Enquanto todo o Brasil se encaminha para o final da colheita da soja, em Roraima, vários produtores rurais acabaram de dar a largada para sua safra 2020/2020. A explicação é simples, como o estado se encontra no Hemisfério Norte, o plantio da oleaginosa começa entre abril e maio. Mas, não é só isso, já que o estado se diferencia do restante do Brasil em quase tudo: tempo de sol, ciclo da planta, preço da saca entre outros, confira!
O estado de Roraima ainda não figura entre os grandes produtores de soja do país. Por lá são cultivados em torno de 50 mil hectares com a cultura. Segundo o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do estado, Aluizio Nascimento, o estado não deve ser considerado a última fronteira agrícola.
“Aqui não é a última, ou única, é a melhor fronteira agrícola do Brasil. Quem vem aqui entende rapidamente o que quero dizer”, afirma Nascimento, que também é produtor rural.
Mas antes de falar das vantagens dessa fronteira para a soja nacional, é importante destacar as diferenças dele em relação aos demais estados. O plantio por lá, começa próximo a 25 de abril e vai até pelo menos o dia 5 de junho. Como a colheita é feita ainda no mesmo ano, entre agosto e setembro, por esta razão que consideram esta safra 2020/2020.
“O regime de chuvas está muito bom por aqui e a perspectiva é colher pelo menos 165 mil toneladas do grão” afirma o governador do estado, Antonio Denarium.
Plantio começa
Na propriedade do empresário rural, Alcione Nicoletti, em Alto Alegre (RR), em torno de 300 hectares já foram cultivados com a soja nesta safra. A expectativa é que sejam semeados 3.500 hectares com a oleaginosa nesta temporada, mesma área plantada no ano anterior.
“As chuvas beneficiaram e conseguimos antecipar em uma semana o início dos trabalhos nos campos. A diferença nesta temporada é que os produtores estão investindo mais em variedades transgênicas, com ciclo indeterminado, com isso, conseguimos arriscar mais”, diz o empresário rural.
Além disso, houve um aumento nos investimentos em calcário e preparo de solo. Consequentemente, a perspectiva do produtor rural é de um aumento na produtividade das lavouras de soja, para 55 sacas do grão por hectare. Na safra de 2019/2019, o rendimento médio foi de 50 sacas de soja por hectare.
E, não foi só lá que o plantio começou, o secretário de agricultura de Boa Vista, Marlon Buss, outros produtores já confirmaram o início dos trabalhos.
“Por aqui, já tem alguns produtores iniciando os trabalhos, mas eu diria que foi somente para regular a plantadeira. Tivemos boas chuvas em todo o estado. O plantio deve ganhar ritmo a partir do dia 10 de maio no estado. A novidade é que tivemos a vinda de muitos agricultores interessados em investir em áreas novas esse ano”, afirma Buss.
O dia mais longo de Roraima
Como dito antes, Roraima é um estado bastante distinto dos demais do país, ainda mais quando o assunto é agricultura. Começando pelo tempo de sol. A brincadeira entre moradores de lá, é que Roraima tem um sol para cada pessoa. Isso porque o tempo efetivo de luz solar (que não considera o amanhecer e nem o entardecer) é maior que outros estados.
“O dia mais curto, em Boa Vista, é de 11h57 de luz efetiva, e o dia mais longo tem 12h17. Ou seja temos uma média de luz efetiva de 12h08 por ano. Sem contar que não temos dias nublados e isso traz uma insolação fantástica para a cultura, gerando mais fotossíntese e um desenvolvimento acelerado das plantas”, afirma Nascimento.
Na prática e, na soja, o que o secretário quis dizer é que o ciclo normal da planta fica menor. “Uma variedade de 120 dias, deve estar pronta em 100 dias por aqui. Nossas variedades transgênicas e convencionais levam de 95 e 105 dias. Aqueles que preferem uma soja de ciclo longo, levam no máximo 110 dias para terminar a safra”, afirma.
Mais óleo e proteína
O tempo de sol traz outra vantagem a soja do estado. Graças a maior tempo de fotossíntese da plantas, os grãos de soja de Roraima apresentam maiores teores de proteína e óleo.
“Um processo que já está tramitando dentro do Ministério da Agricultura irá tornar Roraima o primeiro estado a comprovar que a soja do estado possui mais óleo e mais proteína. Isso é uma grande vantagem, pois como no futuro estes dois itens serão mais importantes que, toneladas de grão, já damos um passo à frente”, diz o secretário Aluizio Nascimento.
Terras baratas
Como toda fronteira agrícola, um dos principais atrativos é o preço do hectare. E, lá não é diferente. Segundo o governador Antonio Denarium, além dos preços há boa quantidade de terras a disposição dos agricultores.
“Por a aqui, normalmente o preço das terras é mais barato que em outros estados. Variam em torno de R$ 3 mil a R$ 5 mil, por hectare. Além disso, há muitas terras para serem adquiridas e as oportunidades são grandes”, diz.
Logística promissora
Atualmente, a logística do estado é: colhe-se em Roraima e a soja é transportada até Manaus por caminhões, em um trajeto de 750 quilômetros. Lá, a soja é embarcada em um porto flutuante para a compradora, de onde será levada via balsas para portos (onde serão transbordadas para navios), seguindo para os diversos destinos no mundo. Mas o estado já vislumbra uma rota mais interessante e menos custosa.
“Queremos embarcar a soja diretamente de Roraima para Georgetown (Porto na Guiana). Onde o trajeto é menor, de apenas a 678 quilômetros. Dali até o Panamá o transporte levaria metade do tempo atual, consequentemente com um custo bem menor e um tempo de logística bem curto”, reitera o governador Antonio Denarium.
Para um comparativo, a soja que sai de Sorriso, em Mato Grosso, percorre 2,2 mil quilômetros até o porto de Paranaguá (44 horas) e dali até o Panamá são quase 14 dias de transporte marítimo.
“Para isso dar certo falta o asfaltamento de 400 quilômetros no trajeto até a Guiana. Mas para o estado isso será muito importante, pois nos dará a melhor competitividade de soja em área próximo ao porto”, diz Denarium.
Preço da saca
Bom, se todos os itens acima ainda não convenceram que plantar soja em Roraima pode ser uma oportunidade, o que falar de a saca ser negociada a R$ 100?
“O preço médio da saca de soja em Roraima é o mesmo que se registra em Cascavel. A saca aqui chegou a ser negociada a R$ 100 por saca para entrega em outubro. Os preços aqui ficarão até ser maiores quando a logística até a Guiana for instaurada e teremos preços iguais aos de Paranaguá”, prevê Aluizio Nascimento.