Quando Silvia Stangherlin decidiu buscar outras alternativas para mudar sua vida, deixando para trás o berço da agricultura em que foi criada, ela não poderia imaginar a reviravolta que a esperava. Muito menos que a rotina do campo traria uma satisfação pessoal maior do que aquela que tentou buscar quando partiu.
Filha de agricultores do Rio Grande do Sul, Silvia nasceu em Foz do Jordão (PR) após sua família procurar uma chance de vida em outra região. Sua infância foi marcada pela presença da agricultura, já que seu pai, Rui Carlos, mais conhecido como Seu Toco, sempre cuidou da fazenda.
Não demorou muito tempo até que a paranaense participasse da lida no campo. “Como cresci na roça junto com meu pai, aprendi o ofício cedo, com menos de 10 anos já dirigia o trator para cá e para lá”, conta.
Diante de algumas dificuldades, ainda quando criança, achou que era hora certa para seguir um rumo. “Como a vida era difícil no interior, porque dependíamos de ônibus para tudo, fui trabalhar fora para conseguir dinheiro e futuramente estudar. Na época eu tinha 13 anos”, conta.
Consultórios odontológicos, bancos, casas de materiais de construção. A passagem de Silvia por empregos foi grande e eclética. Como ela mesma diz, era “pau para toda a obra”. Começou a estudar Ciências Contábeis antes da chegada efetiva do campo em sua vida, mas como em todas as histórias, Silvia não podia prever os rumos que ia tomar.
Uma mudança brusca atingiu a família em 2011. Seu pai descobriu uma grave doença no coração e precisava de acompanhamento todos os dias. “Ele sempre foi saudável, mas descobrimos essa doença que evoluiu para acidente vascular cerebral (AVC). Larguei o emprego e a faculdade para levá-lo ao hospital”, conta ela. Além do cuidado com o pai, a lavoura também passou a ser sua responsabilidade.
A paranaense teve que se desdobrar para lidar com a nova rotina. Ela tomava conta da lavoura e ia aos fins de semana para Curitiba ajudar a cuidar do pai.
“Ele adoeceu muito rápido e o que imaginávamos que seria apenas uma cirurgia no coração com apenas duas semanas de internação acabou se tornando mais de seis semanas”, conta Silvia. Ela e a família tiveram que adequar a casa e o quarto para que, depois de liberado, o pai pudesse ter os equipamentos que ajudassem sua recuperação, como sondas de alimentação e urina.
Como caminhar para trás, a realidade da família Stangherlin já não era a mesma dos sonhos e perspectivas que tinham para si. Parte da fazenda era vendida toda vez que o tratamento médico precisava ser pago. Todo dinheiro era destinado ao bem-estar do patriarca.
A propriedade, que recebeu todo cuidado do pai para se desenvolver e cultivar alimentos, agora estava lhe dando uma nova chance e, ao mesmo tempo, uma parte sendo sacrificada pela sobrevivência do dono. Mas, enxergando uma nova oportunidade, ela conseguiu manter a produção de soja e o gado leiteiro.
Tempos depois, as boas notícias chegaram de um jeito diferente. Seu Toco usa atualmente uma cadeira de rodas, mas consegue ver a filha crescer na agropecuária, setor que ele tanto ama. Silvia tem o controle das atividades na propriedade rural e hoje carrega o sentimento de estar no lugar certo. “O amor verdadeiro surgiu quando eu assumi. Quando você vê os frutos de um trabalho feito pelas próprias mãos, é recompensador”.
Através desse amor, uma outra paixão surgiu. “Conheci meu marido, Neimar, em um grupo de WhatsApp, o 100% Agrícola BR. Meu esposo ama a agricultura assim como eu”, diz Silvia, que há quatro dias colheu seu fruto mais valioso: a pequena Giovanna, que nasceu na última segunda-feira, dia 25.
“Como eu e o pai dela fomos criados no interior, queremos passar a essência do campo, mas cada um é livre e tem a opção de escolher o que quer da vida”, diz Sílvia. Eles afirmam que querem o melhor para a criança e que pretendem ensinar todos os caminhos para o sucesso, seja no campo ou fora dele.
Sílvia, hoje com 33 anos, não toma mais conta dos animais, que foram vendidos, mas ainda cuida da lavoura de soja e milho, além de dirigir um caminhão e fazer o transporte dos grãos. Seu plano é se mudar para o Rio Grande do Sul, onde o marido mora atualmente, e continuar o sonho da vida no campo. “Vamos lutar dia a dia, honrando o amor pela agricultura e passar isso para a pequena Giovanna e para outros filhos que tivermos”, conclui.
* sob supervisão de Edson Franco
Veja como a pecuária leiteira ajudou produtora a combater a depressão