O verão é a estação que concentra a maior produção de grãos do país. É justamente por isso que as atenções ficam muito voltadas ao retorno do período úmido, durante a primavera, para sabermos se o tempo vai colaborar ou não com a instalação da safra 2020/2021. O que define um ano mais ou menos chuvoso está, em parte, associado ao comportamento do oceano Pacífico equatorial, ou seja, a instalação dos fenômenos El Niño ou La Niña.
Desde maio de 2020, o oceano Pacífico equatorial começou uma fase fria. Ou seja, a temperatura superficial do oceano passou a apresentar desvios negativos em relação à média do respectivo período. Esta condição, mesmo sem a configuração completa de um La Niña, já vem trazendo impactos neste inverno e semelhante deve acontecer com a primavera e verão.
Estamos com um inverno que deve terminar com chuva abaixo da média no Centro-Sul. Em algumas áreas do Centro-Oeste e Sudeste há também uma irregularidade no início da estação chuvosa. As chuvas não devem ser muito volumosas assim que acabar o vazio sanitário e começar a primavera, em setembro.
Existem algumas cidades de Mato Grosso que só apresentam expectativa de chuvas mais frequentes e volumosas no fim de outubro e, mesmo sem ser La Niña, esta é uma das características de um oceano Pacífico com águas mais frias: a irregularidade do início do regime chuvoso para a instalação da safra de verão entre trechos do Sudeste e Centro-Oeste.
“Até podemos ter algumas pancadas de chuva retornando em setembro em algumas áreas, mas a regularização é mais tardia”, afirma o climatologista Paulo Etchichury, da Somar Meteorologia. De qualquer maneira, o cenário para o plantio da lavoura de soja se mostra favorável, no geral, já que as pancadas vão retornar gradualmente, ganhando força entre outubro e novembro, sem grandes atrasos.
A cidade de Primavera do Leste, em Mato Grosso, que tem uma boa representatividade agrícola, tem previsão de chuva abaixo da média em setembro e outubro, com as pancadas se consolidando mais apenas no fim de outubro.
Sul
Para o Sul do Brasil, a condição do próximo verão traz riscos de estiagem regionalizada. A última safra no Rio Grande do Sul já foi um período de muita irregularidade. As chuvas retornaram em maio, mas com volumes muito elevados e pontuais.
São Borja teve um março com chuva 82% abaixo da média e a mesma situação se repetiu em abril, com os volumes mais elevados voltando apenas no mês de maio. No entanto, os 140 milímetros registrados em maio, em São Borja, foram distribuídos em apenas três episódios de chuva, o que não é considerado o ideal.
Nordeste
No Nordeste, por outro lado, a expectativa é de um verão com precipitações favoráveis para a instalação da lavoura no Matopiba, região que inclui áreas dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, a exemplo do que já aconteceu na última safra.
Segundo o climatologista, é bem provável que a fase fria do oceano deva continuar ao longo do segundo semestre de 2020. Os modelos mostram que a fase fria começa a perder intensidade a partir de dezembro. “A fase fria não deve avançar ou evoluir em 2021”, diz Paulo. Mesmo assim, o cenário para os meses de verão, incluindo o ciclo das lavouras, deve ser sob um cenário de transição e ou neutralidade, mas ainda com viés de uma fase fria.
Para o decorrer do segundo semestre, a NOAA, o serviço oficial de clima do governo dos Estados Unidos, afirma que há iguais chances de manutenção de neutralidade e desenvolvimento de um La Niña. A questão está na temperatura do Pacífico profundo.
Apesar de uma grande área com águas mais frias que o normal no centro e leste do oceano, a porção oeste está um pouco mais quente que o normal. Então, há dúvidas de que o resfriamento superficial seja duradouro suficiente para o surgimento de um La Niña. De qualquer forma, previsões mais estendidas indicam um trimestre outubro-novembro-dezembro mais chuvoso que o normal no centro e norte do Brasil.
São Paulo, Mato Grosso do Sul e toda a região Sul devem receber precipitação inferior ao normal, algo coerente com a presença de um Pacífico frio. Isto quer dizer que mesmo que não tenhamos um La Niña formado, a atmosfera continuará respondendo ao resfriamento do oceano. “É claro que o padrão de chuva abaixo da média não será persistente. Observaremos, na realidade, meses secos alternados com meses mais chuvosos no Sul. Mas os períodos chuvosos não serão intensos suficiente para gerar acumulados próximos da média histórica”, diz Paulo. Além de tudo, para o verão será caracterizado por temperatura acima da média em todo o Brasil com maiores desvios na região Sul.
Para os meses de janeiro e fevereiro, o risco de períodos chuvosos, chamados de invernadas na parte central do Brasil, é baixo. Portanto, a fase final da próxima safra de verão não deve encontrar muitos problemas na hora hora da colheita.