A fazenda Carandá, em Nova Mutum, está localizada perto de uma usina de etanol de milho. O proprietário decidiu aproveitar as áreas marginais para investir em reflorestamento. Ao lado da lavoura, onde o solo é mais arenoso, o produtor plantou 30 hectares de eucalipto.
Os pés estão com dois anos de idade e mais de 20 metros de altura. Quem cuida das árvores é Vilmar Boscatto, engenheiro agrônomo e empresário. Há 16 anos ele presta serviço de plantio e manutenção de reflorestamentos. Ele conta que, nos últimos três anos, aumentou muito o interesse de proprietários de terras em investir em florestas plantadas.
No último período de chuva, que é quando se faz o plantio do eucalipto, a meta da empresa era de 400 hectares e chegou a 900, mais que o dobro. Tendência que se mantém para a próxima temporada.
Novas florestas para consumo
Boscatto afirma que “queimou todo o estoque de floresta” que tinha pronta para corte e, com isso, houve maior procura para poder plantar e ter novas florestas para consumo. “Hoje praticamente 100% do que se planta é para biomassa, seja ela para consumo próprio ou para empresas de etanol de milho, que compram a árvore em pé e transforma em cavaco”, conta.
A explicação para o aumento na procura de serviços iguais ao de Vilmar Boscatto está num estudo feito pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a pedido da Associação dos Reflorestadores de Mato Grosso (Arefloresta). Os números indicam que, para suprir a demanda de madeira como fonte de energia, a área de floresta plantada no estado terá que crescer.
Geração de biomassa sustentável de eucalipto
De acordo com o levantamento, hoje, existem em Mato Grosso 124 mil hectares de eucalipto plantados. Área bem abaixo da necessidade, como afirma o analista de custo de produção do Imea, Miquéias Michetti, que esteve à frente do estudo.
Segundo ele, projeções feitas pelo Imea, Embrapa e Arefloresta indicam uma área de cerca de 300 mil hectares que, se mantidos ao longo dos anos, geraria biomassa sustentável de eucalipto de produção silvicultural capaz de suprir toda a demanda local.
“Para isso, nós deveríamos ter , pensando nessa redução que sofremos desde 2015, um aporte de 30 mil a 40 mil hectares [por ano], e nós não temos encontrado isso no campo. Nós fizemos essa pesquisa com os viveiros, por exemplo, e estamos tendo uma produção hoje dentro do estado de aproximadamente 25 milhões de mudas. Isso daria para plantar, mais ou menos, de 20 mil a 22 mil hectares por ano“, diz.
“A gente percebe que não estão sendo suficiente a produção e os incrementos de plantio hoje para suprir a demanda extra que veio com as agroindústrias”, afirma Miquéias Michetti, do Imea
Aumento de demanda por madeira
Para Fausto Takizawa, secretário geral da Arefloresta, esse aumento na demanda é uma boa notícia para o setor. No entanto, ele pondera que é preciso observar detalhes importantes antes de tomar qualquer decisão.
“Este é o momento de o reflorestador refletir sobre o que viveu até hoje. Apesar da demanda estar muito aquecida, cabe fazer muita conta. A gente está em um cenário em que aprendemos um pouco mais sobre os materiais genéticos; o manejo o produtor florestal precisa melhorar um pouco mais. [É preciso] Trazer esse aprendizado e também dar essa dica de combinar com o seu consumidor. Toda a questão logística tem que ser pesada para decidir se consegue ter a rentabilidade que espera. Este é o momento para fazer essas contas”, finaliza.