Com o diesel mais caro, analistas preveem que pode haver migração do segmento rodoviário para o ferroviário, que é menos dependente do combustível. As alíquotas de PIS e Cofins subiram R$ 0,22 por litro para a gasolina e R$ 0,15 para o diesel neste domingo, dia 1° de fevereiro. Já a reintrodução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) passa a vigorar apenas em 1° de maio, quando a alíquota de PIS e Cofins terá um recuo na mesma proporção, de forma que o aumento total de tributação para combustíveis seja mantido nos valores acima. A Cide foi reduzida no passado para evitar que aumentos de combustíveis pela Petrobras aos distribuidores chegassem na bomba para o consumidor.
Os analistas Renato Mimica e Samuel Alves, do BTG Pactual, apontam que preços mais altos do diesel provocam taxas mais altas de frete, elevando a competitividade do transporte ferroviário ante o rodoviário. Os analistas destacam que o diesel representa 60% dos custos do frete por rodovias. Já no caso da ALL, por exemplo, o combustível representa 35% de todos os custos ferroviários. Segundo cálculos do banco, o preço do diesel para o consumidor deve subir 6,5%.
No entanto, analistas ressaltam que ainda não é possível prever a extensão dos benefícios da Cide para o frete ferroviário.
– Isso deve tornar o transporte ferroviário mais competitivo, pois ele não vai ter esse custo. Algumas companhias serão beneficiadas, como ALL e Rumo Logística. Mas é muito cedo para dizer o quanto vai haver migração do rodoviário para o ferroviário – disse o analista do BB-BI Mário Bernardes Junior.
Procuradas, as empresas de transporte ferroviários, como a ALL e a VLI, não quiseram comentar o assunto e indicaram a entidade setorial, a Associação Nacional de Transportadores Ferroviários (ANTF), que disse ainda não ter uma avaliação sobre o assunto.
A expectativa no mercado é de que haverá mesmo impacto da nova tributação no custo das empresas de logística, independente do modal, mas ainda há incerteza quanto ao repasse desse custo aos clientes.
– Muitas empresas dizem que vão repassar 100%, mas fica a questão competitiva. Quem não repassar tudo vai ter vantagem competitiva. Vai sacrificar margem, mas pode recuperar isso com ganho de eficiência – diz Bernardes.
Para o profissional do BB-BI, o cenário de transportes está cada vez mais competitivo, principalmente em relação a preço.
– A tendência é que as empresas repassem 100%, mas é muito cedo para dizer – avalia.
Ele ressalta que empresas mais consolidadas no mercado, como Tegma e JSL, devem repassar integralmente o custo aos clientes.
De fato, os novos contratos da JSL já devem ser assinados com esse repasse, segundo o diretor executivo de operações e serviços da JSL, Adriano Thiele. Os contratos vigentes da companhia já têm gatilhos automáticos para o reajuste do diesel.
– Com certeza haverá aumento de custo com a Cide e isso tem representatividade no custo da empresa. Mas não vai ter impacto no resultado, porque a maioria dos contratos admite esse repasse do aumento do custo para o cliente – afirma.
Em 2014, a empresa comprou cerca de 77 milhões de litros de diesel, representando 6% do seu total de custos.
Perspectivas
Para o presidente do Sindicato das Empresas Transportadoras de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), Manoel Sousa Lima Junior, o aumento do preço do combustível “vem em péssima hora”. Ele ressalta que o Brasil tem o combustível mais caro do mundo – cerca de 15% acima do cobrado no mercado internacional.
– Deveríamos acompanhar a baixa do barril do petróleo. Tudo bem colocar a Cide, mas não dá para manter o preço distorcido, mais a Cide. Isso atrapalha o transporte como um todo e já temos um problema de demanda mais fraca – afirma.
Segundo ele, a perspectiva é de que a demanda continue fraca em 2015. No ano passado, os preços do frete chegaram a cair 40%, aponta.
– Não vemos melhora este ano – diz Lima Junior, citando, além da tributação sobre o combustível, a previsão de aumento do custo de energia como complicador.
Bernardes, do BB-BI, ressalta, porém, que as empresas do setor de transportes estão acostumadas com esse tipo de volatilidade.
–Elas vão se adaptar e buscar eficiência de outras maneiras. Em cenários de ajuste, ele vem para todos. Isso vai ser benéfico lá na frente – afirma.
Segundo ele, empresas que já tenham feito o “dever de casa”, como Tegma e JSL, estarão mais bem preparadas para enfrentar o novo cenário.