A agricultura familiar é bastante presente no Brasil, mas é no Paraná que ela expressa seu potencial máximo. Isso porque o cooperativismo tem mostrado a sua força no estado nos últimos anos. Neste universo, o terceiro episódio da quarta temporada do Agronomia Sustentável foca no papel das engenharias na produção agrícola, sustentabilidade e comercialização.
Um exemplo disso é o produtor de leite Fausto Katsumi Takimura, da região de Piraquarta, cria cerca de 130 animais, sendo 60% de novilhas. Atualmente, 55 vacas estão em lactação, um rebanho que produz, diariamente, cerca de 1.100 litros de leite. Grande parte tem as cooperativas da região como destino.
“Para nós, pequenos produtores, é importante ter a cooperativa para escoar nossos produtos e não ficar só dependente de uma empresa. Assim, se consegue agregar valor. a cooperativa é voltada ao agricultor, para beneficiar o produtor”, considera.
Apoio profissional
Para Takimura, o sucesso na lavoura depende de vários fatores. Ter um profissional especializado que possa orientar no dia a dia faz toda a diferença. O engenheiro agrônomo Frederico Cauduro é o responsável por essa tarefa.
“O papel do engenheiro dentro do cooperativismo vai desde a base, no quadro social das organizações, em suas atividades produtivas essenciais, seja leite, olericultura, grãos, e também junto às organizações na gestão desse quadro social, impulsionando a produtividade, melhorando os rendimentos, em termos de produção total e também com a gestão de pessoas”, conta.
O produtor de leite Márcio Jess, também de Piraquarta, reconhece a importância do cooperativismo em sua atividade. “A cooperativa, além de ajudar um pouco a mais no preço, ajuda em vários setores, como na parte da compra de insumos, comprando em quantidade e distribuindo para o produtor. Ajuda também na assistência técnica, então a cooperativa é fundamental ao pequeno produtor.
Fomento ao cooperativismo
O engenheiro Cauduro conta que a associação também atua em programas públicos de apoio, como o Coopera Paraná. Assim, a cooperativa Copasol Trentina foi contemplada com recursos e, com isso, pode ampliar a sua planta, a sua capacidade de admissão de produtos e de processamento.
A Copasol tem o próprio laticínio e para obter melhor valor de mercado para os cooperados, mantém parcerias com o estado. O médico veterinário e gestor de fomento da empresa, Jarbas Eduardo Ribeiro, conta que a maior parte da produção é voltada exatamente aos programas de apoio conduzidos pela adminstração do executivo paranaense. “Assim, temos um valor de mercado mais seguro para trabalhar e podemos repassar aos produtores com mais segurança”.
Nesta linha, outro fator permanece no radas das cooperativas, que dependem, em grande parte, do fortalecimento da agricultura familiar: a sucessão. “Precisamos promover e potencializar a presença da juventude no campo com oportunidades e condições de produzir alimentos saudáveis e viver com dignidade com a família”, explica o presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf), Elizandro Krajczyk.
Números do cooperativismo paranaense
Dados do Sistema Ocepar mostram que o Paraná possui cerca de 60 cooperativas voltadas ao agro. São 200 mil associados, a maioria pequenos produtores. “No Paraná, as principais cooperativas trabalham com soja, milho, trigo, também as criações de aves, suínos, produção de leite e piscicultura”, conta o engenheiro agrônomo Leonardo Boesche. Segundo ele, propriedades com menos de 50 hectares se encaixam na categoria de pequeno produtor, ou seja, focados em agricultura familiar.
Os anos de 2020 e 2021 foram os melhores da história para o cooperativismo paranaense. O estado registrou crescimento superior a 30% de faturamento anual. “Esse crescimento se dá porque são cooperativas muito focadas na produção de alimentos, algo que todo mundo precisa”.
Líder em produção orgânica
O Paraná é líder nacional em produção orgânica. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), são mais de quatro mil produtores certificados no estado. “Estamos à frente, por exemplo, do Rio Grande do Sul. O Paraná está com 16,5% de toda a produção nacional de alimentos orgânicos. Isso é muito importante”, diz o engenheiro agrônomo Raphael Branco de Araujo.
O profissional conta que os agrônomos são encarregados também da gestão, incluindo a parte burocrática, de recursos, documental, além da própria comercialização. “Mas também temos um engenheiro agônomo na ponta, no campo, dando assistência para o agricultor que é cooperado […]”. De acordo com Araujo, o cooperativismo é uma importante maneira de acesso às políticas públicas, trazendo mais força ao movimento de produção orgânica.
“Na região de Curitiba, temos muitos agricultores que chamamos de ‘neo rurais’, são pessoas que saíram do meio urbano e voltaram para o meio rural porque enxergam que ali há uma qualidade de vida […]”, afirma.
Uma das cooperativas beneficiadas com recursos do Coopera Paraná é a Cooperativa de Agricultores Orgânicos e de Produção Agroecológica (Coaopa). Ela conta com cerca de 380 agricultores familiares. De lá, saem entre 30 e 40 toneladas de alimentos por semana. “Os agricultores trazem os produtos para a cooperativa e nós fazemos a distribuição para, principalmente, os programas governamentais, como o Programa Nacional de Educação Escolar”, explica o engenheiro agrônomo e vive-presidente da cooperativa, Nilton Agner Júnior.
Alta demanda
Para o representante da Coaopa, o interesse da população por produtos orgânicos tem sido cada vez maior e se o governo estabelecer políticas públicas de incentivo ao setor, a produção pode triplicar em pouco tempo.
A Federação de Cooperativas de Agricultura Familiar do Paraná auxilia na comercialização de alimentos produzidos pelos pequenos produtores. Uma das iniciativas é um sacolão localizado dentro de um terminal de ônibus de Curitiba que vende os produtos com preços mais acessíveis e é voltado às famílias em estado de vulnerabilidade social.
O próximo episódio do Agronomia Sustentável tem dois destinos: Maranhão, com engenheiros que atuam em obras civis sustentáveis e reciclagem de resíduos da construção civil; e em São Paulo para conferir como é feito o descarte de resíduos eletroeletrônicos.