Morando com os pais em Boca do Monte (RS), Andressa Bordin não sabia ainda aonde queria chegar durante a juventude. As coisas que ocupavam seu tempo naquela época passavam longe da agricultura e seus sonhos nunca esbarravam na propriedade rural e no trator que possui hoje.
O pouco que levava consigo sobre o campo ainda era muito superficial. “Tinha contato através dos meus tios, agricultores, mas não muito, apenas ouvia eles contando”. Assim, imaginava que seu futuro seguiria outro caminho, e não esperava ter que lidar tão cedo com os imprevistos da vida.
Filha de enfermeira com um comerciante, Andressa teve que aprender rápido a se desdobrar quando imprevistos apareceram pela frente. Aos 14 anos, uma vida chamada Yuri crescia em sua barriga e, ao mesmo tempo em que se unia à ela, a adolescente se afastava de outras pessoas. Nesse período, deixou a casa de seus pais e foi morar em São Martinho da Serra (RS) com o marido, Ivan, e os sogros, que eram agricultores.
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“Foi um período difícil, não pude continuar estudando porque estava grávida, então comecei a trabalhar na lavoura com meu marido, na agricultura familiar”, conta Andressa. A troca dos livros escolares pela lida do campo não foi proposital mas deu a ela a chance de conhecer o que realmente queria para seu futuro e de se unir mais ainda a outras mulheres.
Entre tirar leite, fazer queijos e fazer o manejo da safra, o encontro de Andressa com o campo foi mais forte do que pensava, e até a lavoura ganhou um cuidado inusitado vindo das mãos da agricultora. “Comecei a tomar gosto pela coisa, fui indo devagarinho, aprendendo de tudo um pouco”, lembra.
O motivo de sua aproximação com o campo tem rosto e nome. Terezinha Gracioli, sogra de Andressa, ofereceu um novo caminho para a jovem ao apresentar a agricultura como realmente é. Afastada dos estudos, ela foi seguindo em direção ao campo e encontrou na mãe do marido uma aliada e professora perfeita. “Foi ela quem me ensinou tudo. Tudo que eu sei devo a ela”, diz.
O apoio da sogra e de todos da família do esposo foi além da atividade rural. Eles abraçaram Andressa no campo e na vida, principalmente quando seu pai, Helton, faleceu em um acidente de moto.
Com apenas 18 anos, um filho para criar e longe da mãe, uma das poucas coisas que a deixava de pé naquele momento era a lavoura e as pessoas que estavam à sua volta.
Com uma trajetória passando por aproximações e perdas, uma outra vida encontrou a da agricultora, que aos 20 anos ficou grávida da pequena Isabelly, mais uma menina que se tornaria sua grande aliada.
Apesar da vida que foi somada à dela, Andressa teve que lidar com a perda de quem mais a apoiou no campo. Há dois anos Terezinha começou a ter problemas de saúde e acabou falecendo. “Ninguém estava esperando por isso”, conta.
Mesmo não estando mais presente, a sogra deixou um legado para a agricultora, que ela perpetua todos os dias através do seu trabalho. Como os cuidados com a safra não podiam parar e ela estava lado a lado do que mais gostava de fazer, Andressa seguia tentando realizar seus sonhos no campo. Um deles era bastante diferente: um trator rosa, que inclusive virou notícia no Canal Rural.
“Desde que comecei a ir para a lavoura eu dizia que um dia teria um trator rosa. A gente precisava de uma máquina a mais e eu fiquei muito empolgada. Meu marido achou engraçado, mas topou”, diz ela. Andressa e Ivan não descansaram até encontrar uma empresa que aceitasse o desafio.
A agricultora conseguiu realizar seu desejo e ainda ganhou um pouco mais. Em outubro de 2018, ela foi convidada para ser fazer uma propaganda da empresa para o Outubro Rosa, campanha de conscientização para a prevenção do câncer de mama.
“Eu agradeço muito por terem realizado meu sonho. A emoção e a alegria cada vez que entro no meu trator é muito grande. Essa é a minha paixão”, conta ela.
A paixão dela também se estende ao orgulho que tem dos filhos. “Meu menino ama a lavoura e a minha menina diz que quer ser igual a mãe. Isso vale todo o sofrimento vivido na lida e no campo”.
*sob supervisão de Francielle Bertolacini
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