Como funciona o manejo florestal em um estado que se destaca como um dos principais responsáveis pelo desmatamento no país? O nono episódio da segunda temporada da série Agronomia Sustentável foi até Belém, no Pará, para descobrir isso.
Por lá, os profissionais da engenharia trabalham firmemente para preservar a fauna e a flora. Segundo os dados do sistema integrado de monitoramento e licenciamento ambiental do Pará, em 2019 foram autorizados 103 mil hectares para execução do manejo florestal sustentável, o que resultou em mais de 2,5 milhões de metros cúbicos em volume de madeira em tora. Já em 2020, a área autorizada foi inferior e resultou em 81 mil hectares autorizados.
A prática de manejo florestal sustentável visa administrar a floresta para obter benefícios econômicos, sociais e ambientais, mas respeitando o mecanismo do ecossistema. Segundo o engenheiro florestal Rodrigo Pereira Júnior, a técnica é o uso consciente da floresta sem destrui-la. “Você faz uso do potencial da floresta, de produtos madeireiros, não madeireiros, do serviço da floresta, mas a floresta se mantém como floresta. Você tira a madeira, extrai uma árvore, mas ficam dez, 20 árvores em pé”, explica.
Em Belém, o profissional acompanha de perto todas as mudanças da legislação que impactam diretamente o setor. “O código florestal foi um avanço não só para a questão florestal, mas para toda a questão ambiental. Diria, até, que ajudou bastante na questão de regularização fundiária na Amazônia”, considera.
Capacitação florestal e manejo
Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Brasil é o segundo maior em área de florestas do mundo. Para ensinar a como manejar todo esse potencial verde, o primeiro curso de graduação na área florestal surgiu em 1960. Nas últimas décadas, o curso passou por algumas evoluções. “O engenheiro florestal é primordial no licenciamento ambiental e na utilização dos recursos florestais de forma sustentável. São diversas atribuições ligadas ao engenheiro florestal, desde o licenciamento ambiental, a silvicultura, que é o próprio manejo florestal, geotecnologia e reflorestamento”, destaca Jéssica Tavares, presidente da Associação Profissional do Engenheiros Florestais do Pará (Apef).
“A associação tem diversos profissionais elencados que atuam no manejo florestal sustentável individualizado ou empresarial. Temos as capacitações internas com os profissionais, para que eles tenham uma qualificação continuada dentro das geotecnologias, que é uma das bases do manejo florestal. Temos o sistema Sisflora, muito utilizado pelo licenciamento ambiental no estado. O manejo florestal é o carro-chefe da atividade florestal aqui!”, assegura Jéssica.
Belém tem 300 hectares de floresta protegida e o bosque Rodrigues Alves é um bom exemplo disso, com mais de 140 anos. “Hoje, o bosque apresenta um serviço de ecossistema muito importante para a população de Belém, conseguindo fazer a regulação climática de nossa cidade”, frisa o engenheiro florestal Alexandre Mesquita.
Segundo ele, preservar áreas florestais dentro de uma região urbana, onde a pressão imobiliária é muito grande, é motivo de orgulho.
Manejo florestal em Macapá
A prática do manejo florestal na capital do Amapá, Macapá, ainda é incipiente em comparação à realizada em outras regiões do país. Para melhorar este cenário, a tecnologia vem sendo um aliado muito importante.
Prova disso é que o engenheiro florestal e pesquisador da Embrapa, José Francisco Pereira, investiu no desenvolvimento de um software chamado Bom Manejo, disponível no site da entidade. A ferramenta recebe e organiza todas as informações que recebe sobre as florestas, gera relatórios e os remete aos órgãos ambientais, que analisam as medidas a serem tomadas.
“Quando se tem uma ferramenta que ajuda a melhorar o planejamento do manejo florestal, se está ajudando na conservação da floresta”, resume.
Exploração da madeira
O programa também ressaltou que as exportações de madeira e subprodutos foi responsável por 38,5% do valor exportado pelo setor do agronegócio entre janeiro e agosto de 2021, com registro de recorde histórico nas vendas externas (US$ 3,44 bilhões), de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Além de utilizar a floresta de maneira produtiva, sem descaracterizá-la, o manejo florestal sustentável também gera microeconomia. Segundo o engenheiro florestal Marcos Dantas de Almeida, os municípios inseridos na localidade das florestas são os maiores beneficiários. “As empresas e fábricas se instalam nessas áreas e passam a absorver mão de obra local”, conta. “Grande parte do recurso obtido serve para os municípios e estados darem suporte ao monitoramento da floresta e compra de equipamentos, fazendo com que o estado passe a se estruturar para manter as florestas, fazer o monitoramento e, anualmente, fazer as concessões florestais”, conta.
Almeida realiza o monitoramento remoto das concessões florestais, utilizando o apoio da geociência para trabalhar em áreas de até 150 mil hectares. Segundo ele, os diversos modelos de monitoramento utilizados são bastante eficazes e usados juntamente com plataformas de processamento em nuvem. “É possível enxergar, inclusive, as infraestruturas de estradas principais, secundárias, trilhas de arraste e, o mais importante, ficamos aptos a perceber de forma muito rápida se nessas áreas existe ilícitos ou possibilidades, como invasões próximas ou agentes externos retirando madeira de áreas proibidas, além de focos de calor“.
Sistema amazônico
O sistema de manejo florestal utilizado na Amazônia é policíclico, baseado em ciclos de corte de 25 a 35 anos. Na prática, apenas de quatro a cinco árvores por hectare são derrubadas utilizando técnicas de impacto reduzido, visando a proteção do solo e a qualidade da floresta remanescente.
“Se não fosse o manejo florestal, a floresta estaria em uma situação bem difícil porque, com essa técnica, é possível garantir o uso econômico da floresta, mantendo-a com todas as suas características, respeitando todos os ciclos, as técnicas de corte, todo o processo de extração que é todo regulamentado. Então damos condições para que a floresta continue sendo sempre floresta. Se não fosse o manejo, se ainda tivéssemos floresta, elas estariam muito degradadas”, considera Almeida.
O projeto Agronomia Sustentável é uma parceria do Canal Rural com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), os Conselhos Regionais (Creas) e Organização das Cooperativas Brasileiras. O programa vai ao ar aos sábados, às 9h, com reprise aos domingos, às 7h30. No próximo episódio, a série viaja para Recife para falar de agricultura familiar.