Criar cavalos crioulos não é apenas ter animais da raça e participar de competições. Também é preciso manter um estilo próprio, de acordo com a tradição da moda crioula. Dos pés à cabeça, os aficionados pela raça crioula carregam peças marcantes e cheias de história.
A roupa utilizada por quem lida com o cavalo crioulo reflete a identidade de um povo apaixonado pela vida no campo como um todo e pela raça, em particular. Estar pilchado – ou seja, vestido com todo o traje típico gaúcho, o que inclui chapéu, lenço e espora – é também uma forma de manter a proximidade com todo o círculo da atividade.
“A vestimenta ‘emparelha’ (as pessoas) muito mais, existindo uma união grande entre patrão e cabanheiro”, afirma o criador de cavalos José Inácio de Andrade Freitas.
O domador Matheus Teixeira, por sua vez, afirma que conta também a tradição. “Isso aqui (o traje) é o homem do campo, né? O homem de antigamente”, afirma. O tratador Carlos Eduardo Félix nem pensa em usar outro tipo de roupa. “Bah, ia ficar meio estranho, ia ficar meio ruim!”, diz.
Cada elemento da pilcha, como é chamada a roupa tradicional do gaúcho, carrega sua própira história. As bombachas, por exemplo, teriam sido introduzida no Rio Grande do Sul pelos europeus, que, por sua vez, teriam passado a usar esse tipo de calça com pernas mais largas e ajustada no tornozelo após a invasão da Europa pelos árabes séculos atrás, assim como o lenço do pescoço, afirma o criador Freitas.
“A bombacha é uma coisa em que se vicia, porque a calça (comum) é muito mais justa e incômoda, principalmente para montar a cavalo. O lenço é um protetor contra o frio, principalmente, e tem significados políticos”, conta ele, explicando que o lenço colorado (vermelho) era dos maragatos, revolucionários do final do século 19, enquanto o lenço branco era dos chimangos, favoráveis ao governo.
A boina, continua José Inácio de Andrade Freitas, é herança de espanhóis e portugueses. “Ela vem junto conosco desde a conquista desta região, que tem muita influência espanhola”.
A moda crioula não se resume à tradição, entretanto, adaptando-se a diferentes gostos. Há peças mais modernas e elegantes, outras mais rústicas e de preço mais acessível. As lojas especializadas vendem bem o ano inteiro no Rio Grande do Sul, e não apenas em época de competições da raça crioula ou durante a realização da Expointer, a mais tradicional das feiras gaúchas.
O comerciante Jober Borges afirma que o movimento gerado pela feira do município de Esteio corresponde a 30% das vendas anuais. “Eu não tiro, eu ando sempre de bota e bombacha, que é roupa com que trabalho e com a qual passeio também”, orgulha-se o criador de cavalo crioulo José Inácio de Freitas.