O envolvimento de centenas de profissionais da engenharia desde o plantio da semente, beneficiamento do produto e envio do alimento à mesa dos brasileiros. Este é o foco do sexto episódio da terceira temporada do programa Agronomia Sustentável.
Tudo começa na terra, foco de atuação do geólogo. “O solo é providencial porque tem a porosidade que guarda a água. Essa umidade, juntamente com os compostos químicos liberados pela rocha, nutrem a planta. Tudo isso forma as melhores condições para o vegetal se instalar”, resume o geólogo Edison Archela.
No Brasil, o solo é composto de três estruturas geológicas e questões de tempo, clima, relevo e água determinam sua fertilidade. Archela é professor da Universidade Estadual de Londrina, no Paraná. A região tinha solo com condições desfavoráveis até décadas atrás, mas se tornou grande produtora de alimentos graças à rotação de culturas, pesquisa e tecnologia.
Desta forma, na função de alimentar o mundo, o engenheiro agrônomo é um dos protagonistas. Apenas no Brasil são mais de 120 mil profissionais registrados. O presidente da Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil (Confaeab), Kleber Souza, destaca que o papel do trabalhador da área não se limita ao abastecimento, mas também se faz presente na qualidade dos alimentos fornecidos à população. “A rastreabilidade é a segurança do consumidor sobre a origem do alimento. Se tem rastreabilidade, tem engenheiro agrônomo acompanhando o processo produtivo”, destaca.
Do plantio à indústria
Todo este trabalho começa no campo, com o agricultor. O produtor rural Pérsio Ailton Tosi, de Mato Grosso do Sul, por exemplo, salienta que é gratificante participar deste processo. “Sempre obedecendo os princípios das práticas adequadas, temos o cuidado tanto com a segurança do trabalhador quanto com os produtos que utilizamos. Mais do que lucratividade, temos a satisfação”, afirma.
Depois do trabalho em campo, vem o transporte, o armazenamento e o beneficiamento. E é na indústria que o produto se transforma e vira alimento. Nesta etapa, entra também a figura do engenheiro de produção, cuja atividade é voltada a deixar os processos mais eficientes e sustentáveis. “Esse profissional atua com projetos visando a otimização, redução de desperdícios e de custos. Conseguimos buscar melhores formas de realizar o processo produtivo, seja na cadeia alimentícia ou em outras, para fazer mais com menos”, explica o engenheiro de produção Davi Sotti.
Do moinho à padaria
O item indispensável no café da manhã dos brasileiros, o pãozinho, começa a ser produzido na pesquisa pela melhor semente em laboratório. Após passar por todo o trabalho do campo e ser armazenado e transportado, vai parar na indústria, como a cooperativa Coamo, de Campo Mourão, no Paraná. O engenheiro químico Romão Ferreira Neto conta que a equipe recebe o trigo no moinho, faz a classificação e coloca-o dentro do silo de recebimento.
“De acordo com o que a área comercial está vendendo para atender aos clientes, buscamos essa matéria-prima para atender sempre todos os padrões de nossos produtos internamento ou os padrões dos clientes”, conta. Ele mostra que uma bag de 1.250 quilos de farinha, por exemplo, pode render até 22 mil pães ou 2.500 pacotes de massa de 500 g. Operando na capacidade máxima, a cooperativa consegue transformar 700 toneladas de trigo em mais de 542 toneladas de farinha.
Para saber se a qualidade da farinha atende aos padrões, ela é direcionada ao laboratório, onde é analisada pelo engenheiro de alimentos. “Neste laboratório, executamos 12 análises que envolvem toda a reologia (ramo da ciência que estuda as deformações e escoamentos da matéria) do trigo, ou seja, como está a força, a elasticidade, glúten úmido e seco, entre outras características, que são análises importantes para caracterizar o tipo de farinha destinada a uma produção de uma pré-mistura de uma farinha de curta ou longa fermentação”, detalha o engenheiro de alimentos da cooperativa, Luís Volpato.
E o executor do trabalho final, o padeiro, sabe, também, que até o produto chegar a ele, passou pelas mãos de muitos engenheiros. “Desde o início da cadeia de produção, desde o trigo que trabalhamos, produzido no sudoeste do estado do Paraná, até o nosso maquinário, que é produzido no Rio Grande do Sul, tudo passa pela engenharia, seja a engenharia ambiental ou a de produtos”, diz o mestre padeiro João Paulo Massi.
No caso do trigo, o Brasil ainda não é autossuficiente. Assim, se falta produto, entra em ação a figura do engenheiro naval e outros profissionais para trazer a matéria-prima para solo nacional. No entanto, o país embarca para fora muito mais alimentos do que importa, sendo o terceiro maior produtor do mundo e o segundo maior exportador global.
Todas essas engenharias abordadas no Agronomia Sustentável fazem parte do rol de profissões do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), órgão que, juntamente com os Conselhos Regionais (Creas) e a Mútua, dividem parceria com o Canal Rural na realização desta série. O programa vai ao ar todos os sábados, às 9h (horário de Brasília), com reprises aos domingos, às 7h30.