“Sabemos que nós temos um atraso de 30% e isso é preocupante. O que vai determinar o sucesso da safra de milho é a evolução do clima, principalmente agora nos meses de abril e começo de maio. Se nós não tivermos bons volumes em abril cheio e até a primeira quinzena de maio é provável que a gente tenha uma safra pior do que a do ano passado em produtividade”, reforça Cadore.

Por enquanto, a produtividade média projetada para esta segunda safra em Mato Grosso é de 104,29 sacas por hectare. Caso confirmada, a produção deve superar a marca de 46 milhões de toneladas, segundo o Imea, que também considera ainda grande o cenário de incertezas para o futuro da safra.

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Editado por: Anderson Scardoelli.

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