Produtores de milho do Sul do país estimam quebra de mais de 50% na produtividade da safra verão 2020/21. O dano foi causado pelo ataque da cigarrinha, que afetou vários estados da região.
Em uma lavoura de milho em Castro (PR), entre os 800 hectares plantados, mais de 40% da área foi atacada pela praga. Na parte mais afetada, a estimativa é que a produtividade caia de 186 para 116 sacas por hectare.
“Essa lavoura, se for colhida, corre da qualidade do grão cair bastante. Uma das alternativas para esse milho é fazer silagem ou correr o risco de tentar colher ele um pouco mais úmido”, relata o produtor rural Paulo Bertolini.
Para Sandero Leffers, que compra milho para silagem desde 2009 e adquiriu uma área de 180 hectares para o plantio grão, a expectativa é vender 25% a mais de silagem do que na temporada passada. “Nós estamos com uma lavoura que a princípio foi condenada para a colheita de grãos. Mas produtores nos procuraram para ver a possibilidade de fazer uma silagem de milho porque o ponto que o dano é feito pela cigarrinha ainda não é tão grande”, explica.
Pela primeira vez sofrendo com o ataque de cigarrinhas, a região também teve impactos com a falta de chuva. “A propagação da cigarrinha foi favorecida devido à condição climática, quando em setembro tivemos uma das maiores secas dos últimos 60 anos dentro da nossa região e com temperaturas elevadas”, aponta o engenheiro agrônomo Mauricio Zanon.
E mesmo usando sementes mais resistentes, os produtores de Santa Catarina também esperam grande prejuízo. Em uma propriedade em São Domingos, a produtividade deve cair de 250 para 39 sacas por hectare. “Isso vai abalar bastante o agronegócio e a cadeia produtiva. Nós, como produtores, estamos perdendo e a agroindústria vai sentir a necessidade desse milho que não vai entrar no mercado”, afirma.
Produtores de Xanxerê, no oeste do estado, produtores estão preocupados em não cumprir os contratos negociados. “A situação é bastante preocupante porque não se tem muitas opções que podem ser empreendidas para minimizar o prejuízo, além de colher o milho com muito mais umidade. Pedimos até uma atenção das empresas fornecedoras de híbridos para que no próximo ano procure nos oferecer sementes com nota mais elevadas, no sentido de serem tolerantes a essa praga”, conta o engenheiro agrônomo, Otacílio.
No município de Abelardo Luz, a estimativa é de quebra de 50% na comparação com a safra anterior. “Para que a gente consiga reverter esse 70% de ataque e os 50% de quebra nas lavouras, é muito importante fazer o controle químico associado ao controle biológico de acordo com a divulgação das universidades e instituições de pesquisa para que não venha acontecer essa quebra novamente”, esclarece Vinicius Bodanese Demarch, engenheiro agrônomo.
Para prevenir o ataque das cigarrinhas, além do produtor usar cultivares tolerantes, é indicado ao produtor não fazer o plantio em datas específicas, assim como ter atenção no manejo com as plantas tigueras. “As tigueras são plantas de milho que nascem espontaneamente de grãos perdidos da última colheita e servem de abrigo para a cigarrinha e a própria doença, ou seja, plantas tigueras são a ponte para levar a cigarrinha para a lavoura”, esclarece o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Walter Meireles.
“As plantas mais novas são mais sensíveis ao ataque da cigarrinha, enquanto que as plantas mais adultas, pós-florescimento, são menos sensíveis, por isso, medidas preventivas são importantes, antes do plantio e logo após a emergência das plantas”, completa.