Na fazenda de 14 hectares, Marchesin planta hortaliças para abastecer o Cinturão Verde de São Paulo. Ele cultiva alface, chicória, repolho entre outras hortaliças. A produção que começou nos anos 1970 hoje é o sustento da família do agricultor. Todos os dias, são vendidas 120 dúzias de hortaliças. O que mudou na vida simples do produtor rural não foi uma nova técnica de produtividade, mas a recuperação que ele faz da mata próxima do Ribeirão Feijão, um dos principais mananciais do município. Há menos de 10 anos, a área era apenas uma pastagem abandonada e pouco explorada.
Em 2007, apenas 5% da propriedade do agricultor possuía cobertura de mata nativa original. A partir daí, ele buscou ajuda para iniciar o reflorestamento, plantando milhares de mudas de 80 espécies. Aos poucos, a floresta cresceu.
O agricultor solicitou ajuda à ONG Iniciativa Verde, que doou as mudas de espécies nativas. Marchesin não gastou um centavo. O projeto começou com 4 mil mudas, mas já chega a 40 mil árvores.
– A própria lei florestal diz que o poder público tem que apoiar o pequeno agricultor na sua adequação ambiental. Ele tem vários incentivos que não são conhecidos, desde o imposto; por exemplo, essa área que está recuperada e protegida com floresta é isenta de ITR [Imposto Territorial Rural], mas pouca gente sabe disso. As pessoas reclamam que o imposto incentiva o desmatamento, não é verdade. Na declaração do ITR desse imóvel, a área é para ser isenta de imposto. O crédito tem que ser facilitado e os órgãos públicos têm que ajudar de graça o processo de regularização dos agricultores familiares. O maior problema é o desconhecimento da lei. A primeira coisa é conhecer os direitos dos agricultores e ter esse apoio do poder público – explica o presidente da ONG.
A reserva de mata subiu de 5% para 28% agora em 2015, mais até do que os 20% exigidos pelo Código Florestal.
– No começo da década de 70, quando meu pai plantou esse sítio, ele precisou desmatar boa parte da mata que protegia o Ribeirão Feijão. Através dos anos, nós vimos que a gente precisava fazer alguma coisa para recuperar uma degradação nossa, por nossa causa. No caso desse ribeirão, ele é de abastecimento público, cujo rio abastece quase metade da população da cidade de São Carlos. Nós também usamos essa água para irrigação das hortaliças e para a piscicultura, então tínhamos que fazer nossa parte para continuarmos a ter água para atender nossa demanda e a do município – relata o produtor Flávio Marchesin.
O agricultor conta que a ONG orientou que ele levasse estudantes da cidade para conhecer o local, já que eles utilizam a água na cidade. O projeto iniciou em 2007. Até 2012, foram cerca de 12 mil visitas.
Como resultado , ele ganhou a adesão de outros produtores e foi aí que seu sítio virou referência. Toda a semana, dezenas de alunos da região conferem os resultados de uma ação bem-sucedida, que pode ajudar a salvar o meio ambiente.
– Me surpreendi em ver como a gente prejudica o meio ambiente e acaba não percebendo isso. A gente faz aleatoriamente sem perceber. Achei bem interessante todo o projeto e tudo que eles fazem – afirma a estudante de 15 anos Taniellen Moreira.
Outro ponto positivo foi que o ataque de animais que costumavam destruir as plantações acabou. A necessidade de usar agroquímicos toda a semana diminuiu. Devido ao crescimento da mata, o número de pássaros também aumentou, e eles viraram predadores naturais de pragas comuns nesse tipo de cultura, como as lagartas.
O produtor conta que, de um ano para cá, a aplicação de produtos agroquímicos na lavoura diminuiu muito. Ele acredita que é em função da formação da floresta.
– A gente tinha uma incidência grande de lebres que atacavam a lavoura, mas deixamos de ver isso nos últimos três anos. A pulverização na lavoura diminuiu porque a gente tem algumas pesquisas que o pessoal faz aqui na floresta; eles já identificaram cerca de 70 espécies de pássaros e esses pássaros acabam comendo as pragas que atacam a lavoura. Então, eu acho que está em equilíbrio, há uma cadeia alimentar aqui que está melhorando nossa produção – conta o produtor.
Segundo ele, também há redução de gastos:
– Geralmente esses produtos são muito caros e fazem mal a nossa própria saúde. Aí que está em jogo: a gente deixa de aplicar bastante e não tem tanto contato com esse produtos – observa o produtor.
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