O preço da soja atingiu um novo recorde no Brasil, ao ultrapassar a casa dos R$ 104 por saca no porto de Rio Grande (RS) na última quarta-feira. Os valores jamais vistos, fizeram com que pelo menos 300 mil toneladas fossem negociadas no dia. Mas qual a tendência daqui para a frente, os preços podem subir mais? Confira a opinião do analista da Safras & Mercado Luiz Fernando Gutierrez.
Mas antes de falar em tendência, vamos aos fatos. E na realidade o dólar é a principal razão que está elevando o preço da saca de soja no Brasil, garante Gutierrez.
“Com a alta do dólar, que rompeu a casa de R$ 5,41, os preços da soja subiram ainda mais nesta quarta-feira. Até por isso os valores no porto de Rio Grande que já estavam em patamares recordes, subiram pelo menos mais R$ 2 por saca”, afirma ele.
A consultoria projetou que ao menos 300 mil toneladas trocaram de mãos. “Destaque para volumes próximos a 50 mil toneladas no Paraná, outras 50 mil no Rio Grande do Sul e a mesma quantidade em Mato Grosso”, diz Gutierrez.
Em Passo Fundo (RS), a saca de 60 quilos subiu de R$ 97 para R$ 98,50. Na região das Missões, a cotação avançou de R$ 97 para R$ 98. No porto de Rio Grande, o preço pulou de R$ 102 para R$ 104.
Em Cascavel, no Paraná, o preço passou de R$ 93,50 para R$ 95 a saca. No porto de Paranaguá (PR), a saca aumentou de R$ 101 para R$ 103.
Em Rondonópolis (MT), a saca subiu de R$ 90 para R$ 92. Em Dourados (MS), a cotação avançou de R$ 84 para R$ 85. Em Rio Verde (GO), a saca passou de R$ 89 para R$ 90.
Os preços tendem a subir mais?
A pergunta que todo os produtores têm feito é se o preço da soja ainda pode subir mais. Até por conta disso, o analista da Safras & Mercado trouxe uma análise da tendência daqui para a frente.
O primeiro ponto que Gutierrez destacou, é que quem está elevando o preço da soja neste momento é o dólar.
“Portanto, é difícil prever algo. A crise com o coronavírus deve manter a moeda dos Estados Unidos valorizada, mas quando isso começar a passar, ninguém sabe como se comportará o mercado”, afirma.
Segundo ele, não existe consenso se o câmbio fechará o ano a R$ 5 ou R$ 6, ou bem menos que isso.
“Assim como, antes de tudo isso acontecer quando o dólar estava em R$ 4, não existia ninguém que falasse em câmbio a R$ 5. A verdade é, agora que rompemos barreiras impensáveis, tudo pode acontecer. Já tem gente falando em câmbio a R$ 6, sim. Agora imagina onde vai parar o preço da soja se chegar nestes R$ 6”, pondera.
Mas vale lembrar que o Brasil já negociou mais de 75% e isso, segundo o analista, enfraquece um pouco o interesse dos compradores, assim como os altos valores.
“Sempre quando o dólar atinge uma alta relevante o mercado vendedor se agita. Como o volume da safra já negociado é grande, o mercado começa a trabalhar em um ritmo um pouco mais lento e os compradores devem se retrair um pouco e os negócios devem ficar mais difíceis de fechar”, diz ele.
Segundo semestre terá oportunidades?
A outra pergunta que não quer calar é se o Brasil tem potencial para fazer bons negócio na soja no segundo semestre. Gutierrez foi direto na resposta: “Sim, os preços podem se elevar”, diz. Mas pondera. “Mas isso não é certo, nem é garantido.”
Uma outra ponta que, aliada ao dólar, pode fazer o preço da soja subir no segundo semestre é a cotação na Bolsa de Chicago.
“Se ocorrer um grande volume de compras chinesas dos Estados Unidos, a partir do segundo semestre, podem sim trazer força para soja na Bolsa. Mas mesmo assim, não acredito que tenha potencial para ultrapassar os US$ 9,50 ou US$ 10 por bushel”, afirma.
De qualquer maneira, ele acredita que o Brasil poderá exportar de 2 a 3 milhões de toneladas por mês no segundo semestre. “Ou seja, os produtores que ainda tiverem soja para vender poderão encontrar oportunidades de preços bastante atrativos. Se eles serão mais altos que agora, é impossível prever, a tendência diz que não”, finaliza.