A empresa com a qual o sojicultor Leonardo David Muller, de Coqueiros do Sul (RS), compra insumos começou a negociar mais cedo para a safra 2020/2021. Ele resolveu dar uma olhada nos preços e encontrou uma oportunidade de ouro: fechou a temporada futura com custos de produção 15% menores do que no ano anterior.
Segundo Muller, a redução mais significativa foi notada nos fertilizantes. “Onde em 2019/2020 precisava de 1,7 sacas de soja por saca [para cobrir o custo], esse ano foi para 1,03 sacas”, conta.
Apesar do gasto maior com defensivos, porque o agricultor precisou aumentar o número de aplicações de inseticida fungicida, os preços desses produtos também caíram. “Todas essas condições trouxeram o meu custo para baixo até da safra 2018/2019”, relata.
Duro aprendizado
O hábito de negociar os custos da safra antecipadamente começou em 2007. Antes disso, o produtor fazia tudo via custeio ou à vista. Foi a seca de 2004/2005 quem trouxe duras lições. “Primeiramente, fiz a lavoura com soja [custando] em torno de R$ 43. Na hora da colheita, além da saca, a soja estava na casa dos R$ 24. Ou seja, precisava colher praticamente o dobro quando não estava colhendo nem a metade do previsto”, relembra.
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Daquele momento em diante, Muller entendeu que era necessário buscar alternativas para assegurar os preços. “Alguns anos depois, começou a aparecer a troca de produtor por grão, com fixação de preço”, diz, referindo-se à prática de barter. O sojicultor conta que, na região, uma parcela razoável dos agricultores opera dessa forma.
“Procuro também, sempre que possível, travar preço em parcelas de financiamentos. Se o valor é bom, asseguro o valor da parcela em lote futuro”, conta Muller.
Garantindo bons preços
No mesmo período do ano passado, a comercialização de soja no Rio Grande do Sul era praticamente nula, de acordo com o consultor da Safras & Mercado para o Projeto Soja Brasil, Evandro Oliveira. “Vai fechar na semana que vem em aproximadamente 5%. Ou seja, rodou algo em torno de 700 mil toneladas no mês de fevereiro na safra 2020/2021”, diz. Na temporada 2019/2020, esse índice foi alcançado apenas em maio.
Oliveira diz que a explicação está no preço da oleaginosa. “Em fevereiro de 2019, para a safra nova, mal chegava nos R$ 80. Este mês, está na casa dos R$ 90”, afirma.
Raio-x da safra atual de soja
O cultivo da safra 2019/2020 na propriedade de Leonardo Muller começou em 18 de novembro de 2019. No total, foram semeados 84,5 hectares — toda a área disponível na temporada de verão. “Como plantio uma área não muito grande, por sorte, decidi iniciar o plantio este ano após a colheita do trigo, que geralmente ocupa 30% da área”, diz.
Boa parte da área — 25,5 hectares precisamente — foi dedicada a uma variedade precoce. Infelizmente, o produtor também sofreu com a seca, mas não muito. “No meu município [Coqueiros do Sul], a situação foi complicada em certas regiões e mais amenas em outras. Para mim, dependendo do tempo daqui para frente, espero redução de 5% no máximo, podendo ser normal também. Mas, para muitos que escutei, há perdas de até 60%. O milho, pelo que vi, foi muito atingido”, conta.
De acordo com o diretor técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater-RS), Alencar Rugeri, na região de Muller, o índice de perdas gira em torno de 5% a 7%, ainda sendo calculado. “Mas é difícil de visualizar esta situação, pois temos em um mesmo município pessoas quem não perderam nada e outras que perderam 30%. É um ano muito atípico”, comenta.