A previsão do tempo faz parte do dia a dia da população. Afinal, a decisão de carregar um guarda-chuva na bolsa ou ir à praia no fim de semana está diretamente ligada às condições do clima. No entanto, a meteorologia vai muito além disso e impacta, também, na gestão agropecuária e em outras atividades essenciais que estão atreladas a diferentes engenharias. Para te trazer exemplos desta realidade, o quarto episódio da terceira temporada da série Agronomia Sustentável entrou de cabeça neste universo.
A primeira parada do programa foi no centenário Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), localizado em Brasília. As estimativas climatológicas levantadas pelos técnicos de lá influenciam até mesmo o mercado de ações. Por isso mesmo a entidade e a Brasil Bolsa e Balcão (B3) fecharam uma parceria em 2021 com a intenção de transformar informação em valor para os setores produtivo, financeiro e securitário de empresas listadas na bolsa.
O Inmet, inclusive, representa o Brasil junto à Organização Meteorológica Mundial e é ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Quando necessário, o Instituto emite alertas de fenômenos naturais que servem de guia à Defesa Civil de todos os estados do país.
Aliás, o grau de precisão desta ciência aplicada vem evoluindo consideravelmente nas últimas décadas. “Se nos anos 1980 o nível de acerto excelente era em torno de 70%, hoje nos preocupamos quando não conseguimos atingir pelo menos 90%. O nível de acerto de previsão de tempo até 48 horas do Inmet gira em torno de 90% a 95% de acerto”, detalha o meteorologista Mozar de Araújo Salvador.
Ajuda na lavoura
Para o andamento da lavoura, a previsão do tempo é o principal guia. Em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, por exemplo, os agricultores poderão contar com uma nova estação meteorológica. A novidade pode ajudar muito o produtor rural Ivo Bernardo da Silva, que planta hortaliças em 7 mil metros quadrados no município e já teve perda de 90% na safra atual justamente por causa das intempéries.
“Se tivermos uma informação de bastante chuva em um tempo variado de 40 dias, é possível antecipar algumas colheitas, como a alface, que é possível colher em mais ou menos 38 dias. Da mesma forma, com a previsão de muita chuva, podemos deixar de plantar outras culturas, como cenoura, beterraba e inhame porque podem apodrecer”, projeta.
Meteorologia na construção civil
O quarto episódio da terceira temporada do Agronomia Sustentável também entrevistou o engenheiro civil Thiago Furquim. Ele gerencia as tarefas de manutenção de rodovias paulistas de uma das maiores concessionárias do país e afirma que as condições do clima são um desafio à área. “Nossos trabalhos não conseguem ser executados em um período chuvoso, então hoje os coordenadores responsáveis pela dinâmica dessas atividades conferem dia a dia, hora a hora, a previsão dessas chuvas […]. Trabalhamos sempre ligados na meteorologia porque é o nosso carro-chefe”, afirma.
Nesta linha, começar uma obra de engenharia envolve planejamento e outros diversos fatores, incluindo as condições climáticas, seja para trocar o telhado ou a fachada de um prédio. O engenheiro civil Maurício Putinato afirma que o cronograma é a principal ferramenta de planejamento do profissional da área, ou seja, deve ser elaborado prevendo, também, eventos meteorológicos.
“O clima é uma das principais causas do atraso de obras. Um bom engenheiro, por exemplo, não pode planejar o início de uma obra de fundação ou terraplanagem em São Paulo no mês de janeiro [época de chuva no estado], pois será muito mais difícil”, explica.
Aviação civil
A estação meteorológica do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, opera com visão 360°. As informações apuradas no local servem de referência para as mais diferentes tomadas de decisão. Uma chuva forte, por exemplo, pode mudar o local de pouso de uma aeronave, impactando diretamente na vida de centenas de passageiros.
O chefe de meteorologia do Centro Regional de Controle do Espaço Aéreo Sudeste (CRCEA-SE), Hercules Elias Gonçalves afirma que o profissional que faz a vigilância meteorológica na estação precisa sempre estar com um olho no computador e outro no céu. “Por exemplo, se está se aproximando um sistema frontal ou um sistema local convectivo, tudo isso precisa ser verificado porque tem informações que não vão aparecer na imagem de satélite”, explica.
Saindo do céu e voltando para a terra, outra profissão importante quando se trata de clima é a agrometeorologia. O engenheiro agrônomo Felipe Pilau destaca que a meteorologia também impacta diretamente na vida das pessoas quando se trata de segurança alimentar. “Para se ter alimento, de fato, na mesa, é preciso condições para que o campo produza satisfatoriamente e isso só vai acontecer se as condições meteorológicas forem satisfatórias para a planta”, lembra.
Já o agrometeorologista Alexandre Barreto trabalha na Secretária de Agricultura de Palmas, no Tocantins, e salienta que cerca de 50% da produtividade das culturas depende do clima, um fator que o homem não tem como controlar. “Procuramos nos antecipar aos fatores climáticos para que o agricultor possa tomar a melhor decisão”, sintetiza.
A meteorologia também faz parte do rol de profissões do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), órgão que, juntamente com os Conselhos Regionais (Creas) e a Mútua, dividem parceria com o Canal Rural na realização do programa Agronomia Sustentável. A série vai ao ar todos os sábados, às 9h (horário de Brasília), com reprises aos domingos, às 7h30. O próximo episódio vai destacar o trabalho das engenharias no cooperativismo do Paraná. Não fique de fora!