Valor de terras com grãos quadruplica em dez anos, mas o mercado não está fácil para vendedores e compradores
Daniel Popov, de São Paulo
A soja é a principal cultura agrícola do país, com uma área estimada hoje em 34,1 milhões de hectares. As altas cotações da oleaginosa também têm trazido bons rendimentos aos agricultores e consequentemente, valorizado as terras que as produzem. Prova disso é que em dez anos, um hectare com grãos no Brasil passou de R$ 5 mil em média, para pouco mais de R$ 20 mil, alta de 300%. No entanto, a crise econômica e política enfrentada no país não favoreceram nem os compradores, nem os vendedores e os negócios estão parados neste ano.
O preço das terras nunca esteve tão elevado no país, principalmente as que produzem grãos, como soja e milho. Mas, isso não significou bons ventos para as comercializações, que estão praticamente estagnadas este ano, devido à crise econômica e política do país. “Não tivemos negócios em grandes volumes de terra este ano. Está tudo meio parado”, afirma Márcio Perin, analista de mercado da Informa Economics IEG / FNP. “O dono da terra sabe quanto vale suas terras e não vendeu por menos. Já o comprador sabia que não era o momento certo para investir.”
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Segundo Perin, as poucas negociações aconteceram entre vizinhos e em volumes pequenos de terras, devido à facilidade de unir as operações e utilizar a mesma infraestrutura, economizando um bom dinheiro. “Ninguém quer arriscar neste momento. Não sabemos os rumos que o país tomará. Os produtores preferiram fechar negócios com vizinhos para minimizar os riscos”, frisa ele. “Apesar disso, a pesquisa por terras foi grande, principalmente no Mato Grosso e Bahia.”
O valor do hectare em Mato Grosso está na casa dos R$ 15,5 mil em média, valor muito superior aos R$ 3,8 mil de dez anos atrás, ou seja, alta de 308% no período. Se comparado ao ano passado, o valor do hectare cresceu apenas 2,38%.
Apesar desta super valorização, um hectare mato-grossense ainda vale metade de um terreno no Paraná. Neste ano, um hectare por lá valia em média R$ 31,9 mil, valor 285% maior que em 2006 e apenas 5% maior que no ano passado.
O hectare paranaense pode ser o mais caro do país, mas não foi o que mais se valorizou em dez anos. Em Goiás, o valor do hectare que valia R$ 3,7 mil em 2006, supera hoje a casa dos R$ 21,7 mil.
A mais recente fronteira agrícola do país, até então, o Matopiba, que reune o Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia viu os valores médios saltarem de R$ 2,4 mil, em média, há dez anos, para R$ 11,7 mil neste ano. “Junto com Mato Grosso, o Matopiba segue como o lugar mais pesquisado por compradores”, comenta Perin. “Mas, o que temos notado é uma procura bastante elevada por terras na região Norte do país, como Amapá e Roraima.”
A viabilidade do cultivo da soja no Norte do Brasil estão transformando a região em uma terra de oportunidades, garante o analista da Informa Economics IEG / FNP. Com a lucratividade da commodity e a proximidade com portos, rodovias e hidrovias, a procura por terras agricultáveis em estados como Roraima, Pará e Amapá estão muito elevadas. É claro, que o valor do hectare é bem mais acessível nestas regiões, com a venda de um hectare no Paraná é possível comprar 12 hectares em Roraima, ou 4 hectares no Pará. O levantamento da consultoria ainda não conseguiu computar valores do Amapá. “O que dificulta o processo de compra e venda nestas regiões são as questões fundiárias e indígenas”, conta Perin. “É preciso ficar atento para não perder dinheiro.”
Por fim, Perin explica que apesar dos vendedores não baixarem a pedido pelo hectare, os prazos para pagamentos foram flexibilizados. O prazo médio para pagamento que até então era de cinco anos, foi estendido para até 10 anos. “Os produtores estão colocando algumas sacas de soja a mais no valor do hectare e estendendo o prazo de pagamento para tentar ganhar o comprador”, diz o analista. “Mas, nem isso tem ajudado a movimentar o mercado, que só deve voltar ao normal em meados de 2018.”