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Agronomia Sustentável

Agronomia Sustentável: engenheiros atuam em toda a cadeia produtiva da moda

Plantio de algodão sem impactos ambientais, produção de fibras recicláveis e redução do consumo de água na confecção são algumas das tarefas lideradas por esses profissionais

A indústria têxtil é o segundo setor de transformação que mais emprega no Brasil. Entre os trabalhadores da área, existem engenheiros de diversas áreas. Este foi o destaque do terceiro episódio da terceira temporada do programa Agronomia Sustentável, que percorreu a cadeia da moda para mostrar todo o ciclo de produção das roupas que servem de vestimenta e símbolo de expressão da sociedade.

Antes de uma peça desfilar nas principais passarelas do mundo, o trabalho começa no campo. No caso das peças de algodão, o processo inicia com o preparo do solo e a escolha da semente. “O primeiro passo é ter uma semente com procedência, certificada. Algumas características são importantes quando se vai comprá-la, como pureza genética, alto poder de germinação e vigor, porque isso garante um bom estabelecimento da lavoura”, informa o engenheiro agrônomo Doglas Broetto.

algodão
Foto: Pacelli

Depois do plantio e da colheita, vem a armazenagem, o beneficiamento e, então, entram em ação outras engenharias. De acordo com o engenheiro industrial mecânico James Nadin, seu papel é o de garantir que os artigos sejam feitos dentro das especificações necessárias, o que envolve as cores corretas da peça. “Acompanhamos  todo o processo produtivo desde o túnel, a tinturaria, a tecelagem, o acabamento final, a revisão, a embalagem e a entrega”, resume.

Ele trabalha em uma região do estado de São Paulo considerada referência na indústria têxtil nacional, localizada entre os municípios de Hortolândia, Nova Odessa, Americana, Sumaré e Santa Bárbara D’Oeste. São mais de 1.200 confecções, que representam quase 3% do Produto Interno Brasileiro (PIB). Por lá, as questões ambientais sempre entram na pauta. “Fora as nossas certificações, utilizamos matérias-primas e produtos corretos. Temos a estação de tratamento de efluentes mais moderna e tecnológica das indústrias têxteis do Brasil”, conta Nadin.

Sustentabilidade na moda

A sustentabilidade é um grande desafio no setor da moda, considerado um dos mais poluentes do mundo, especialmente por conta do poliéster. Contudo, a inspetora do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea-SP) e engenheira ambiental Maria Constantino lembra que olhar apenas o caráter ambiental sem se atentar ao social e econômico não é o correto, independente da área.

“A sustentabilidade visa melhorar a sua vida como indivíduo e também a sociedade. Ela é o equilíbrio para que nós possamos realmente desenvolver como sociedade, gerar emprego e economia e preservar os recursos naturais que são finitos”, declara. Segundo ela, também entra nessa conta a saúde e segurança do trabalho.

Foto: Sara Kirchhof/Canal Rural

“O Crea, ao fiscalizar as condições de trabalho e a engenharia de segurança de certa indústria está garantindo que a pessoa que fez a roupa que a população usa teve uma condição social, legal de poder fazer esse processo. Infelizmente o que é produzido fora do Brasil não tem esse tipo de fiscalização, então uma grande dica que sempre dou em relação à indústria têxtil, para deixá-la mais sustentável, é consumir produtos nacionais”.

Procedência do algodão

A história da moda no mundo começou em meados do século 15, no início do Renascimento europeu. “A moda é comportamento. Mesmo quem a nega está, de alguma forma, se relacionando com ela através da negação”, acredita a engenheira mecânica têxtil Maria José Orione. Ela é diretora-acadêmica do Denim City, uma escola de moda localizada no coração do comércio popular de São Paulo.

A intenção do espaço é consolidar o Brasil como um polo de relevância internacional através do dênim, o tecido que dá origem ao famoso jeans. “O algodão chega em fardos da agroindústria, é descaroçado e a fibra virgem é transformada em fio ao longo do processo. Em outro processo temos a fibra reciclada, que são restos de tecido da própria tecelagem ou mesmo da confecção […]”, explica.

No próprio Denim City existe uma estação de tratamento de efluentes e a água utilizada nos processos industriais volta para reúso. Assim, etapas da industrialização que antes gastavam milhões de litros de água são substituídos por técnicas mais modernas. Desta forma, a sustentabilidade da ponta da cadeia corrobora com a do início, visto que o Brasil é uma referência no mercado de algodão no quesito de qualidade e rastreabilidade, sendo o maior exportador de algodão sustentável do mundo.

Foto: Pixabay

Para comprovar a redução de impactos da fibra, a Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) implantou o projeto Sou de Algodão. “O consumir chega na loja e através do QR Code [na etiqueta da roupa] tem acesso à toda a história do algodão e é inserido nesta história porque, no fim, vai utilizar essa peça”, conta o engenheiro agrônomo e presidente da entidade, Júlio Busato.

Atualmente, mais de 800 marcas já estão engajadas no movimento. “O projeto Sou de Algodão aproxima o designer de moda, então é muito importante quando vemos que há um cuidado desde o plantio até o algodão crescer, colher e todo o tratamento para depois virar o fio e o tecido”, considera o estilista Isaac Silva.

Relevância econômica do setor

Em 2020, o setor têxtil faturou 194 bilhões de reais no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Já em 2019, estima-se que a indústria nacional tenha produzido nove bilhões de peças, ultrapassando 20 milhões de toneladas de roupas. Esses números colocam o Brasil no patamar de maior cadeia têxtil completa de todo o Ocidente.

Neste universo, também trabalham engenheiros químicos, como o Caio Campiotto, que atua em uma indústria de Americana, em São Paulo. Ele afirma que profissionais com sua formação atuam desde o projeto e planejamento de uma planta fabril até a operação e gestão de resíduos. “Quando olho para o desenvolvimento de produtos ou no momento em que dimensiono equipamentos, tenho de pensar em quão eficientes e ecológicos eles são em termos de emissão de poluentes e consumo de recursos naturais, sempre pensando nas gerações futuras”, diz.

Já em Santa Catarina, outro estado relevante no setor, a indústria têxtil, confecção, couro e calçado conta com 8.937 estabelecimentos, conforme a Abit. Desta forma, representa 17,2% da indústria do estado e também é focada em sustentabilidade na produção.

O próximo episódio da série vai mostrar o trabalho de engenheiros na meteorologia. O programa Agronomia Sustentável é uma realização do Canal Rural com o Sistema Confea e Crea, e vai ao ar todos os sábados, às 9h, com reprise aos domingos, às 7h30.

 

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