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Saiba o que é a febre aftosa e como ela age no organismo dos animais

A doença chegou ao Brasil em animais importados da Europa, na década de 1970, e já causou bastante dor de cabeça à pecuária nacional

bovino sendo vacinado contra febre aftosa
Foto: Ministério da Agricultura

A febre aftosa é uma das doenças animais mais contagiosas e causa grandes perdas econômicas aos pecuaristas. Trata-se de uma enfermidade infecciosa aguda que causa febre, seguida pelo aparecimento de vesículas (aftas), principalmente na boca e nos pés de animais de casco fendido, como bovinos, ovinos, caprinos, porcos e todos ruminantes selvagens.

O contágio pode acontecer por contato direto com animais infectados ou através de pessoas e bichos que tenham se tornado vetores móveis após contato com os contaminados. Em casos muito raros, a transmissão acontece pelo ar. Veículos e equipamentos também podem carregar a doença.

Os animais contaminados podem transmitir a doença durante o período de incubação e manifestação da aftosa. O ar expirado, saliva, fezes, urina, leite e sêmen de animais doentes provocam contaminação até quatro dias antes do aparecimento dos primeiros sintomas clínicos.

A taxa de mortalidade é baixa em animais adultos, mas nos jovens provoca problemas cardíacos que levam à morte. Existem sete tipos diferentes do vírus, que só podem ser diferenciados com exames laboratoriais, sendo que o mais comum é o tipo O.

De onde vem a febre aftosa?

A febre aftosa espalhou-se pelo mundo a partir do gado europeu, chegando à América do Sul por volta de 1850. Os primeiros registros da doença no Brasil foram feitos em 1870, no Sul.

Em 1988, preocupado com os prejuízos econômicos provocados pela doença, o governo brasileiro colocou em prática o Plano Nacional de Sanidade Animal, no qual a aftosa aparecia como prioridade.

No ano seguinte, equipes de defesa sanitária identificaram mais de cem focos de aftosa no Rio Grande do Sul após o ingresso de gado uruguaio contaminado no território gaúcho. O estado teve dificuldade para controlar a disseminação da doença e enfrentou dezenas de focos da doença em 1990.

A Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul determinou a vacinação de quase três milhões de cabeças de gado, em 1992, para tentar conter o avanço da doença, meta alcançada no ano seguinte, com auxílio também de medida sanitárias. Naquele ano, o RS ainda registrou quatro focos.

De lá para cá, casos em território brasileiro e nos países vizinhos trouxeram medo aos pecuaristas brasileiros. Em 2004, por exemplo, a ocorrência de focos de aftosa em municípios do Pará e Amazonas, no norte do Brasil, resultou na restrição de importações de carne por vários países.

Na época, o governo realizou ações para demonstrar aos compradores que as áreas atingidas ficavam longe do Centro-Oeste, Sudeste e Sul, principais regiões de produção de carne para a exportação.

Apenas em 2018, a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) certificou o Brasil como país livre de aftosa.

Sintomas

Nos primeiros dias antes da manifestação das feridas os animais apresentam falta de apetite, calafrios, febre e redução da produtividade de leite. Após a manifestação das aftas o animal não consegue se alimentar ou caminhar, ficando prostrado e fraco.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito clinicamente, após a observação das feridas, e a confirmação se dá após análise laboratorial de tecido coletado na mucosa (de dentro da boca).

Resistência

O vírus é resistente ao congelamento e só é fica inativo em temperaturas superiores a 50ºC. Sobrevive nos gânglios linfáticos dos animais e na medula óssea, onde há pH neutro (nível de acidez), mas morre nos músculos onde o ph é inferior a 6. Pode sobreviver em forragens contaminadas e no meio ambiente por até um mês se houver condições favoráveis de temperatura e pH.

Permanência do vírus

Carne e produtos derivados com pH acima de 6 também conservam o vírus. Bovinos vacinados expostos à doença ou infectados e não abatidos conservam o vírus por 30 meses ou mais (búfalos); nos ovinos o período de conservação é de nove meses. O período de incubação em animais vivos e não vacinados é de 2 a 14 dias, após os quais começam a aparecer sintomas como vesículas e aftas nas mucosas e língua, feridas no úbere e nos cascos.

Recuperação

A recuperação começa a ocorrer entre 8 a 15 dias após a manifestação dos sintomas. Em casos mais graves os animais sofrem com a superinfecção das lesões, deformação de cascos, mastites e redução permanente da produção de leite, perda de peso, doenças do músculo cardíaco, aborto e morte de animais jovens. Nos ovinos e caprinos as lesões são menos pronunciadas, podendo passar desapercebidas. A mortalidade é alta entre animais jovens. Os porcos podem desenvolver graves lesões nos pés.

Prevenção

  • Proteção de zonas livres mediante controle e vigilância dos deslocamentos de animais nas fronteiras;
  • Sacrifício de animais infectados, recuperados e de animais suscetíveis que entraram em contato com indivíduos doentes;
  • Desinfecção dos locais e de todo material infectado (artefatos, veículos, roupas);
  • Destruição dos cadáveres e produtos animais suscetíveis na zona infectadas;
  • Medidas de quarentena;
  • Vacina com vírus inativado (a imunidade é conferida seis meses após as primeiras vacinações).

Risco para o homem

A aftosa não representa risco para a saúde humana. A doença não é transmitida pelo consumo de carne, leite e derivados de animais infectados. Alguns casos raros de feridas nas mãos e outros sintomas leves foram relatados em seres humanos que lidavam de forma muito próxima com animais infectados.

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