“Safra cheia é muito bom, mas no caso brasileiro ela sempre traz um pouco de problema interno: a logística”. A questão foi destaca pelo economista e consultor da Safras & Mercado, Paulo Molinari, durante o painel ‘Produção e desenvolvimento da cultura do milho em Mato Grosso” no lançamento da sétima temporada do projeto Mais Milho.
O lançamento da nova temporada do projeto Mais Milho ocorreu na manhã desta quarta-feira (15) em Campo Grande, na sede da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul).
De acordo com Molinari, segurar soja à espera de que os preços cheguem à R$ 200 a saca traz problemas para o milho.
“Me chama a atenção uma questão que pode agravar [diante da concentração de colheita]. O produtor decidindo segurar soja. Isso não é problema para a soja, porque a soja vai encontrar o seu lugar para ser guardada. Mas, vai nos trazer um problema de logística para o milho, pois julho e agosto estão vindo com uma safrinha novamente recorde”.
Molinari destacou que, apesar do aumento do consumo de milho para a produção de etanol e nos setores da avicultura e suinocultura, ainda há uma sobra de 40 milhões, 50 milhões de toneladas.
“A gente não pode esquecer que precisamos tirar o produto do Brasil. Isso dá giro, dá liquidez, movimenta o bartner das empresas de insumos e a China vai sim ser nosso grande comprador”.
Brasil tende a superar os EUA em três anos
A China, pontuou Molinari, é considerada uma grande surpresa para o milho brasileiro, visto o país asiático em novembro de 2022 ter colhido uma safra recorde e em dezembro ter adquirido um milhão de toneladas do cereal produzido no Brasil, além de mais um milhão de toneladas em janeiro de 2023.
O economista afirmou durante o painel acreditar que a China deve seguir comprando milho brasileiro no segundo semestre.
“Esse exagero de retenção de soja é um problema sério para nós ao longo do ano. E, nós já temos que começar a ser proativos também na exportação do milho. O milho safrinha já tem que rodar para não termos o problema de colher a safrinha chegar no silo e estar entupido de soja”, reforçou.
A expectativa é que na safra 2022/23 seja colhido um volume de 123,743 milhões de toneladas de cereal somando os três ciclos, crescimento de 9,4% em relação à safra 2021/22, segundo informações da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab).
“A nossa capacidade de produzir milho é gigante e nós não podemos escapar dessa exportação, porque ela é muito importante e a presença da China dentro do mercado brasileiro é importante para ajudar a escoar. Talvez daqui dois, três anos a gente consiga superar os Estados Unidos nas exportações. O canal das exportações deve estar sempre aberto para essas questões de logística não se agravarem, porque elas não prejudicam só o milho. Elas também complicam a vida da soja”.
Cooperativismo de armazenagem é uma saída
Presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), André Dobashi, comentou no painel que hoje há uma pressão por parte do setor produtivo junto aos governos para que ocorra a liberação de linhas de crédito voltadas para a construção de armazéns.
“A logística realmente é um desafio muito grande”, disse Dobashi. Segundo ele, o avanço de corredores de escoamento é de suma importância, como é o caso da rota Bioceânica para o Mato Grosso do Sul.
Dobashi revelou que um estudo realizado pela entidade sobre viabilidade econômica dos armazéns apontou ser um ponto sensível à escala de produção do produtor.
“A gente precisa fomentar cada vez mais o cooperativismo. Que o produtor construa realmente armazéns de forma cooperativa, onde essa produção seja armazenada em conjunto para fazer a viabilidade da construção de mais armazéns. A gente precisa se apoiar no vizinho. O produtor às vezes acha que o vizinho é concorrente. Se a gente achar tiver essa mentalidade não chega a lugar nenhum. O cooperativismo é a peça chave para o êxito”.
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