No atual ritmo de crescimento, a população mundial deve atingir 8,5 bilhões de pessoas até o ano de 2030. Já na metade do século, a projeção é que o número ultrapasse 9,7 bilhões de habitantes, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Com tamanha expansão, a oferta de energia para todos é um obstáculo a ser transposto. Sair da dependência das fontes fósseis e ir ao encontro das renováveis é o desafio, e existem muitos engenheiros trabalhando por isso. Este é o foco do último episódio da terceira temporada do programa Agronomia Sustentável.
Para diversificar a matriz energética brasileira, uma das apostas é a energia gerada pelos ventos. “A energia eólica é limpa e não produz nenhum tipo de resíduo. Nossos impactos ambientais são muito baixos, se comparados a outras fontes de energia. Mesmo a hidrelétrica, que é renovável, causa impactos na construção de grandes barragens […]”, afirma o especialista em energia eólica Márcio Mauriz Leal.
Atualmente, a energia gerada pela força dos ventos é considerada a terceira maior fonte de geração de eletricidade do país. Já são mais de 750 parques eólicos em operação em solo nacional, com mais de dez mil turbinas espalhadas em diferentes regiões. Um desses parques fica localizado na região dos Deltas, em Parnaíba, litoral do Piauí. O estado ocupa a quarta posição entre os maiores geradores do país e, por lá, a força dos ventos resolveu uma antiga dor de cabeça. “Tínhamos bastante problemas de falta de energia, de interrupção no fornecimento, até porque essa energia que abastecia a região vinha de hidrelétricas de muito longe e, com o reforço das eólicas, tivemos uma garantia maior, o que deu maior confiabilidade na energia de toda a planície litorânea”, explica Leal.
Trabalho multidisciplinar
A energia eólica instalada em Parnaíba é suficiente para abastecer toda a cidade e também um pouco da região. Em termos nacionais, o Brasil conseguiu atingir a capacidade instalada de 21 gigawatts em janeiro deste ano, fazendo parte do ranking dos dez maiores produtores da fonte do mundo.
Duas empresas gerenciam o parque eólico da cidade. Em uma das subestações, que escoa a energia do Delta 1, o trabalho de engenheiros eletricistas, mecânicos, florestais, de controle de automação e de outros perfis atuam sob a área de Engenharia, que coordena essas áreas multidisciplinares para a manutenção e operação de todo o sistema.
O engenheiro ambiental Pedro Sena, por exemplo, é um desses profissionais. “Para que o empreendimento tenha suas atividades econômicas operando de forma legal e sustentável, entra o papel do engenheiro ambiental, aquele que vai desenvolver projetos, ações e medidas mitigadoras para que minimize ou evitem qualquer tipo de impacto ambiental que venha ser ocasionado tanto pela implantação quanto pela operação do empreendimento […]”, afirma.
O complexo conta com um viveiro de mudas. A ideia é fazer a recomposição de floresta nativa de 92 hectares, com mais de 15 espécies diferentes. O engenheiro agrônomo Adolfo Costa trabalha por lá e busca dar toda a assistência técnica para o preparo do solo, o cuidado com as sementes e o plantio. Ele atua na consultoria de gestão socioambiental que fechou parceria com a empresa em um projeto com duração de três anos, resultando, ainda, em uma associação de produtores rurais, beneficiando o meio ambiente e fomentando a geração de renda para 17 famílias da região. “É um projeto ambiental onde potencializamos as nossas áreas de vegetação nativa, aumentando o sequestro de carbono e contribuindo com outros organismos de desenvolvimento sustentável”, detalha Sena.
Energia solar
“Piauí terra querida, filha do sol do Equador”. O trecho do hino do estado já faz menção ao sol e não é à toa. “Piauí tem os maiores índices de radiação do Brasil e, atrelado a isso, temos condições climáticas extremamente favoráveis, empreendedores que estão aqui para investir e as pessoas cada vez mais se dando conta de que a energia solar é um caminho sem volta, seja pelo viés econômico ou ambiental”, diz o engenheiro eletricista Marcos Lira.
A vocação do estado na fonte que provém do sol é tanta que os dois maiores parques fotovoltaicos da América Latina estão localizados em solo piauiense. Aliás, o Brasil, como um todo, foi o quarto país que mais acrescentou capacidade de energia solar no mundo em 2021, com 5,6 GW de incremento, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica.
“Quando falamos em energia renovável, estamos falando do antes, que é o aspecto do projeto, a etapa de instalação, de operação e o pós e em todas elas o papel da engenharia é extremamente importante, sobretudo os engenheiros elétricos, os civis, os de produção, os mecânicos […]”, explica Lira.
A média de retorno do investimento de uma instalação fotovoltaica é de três anos e a vida útil dos equipamentos é de 25 anos, mas o efeito é imediato. “Há um alívio na rede local em virtude da produção da energia produzida em uma usina é jogada na rede e consumida por todos os que estão ao redor”, afirma o engenheiro de produção Andrei Costa.
Para o engenheiro elétrico Wilson Rosas de Vasconcelos, as energias renováveis são o ponto de mudança da sociedade para sair da dependência do carbono, sendo que o hidrogênio verde é outra fonte que promete chegar com força no Piauí. “Toda sociedade que precisa crescer precisa demandar mais energia. As fontes solar e eólica estão aí para dar mais liberdade e celeridade a este crescimento”.
O programa é uma realização do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Mútua e Canal Rural e vai ao ar todos os sábados, às 9h (horário de Brasília), com reprises aos domingos, às 7h30.