O quarto episódio da segunda temporada da série Agronomia Sustentável visitou o Rio de Janeiro para conhecer os engenheiros agrônomos que atuam na área urbana. Ainda que não seja um estado com tradição agrícola, conta com produção no interior e até mesmo na capital.
Para entender a percepção das pessoas a respeito do profissional, nossa equipe foi à praia de Copacabana perguntar: “O que o engenheiro agrônomo faz?”. “Ele trabalha com terras, com agricultura, com agronegócio no campo”, respondeu a assistente social Cristina Canas.
Apesar de a resposta não estar incorreta, o trabalho desse profissional vai muito além das fazendas. Segundo o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), o número de engenheiros agrônomos ativos no estado é de 2.774. “O engenheiro agrônomo tem um leque de atribuições muito grande, podendo atuar em diversas áreas”, lembrou o coordenador da Câmara de Agronomia do Crea-RJ, Leonardo da Costa.
Embalagens de defensivos
Por falar nessa amplitude de atuação, fomos conhecer o trabalho dos engenheiros agrônomos envolvidos na logística reversa de embalagens de defensivos agrícolas. Segundo levantamento do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens (Inpev), os produtores brasileiros são os que mais retornam o invólucro aos postos de coleta. O número de reciclagem do segmento atinge 90%, transformando o projeto em um sucesso no país.
O engenheiro agrônomo Leonardo da Silva trabalha na Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento do Rio de Janeiro (Seappa) como coordenador setorial de controle de agrotóxicos. Ele vistoria o sistema de controle eletrônico do órgão, onde são avaliadas as condições da devolução em postos e nas propriedades rurais. “Nesse local, o agricultor vem e realiza a entrega dessa embalagem. De acordo com a lei federal 7802, o prazo dessa devolução é de até um ano após o uso do defensivo”, lembrou.
Um dos postos de coleta fica na baixada fluminense, onde o presidente-fundador da Associação dos Revendedores de Agrotóxicos da Região Serrana Fluminense, Carlos Amauri Dantas, formado em agronomia e há 20 anos à frente da entidade, afirma que, antes da lei, o descarte de embalagens vazias de defensivos era totalmente feito de forma errada. “Essas embalagens eram queimadas ou jogadas em leito de rios. Com esses postos de recolhimento, o produtor pode e deve devolver a embalagem vazia. É lei e tem que cumprir, fazer o papel dele”, define.
Residência profissional de agronomia
No segundo bloco da série, visitamos a segunda maior central de abastecimento de frutas e hortaliças da América Latina, a Ceasa Grande Rio. No local, encontramos engenheiros agrônomos como o João Paulo Diegues, que falou sobre o caminho da laranja do pomar até a exportação. “A laranja chega até aqui com uma qualidade que conseguimos selecionar. Para o suco, por exemplo, a fruta tem de ser de um calibre menor, porque vai para as máquinas que a espreme. Há todo um preparo, um cuidado, onde é feita essa análise da mercadoria para ela ir direto para exportação”, conta.
O engenheiro trabalha como supervisor em câmera fria em uma grande fornecedora de frutas, onde chegou por meio do programa de residência em agronomia. Assim que se formou, seu desempenho resultou em contratação. Sua área é a de agroqualidade de alimentos, trabalho de agregação de valor aos produtos que abastecem as diferentes regiões de dentro e fora do Rio de Janeiro.
“O programa abre uma perspectiva de que é possível trabalhar com agronomia dentro das cidades. O profissional consegue produzir, ter qualidade, ter contato com o fornecedor, com frutas e legumes. A faculdade proporciona esse elo com as empresas em formato de provas, entrevistas, análise de currículo”, afirma.
A engenheira agrônoma Angélica Laurindo está fazendo um caminho bem parecido. Ela diz que quando fala sobre o curso em que se formou, as pessoas estranham. “Dizem que o Rio de Janeiro não produz, mas o interior do estado conta com áreas de produção. Hoje em dia a área dos orgânicos também está expandindo e é uma agricultura que tem viabilidade de ser praticada em áreas menores. A engenharia agronômica é muito ampla, são mais de 70 áreas em que se pode atuar. Isso pesou bastante na minha escolha”, diz.
Modelo de sucesso
O programa de residência em agronomia é baseado em um modelo francês e vem dando certo na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) há mais de 20 anos, sendo um elo entre os alunos recém-formados e o mercado de trabalho. O coordenador do Programa de Residência da instituição, Eduardo Lima, destaca que o programa é mais uma oportunidade de a universidade desenvolver aquilo pelo qual ela é destinada, ou seja, ser a grande formadora de recursos humanos para a sociedade brasileira.
“O órgão que recebe o residente, seja público, privado, uma cooperativa ou associação de produtores, ganha um diferencial extremamente importante: conhecer o profissional antes de efetivá-lo. A residência dá uma experiência profissional comprovada para esse novo engenheiro, o que é um requisito em qualquer empresa”, salienta.
O campus de quase 3.500 hectares e mais de 3.000 alunos alojados de todo o Brasil tornam a UFRRJ a maior universidade da América Latina. Fundada em 1910, está situada em Seropédica, há pouco mais de 50 quilômetros da capital e, não por acaso, próxima da Embrapa Agrobiologia. A universidade nasceu movida pela agronomia, uma profissão relacionada a tantas outras carreiras.
“Acredito que a profissão de engenheiro agrônomo é uma das mais ecléticas. Tanto isso é verdade que várias das profissões atuais foram derivadas do curso de agronomia, como as engenharias agrícola, de alimentos, florestal e parte da zootecnia também. O mais interessante é que o engenheiro agrônomo continua aprendendo todas essas áreas em seu curso. Não consigo enxergar o Brasil sendo a potência de produção de alimentos que é hoje sem a presença maciça do trabalho que é desenvolvido pelo engenheiro agrônomo”, enfatiza Lima.
A série Agronomia Sustentável é uma parceria do Canal Rural com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), os Conselhos Regionais (Creas) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). No próximo episódio, o programa visita as cidades de Boa Vista (Roraima) e Macapá (Amapá) para mostrar a inserção do engenheiro agrônomo na educação.