Veja abaixo as maiores consequências da mobilização:
1) Atraso nos embarques de grãos
O embarque de grãos já está sendo prejudicado e há risco de um atraso considerável no calendário. O impacto pode ser grande, já que vai coincidir com o transporte da safra de milho na metade do ano. A administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) já relata preocupação quanto ao escoamento da safra de verão 2014/2015. A soja está sendo colhida no Brasil e encaminhada para exportação. A previsão era de chegada de 900 caminhões ao porto nesta terça, 24, mas apenas 45 estavam no pátio de triagem. Além disso, 1.560 caminhões estavam programados para carregar em suas origens, mas cancelaram as senhas que haviam requisitado e não se deslocaram para o porto. Outros 880 caminhões estavam a caminho de Paranaguá, mas não se sabe se os motoristas optaram ou não por se juntar à paralisação. Por enquanto, o Porto de Santos ainda não foi afetado com a greve.
2) Alta da soja na Bolsa de Chicago
Com a paralisação dos caminhoneiros em boa parte do Brasil em momento de escoamento da safra de soja, os preços dos prêmios de exportação do grão tendem a cair. A falta de grãos para embarque nos portos influenciam outros mercados compradores a adquirirem o grão norte-americano, o que tende a beneficiar os preços na bolsa de Chicago.
3) Desabastecimento de combustível
Nos Estados do Paraná e Mato Grosso, alguns postos já sentem efeito dos bloqueios e já começa faltar diesel em alguns estabelecimentos. Nos municípios paranaenses de Pato Branco, Dois Vizinhos, Francisco Beltrão e em Foz do Iguaçu (PR), há denúncias de que alguns locais estão vendendo o litro da gasolina a R$ 5,00. Com a falta do combustível para abastecer o maquinário, a colheita de soja em diversas fazendas do norte de Mato Grosso está sendo paralisada, gerando risco de perdas de parte da safra.
4) Falta de insumos para aves e suínos
Em Santa Catarina, circulam diariamente 3 milhões de frangos e 20 mil suínos, fluxo que foi interrompido pela greve. Nesta terça, pelo menos cinco frigoríficos resolveram paralisar a produção e, na quarta, dia 25, praticamente todo o parque agroindustrial vai parar por falta de insumos. A BRF afirmou que seu principal problema de logística ocorre no Paraná e não afasta a possibilidade de ocorrência de problemas sanitários na produção, caso os bloqueios não sejam desfeitos. A empresa enfrenta, ainda, problemas em Mato Grosso, onde seus fornecedores de ração também têm dificuldades de logística. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), outras companhias também são prejudicadas pelos protestos. A JBS, dona da Friboi, tem dificuldades no transporte de ração para alimentar os frangos. De acordo com o Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne) e a Associação Catarinense de Avicultura (Acav), a unidade da Aurora em Abelardo Luz reduziu à metade o processamento de frangos e pode parar, caso o fluxo de entrega não seja normalizado. O maior frigorífico do Rio Grande do Sul deixará de sacrificar três mil suínos nesta terça. A ração deixou de ser entregue e animais têm comida por mais dois dias.
5) Piora na crise leiteira do Sul
A greve dos caminhoneiros pode ser mais um agravante à forte crise leiteira que acomete o Rio Grande do Sul – que passa por problemas de credibilidade (diante de inúmeras constatações de adulteração nos produtos flagradas pela Operação Leite Compen$ado, da Política Federal) e conta com preços pouco remuneradores. No Estado, uma cooperativa que recolhe o leite de produtores de 34 municípios da região Noroeste suspendeu a coleta. Em Santa Catarina, os bloqueios estão causando prejuízos para as agroindústrias e para os produtores de leite de Campos Novos a São Miguel do Oeste, prejudicando o deslocamento de cargas em toda a região.
6) Falha no fornecimento de frutas e legumes
Comerciantes que trabalham na Ceasa-RJ relataram dificuldades no fornecimento de batata inglesa e cenoura para a região metropolitana do Rio de Janeiro, mas as cotações oficiais da central de abastecimento estatal ainda não refletem variações drásticas por causa dos bloqueios de estradas promovidos por protestos de caminhoneiros. Não há relatos de bloqueios nas rodovias do Rio, mas protestos em Minas Gerais e São Paulo, principalmente, impedem a chegada de alimentos produzidos nesses Estados. Na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp), o abastecimento de frutas já está prejudicado. Atacadistas do maior entreposto do país relatam que, já a partir desta semana, vão faltar nas feiras e mercados produtos como banana, mamão, morango e atemóia. Conforme a Ceagesp, as cargas dessas mercadorias estão paradas em Governador Valadares (MG) e nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte e Curitiba. Há carregamentos que estão retidos nas estradas desde o último domingo, dia 22, o que já ocasionou a perda dos produtos.
7) Paralisação industrial
A paralisação de caminhoneiros fez a Fiat dispensar, pelo segundo dia consecutivo, cerca de 6 mil trabalhadores do primeiro e segundo turnos da fábrica de Betim, região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Segundo a Fiat, eles estão sendo dispensados porque o protesto impediu que as autopeças e componentes utilizados na fabricação de veículos chegue no horário programado.