A participação das engenharias nas inovações tecnológicas que permeiam a sociedade é o tema do segundo episódio da terceira temporada do Agronomia Sustentável. Por mais que a efervescência das novidades esteja em voga no mundo atual, o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea-SP), Vinicius Marchese Marinelli, enfatiza que não é de hoje que tais segmentos possuem a responsabilidade pelas mudanças em curso.
“Culturalmente, os profissionais das engenharias, agronomia e geociências já são associados à tecnologia”, enfatiza. Segundo ele, é possível ver a participação desses agentes nos mais diversos ramos, desde o aparato de um centro cirúrgico hospitalar à tecnologia na agricultura, setor este que não permitiu o desabastecimento de alimentos em uma fase tão aguda quanto a vivida atualmente sob o efeito da pandemia de Covid-19.
Falando nisso, o trabalho do engenheiro agrônomo Marcos Nascimbem Ferraz tem tudo a ver com inovação. Ele criou a SmartAgri, uma startup que trabalha com agricultura de precisão. O carro-chefe da empresa atualmente é um pulverizador com sensores que detectam com exatidão a localização da planta. Tal facilidade é capaz de gerar uma economia de até 90% na aplicação de defensivos, de acordo com o profissional.
“Temos engenheiro elétrico na parte de desenvolvimento, engenheiro mecatrônico e engenheiro de computação. É uma equipe multidisciplinar que acaba tendo sinergia em prol de um agro mais sustentável, tecnológico e eficiente”, afirma.
Berço da inovação
A empresa de Ferraz nasceu dentro da EsalqTec, em Piracicaba, no interior de São Paulo. A cidade é conhecida como o Vale do Silício do agronegócio brasileiro em função do grande número de startups voltadas ao campo, as chamadas Agtechs. Foi nesse lugar que, entre tantas ideias, nasceu o Vale do Mirtilo.
“Nessa vitrine tecnológica, embarcamos tecnologia para melhoria e sustentabilidade desta produção, como, por exemplo, a irrigação inteligente, bioinsumos e, também, o desenvolvimento de mudas de mirtilo através da micro-propagação in vitro“, explica o engenheiro agrônomo da EsalqTech, Sergio Marcus Barbosa. Hoje, 70% do mirtilo (também conhecido como blueberry) consumido no Brasil vem de fora. Em apenas um hectare, pode-se produzir até dez toneladas da fruta.
Ainda em Piracicaba, a equipe do Agronomia Sustentável foi até a AgTech Garage. Trata-se de um hub com consultorias, agências, fundos de investimentos e escolas. Possui em sua comunidade online mais de 900 startups cadastradas gratuitamente e que têm acesso facilitado a uma rede de 60 empresas parceiras. De acordo com o engenheiro químico Vanderlei Rocha, dentro do ecossistema da AgTech existem startups que trabalham com diversos segmentos do agro, desde a rastreabilidade de frutas até o empoderamento do produtor rural na ponta da cadeia.
Moradia instantânea
O engenheiro civil Alexandre Lafer é CEO da Housi, considerada a primeira plataforma de moradia flexível 100% digital do mundo. Trata-se de um modelo de negócios de casa por assinatura em que o morador tem todas as suas despesas condensadas em um único plano. Os imóveis ficam em pontos centrais das cidades e os usuários têm acesso à infraestrutura completa, como academia, lavanderia e até adega compartilhada.
De acordo com Lafer, o aluguel pode ser feito durante o tempo em que o morador quiser, sem burocracia e em menos de um minuto. “O negócio começou dentro de um apartamento de 20 metros quadrados com pouquíssimas pessoas. A gente começou operando dois apartamentos e hoje estamos em 120 cidades com mais de 200 mil apartamentos. São milhares de moradores e milhares de locações flexíveis executadas”, explica o CEO. A ideia, conforme ele, é expandir para outros países da América Latina e Europa.
Economia de energia
A startup criada pelo engenheiro ambiental Ricardo Oliveira tem o objetivo de fazer as empresas economizarem energia. Nos últimos dois anos, a Cubi Energia já fez seus clientes pouparem 20 milhões de reais. “Como engenheiro ambiental, meu desafio não é o de resolver o problema do mundo, mas de deixá-lo um pouco mais sustentável do que quando o encontrei”, constata.
Já em Cuiabá, Mato Grosso, outro polo de inovação tecnológica do país, a estudante de agronomia Aline Ferreira Ramos desenvolveu um produto para ajudar no desenvolvimento da agricultura urbana: o solo líquido. O material contém nutrientes e água suficientes para manter o desenvolvimento de plantas de pequeno e médio portes. Dessa forma, minimiza o uso de recursos hídricos e de impactos à natureza.
“Hoje sabemos que o tempo na cidade é um elemento muito limitado por conta da correria em que vivemos. Muitas pessoas gostam de ter plantas em casa, mas não têm tempo de cuidar, de cultivar, de fazer a rega. Às vezes a pessoa viaja e não tem com quem deixá-las. O solo líquido permite o cultivo de forma rápida e fácil, sem demandar tempo de cuidado da planta”, afirma.
A inovação tem se expandido com cada vez mais força pelo país. São 55 parques tecnológicos em operação, oito em implantação e mais oito em planejamento, de acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Um exemplo é Santa Catarina, que já possui o sexto maior ecossistema tecnológico do país em número de empresas. “A inovação é um tema para todos, desde o pequeno agricultor às grandes agroindústrias. Todo mundo precisa olhar para essa busca por inovação, por adaptação como sendo a sua ordem do dia”, acredita a mestre em Administração Iuana Réus.
No próximo episódio, a atuação de engenheiros na moda será o destaque. A série Agronomia Sustentável é uma parceria do Canal Rural com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) e os Creas e é exibida todos os sábados às 9h, com reprise aos domingos, às 7h30.