O dólar comercial fechou em alta de 1,30% no mercado à vista, cotado a R$ 5,4540 para venda, em dia de forte estresse no mercado doméstico e no exterior, com o real tendo um dos piores desempenhos entre as moedas globais em meio ao receio quanto à Petrobras, após o presidente Jair Bolsonaro anunciar a troca de comando da companhia e elevar os riscos políticos. Lá fora, as taxas dos títulos de dívidas do governo norte-americano avançaram e o vencimento de 10 anos se aproximou de 1,40%, maior patamar em 12 meses, corroborando para as perdas das divisas de países emergentes.
O mercado doméstico reagiu à decisão do governo federal anunciada na sexta-feira, após o fechamento do mercado, com o Ministério de Minas e Energia (MME) anunciando a indicação de Joaquim Silva e Luna como conselheiro e presidente da Petrobras, após encerramento do ciclo, superior a dois anos, do atual presidente Roberto Castello Branco. Antes, Bolsonaro havia feito críticas à política de preços de combustíveis da companhia e disse que “alguma coisa” iria “acontecer na Petrobras nos próximos dias”.
“Sem surpresas, o dólar operou descolado do exterior, em dia de perdas expressivas dos ativos locais como reflexo da cautela em decorrência da interferência de Bolsonaro na Petrobras”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes, acrescentando que outra declaração do presidente da República, de que vai “meter o dedo na energia elétrica”, também preocupa o mercado. “O temor é que esses ruídos possam depreciar ainda mais as empresas estatais e atrasar o andamento das reformas no Congresso”, reforça.
Logo após a abertura do pregão, o dólar chegou a disparar ao redor de 2,8%, acima de R$ 5,53, reagindo à ingerência na petrolífera, além de acompanhar as perdas superiores a 1% das principais moedas emergentes como o peso mexicano ante o dólar. Com isso, o Banco Central (BC) realizou um leilão e swap cambial tradicional – equivalente à venda de dólar no mercado futuro – que colocou no mercado toda a oferta de US$ 1 bilhão.
Antes, uma operação programada de leilão de linha e comum no fim de mês colocou no mercado US$ 1,6 bilhão. “O mercado respeitou a intervenção do BC com o dólar acima de R$ 5,50”, diz o analista da Toro Investimentos, João Vitor Freitas.
No meio da tarde, declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, de que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial será levada ao plenário da Câmara para votação em março, como também o Orçamento de 2021, e com a promessa de que a tramitação da reforma administrativa começa no próximo mês, a moeda norte-americana renovou mínimas sucessivas a R$ 5,43, em sessão de forte amplitude da divisa.
Para Freitas, nesta terça, 23, o mercado deve seguir “com mau humor”, em meio à agenda de indicadores esvaziada e com as promessas do presidente Bolsonaro de intervir em outras estatais, como a Eletrobras e o Banco do Brasil. “O Guedes [Paulo, ministro da Economia] anda sumido. Então, o mercado espera por um posicionamento dele, se traz alguma novidade do aspecto econômico”, diz, acrescentando que a agenda política, após as “promessas de Lira”, segue no radar.
“Mas deve perder um pouco de força nesta semana, já que o foco está em estatais. De qualquer forma, deverão ser dias de mercado bastante volátil”, ressalta.
Por Agência Safras