O Brasil pode importar um milhão de toneladas de soja em 2020, projeta o analista da consultoria Safras & Mercado Luiz Fernando Roque. Por conta da oferta restrita e da forte comercialização no Brasil, as indústrias processadoras e tradings, principalmente do Sul, têm procurado grãos no Paraguai. “Está se confirmando um sentimento que já vínhamos trabalhando em nossas análises”, avalia.
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Segundo o analista, trata-se de um número inédito de compras, mas possível de ser alcançado. Ele lembra que cerca de 93% da safra 2019/2020 já foi negociada, bem acima da média para o período, que é de 75%. “Claro que as indústrias ainda têm um certo estoque. O país não esmagou tudo isso, não exportou tudo isso, mas o grande fator para ter pouca soja disponível foi a exportação”, completa.
O ritmo dos embarques no primeiro semestre foi muito forte, superando todas as expectativas. O Brasil exportou 60,35 milhões de toneladas de janeiro a junho, 38% acima das 43,728 milhões de toneladas embarcadas no mesmo período de 2019.
O analista destaca que a compra de produto no Paraguai faz sentido em estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. “Nesses estados que fazem fronteira com o país vizinho, o custo logístico faz sentido”, explica, destacando a situação dos compradores gaúchos, que enfrentaram uma quebra na safra e têm necessidade de trazer soja de outros estados e de outros países.
Roque lembra que esse movimento de compra nos países vizinhos ocorre sempre, mas não nos volumes desse ano. “Esse ano terá esse crescimento por causa da pouca oferta disponível para o resto do ano. O preço do Brasil vai continuar sustentado e a indústria vai correr para garantir o abastecimento no mercado interno, porque exportou demais no primeiro semestre”.
O analista destaca, ainda, as movimentações washout, recompra de volumes que eram de exportação por parte da indústria para abastecer o mercado interno no fim do ano. “Há consultas de indústrias e traders para garantir o abastecimento interno”.
Roque lembra ainda que o esmagamento continua firme no Brasil, principalmente em função das exportações de carnes. “Os embarques de proteína crescem cada vez mais, não só para China como para outros países. Esse fator traz força para o esmagamento e explica também a maior importação este ano”, acrescenta.
Outro ponto que é preciso ser levado em conta é a necessidade de insumo para produção de biodiesel , para cumprir as metas de B12. O Rio Grande do Sul é um dos principais produtores. Como houve uma boa demanda nos leilões, esse é um fator que ajuda a elevar o esmagamento doméstico, aumentando o interesse dos compradores brasileiros na oleaginosa do Paraguai.
Maiores fontes de importação
O Paraguai foi o principal fornecedor de soja em grão para o Brasil de janeiro a junho. Das 272,3 mil toneladas importadas pelo Brasil, 270,8 mil vieram do país vizinho. O volume é 240% superior às 79,6 mil toneladas fornecidas pelo país em 2019. Em segundo lugar, ficou o Uruguai, com 1,4 mil toneladas.